Quarto do Joshua

Levantei-me do sofá e fui até ao quarto sem dizer nada. Ela é esperta, por isso entendeu e veio atrás de mim. Deixei que ela entrasse e depois olhei em redor. — Eu até agora não vi nada de especial, nada sobre isso ou que me fizesse lembrar de mais alguma coisa a esse respeito. Tive algumas memórias mas nada sobre isso. — Encolhi os ombros e tirei as gavetas das mesas de cabeceira e coloquei-as sobre a cama. — Assim é mais fácil.

Ri-me também. — Isso não me serve, não. Até te dizia porque é que guardo isso aí, se eu me lembrasse. — Encolhi os ombros e virei-me, abrindo depois as portas do armário. — Aqui acho que só tem roupa... — Afirmei, tacteando a madeira até encontrar uma caixa. Tirei-a para fora e abri-a. Parecia ser algo importante naquele momento, mais para mim que para ela, claro. Tinha imensas fotografias, por isso sentei-me no chão e comecei a vê-las.

— Olha — Comecei por dizer, levantando-me com as fotografias na mão — É o Isles! — Afirmei, apontando para a fotografia — Eu acho que isto foi no dia do acidente — Afirmei, continuando a ver as fotografias. Subitamente, percebi qual era o papel do Dr. Isles na minha vida. Suspirei e mordisquei o lábio. Voltei a pegar na caixa e vasculhei-a, encontrando fotos num envelope. Olhei para Cinder e suspirei, tentando escondê-las depois de espreitar e ver o que era. — Não há aqui nada. — Acabei por dizer, arrumando tudo de novo.

— Não interessa — disse apressadamente, arrumando tudo como estava. — Lamento mas as respostas que tu procuras não estão aqui. E mesmo que estivessem, de certeza que não me competia a mim dá-las — Falei bem a sério, olhando-a nos olhos. Para bom entendedor, meia palavra basta. Não precisei de fechar os olhos. Estou, aos poucos, a lembrar-me das coisas. E neste momento está tudo a aparecer muito depressa, por isso é melhor ir com calma. Prefiro não dizer nada à stressadinha, é melhor assim. Pelo bem da minha sanidade mental. — O melhor é ires embora.

Agarrei-lhe na mão depois de me bater, mantendo-a atrás das suas costas, e empurrei-a contra o armário. — E vais dizer o quê à polícia? E com que provas, Cinder? — Revirei os olhos e suspirei. — Não achas que, se a polícia estivesse do teu lado, já não estava tudo resolvido? Se a polícia estivesse do teu lado tu não tinhas dúvidas. Se calhar nem tinhas perdido ninguém. 

— Tu estavas desmaiada quando eu cheguei mas a tua mãe... — Suspirei e sentei-me na cama, no espaço livre. Fechei os olhos e cocei a testa, pensando duas vezes antes de falar. — Ela pediu-me para te salvar a ti. Foi a última coisa que ela disse. Então eu tirei-te de lá e fiz o melhor que pude, pelo menos até à ambulância chegar. — Voltei a revirar os olhos e ri-me. — Se a polícia nunca te deu respostas, não achas que há algum motivo? É só somares 2 + 2, Cinder.

— Foda-se... Olha, Cinder, é assim. Eu estou a dizer-te as coisas como elas são. Tanto queres respostas como de repente voltas à santa ignorância do "não é assim, estás a mentir, não quero saber" bla bla ba. Decide-te, mulher. Sofreste? Não és a única. Pára de te fazeres de vítima e encara o touro pelos cornos. Ou sim, ou sopas. Eu dei-te respostas que nem devia. Se não queres, põe-te a andar daqui para fora. — Resmunguei, bem sério.

— Se eu mal sei o que quer que seja sobre a minha vida, tu sabes ainda menos. E de certeza que não és a pessoa que mais sofreu no mundo. — Revirei os olhos. — Não, és a princesinha mimada que subitamente perdeu a família e que agora se faz de forte e difícil a toda a hora mas na verdade por dentro continua a ser a princesinha frágil — Suspirei. — Já te decidiste? Tenho mais que fazer, Cinder.

Revirei os olhos, pela milésima vez. — Lá por eu ter uma casa assim não significa que eu seja um mimado de primeira e que seja rico ou que tenha tudo o que quero. E é exatamente aí que eu quero chegar. Nem tu nem eu sabemos nada de coisa nenhuma, portanto é estúpido estarmos com este tipo de picardias quando não nos conhecemos um ao outro. E eu mal me conheço a mim. — Suspirei e voltei a aproximar-me dela. Se calhar até demais... Sem querer. — Já estás mais calma?