Universidade

- Não te preocupes, Walker, só tenho capacidade mental para aturar um gémeo.- gozei, face à provocação sobre o seu irmão e assim que falou em marcar, lembrei-me instantaneamente do gesto que tinha feito. Era mesmo para mim.- acho que uma marcação por jogo é o mínimo que podes fazer.- encolhi os ombros, com um sorrisinho maroto e assenti logo de seguida à sua pergunta.- sim, eu fico aqui.- respondi, apontando com o queixo para as bancadas.- vai lá tomar o teu banho, princesa.

Enquanto esperava por Noah dei por mim a observar o espaço onde outrora os jogadores corriam e gritavam uns pelos outros. Era impressionante como agora o campo me parecia mil vezes maior agora que se encontrava vazio. Vazio e silencioso, mas sem vida. Soltei uma leve gargalhada face aos meus pensamentos aleatórios, mas rapidamente olhei em volta, para me certificar de que estava mesmo sozinha. E foi mesmo a tempo porque segundos depois já os gémeos estavam de volta. Sorri para Noah, ainda no mesmo sítio, e assim que ele se aproximou eu levantei-me, numa tentativa inútil de ficar à sua altura. Mordisquei a parte de dentro da bochecha ao ouvir a sua pergunta, mas antes que tivesse tempo para mudar de ideias, assenti.
- Quero pois.- não queria assim tanto, mas queria estar com ele.- quero ter a experiência completa deste dia de jogo emocionante.- brinquei.

Pouco tempo demorou até que saíssemos do campo e começássemos a dirigir-nos até ao local onde a festa já estava a acontecer. Eu não odiava por completo aqueles ambientes. Gostava de me divertir, era certo, mas o meu grande problema era mesmo não conhecer ninguém e sentir-me completamente deslocada. Pelo menos agora tinha Noah...e Ethan. Quer dizer, não me parecia que ele já pudesse fazer parte da minha pequena lista de amigos. Saí do carro assim que Noah estacionou e encaminhámo-nos depois para a casa de Sam, o amigo das festas. Música alta, berros, pessoas já tocadas era o cenário. Eu só não percebia como é que já estavam naquele ponto se ainda agora o jogo tinha acabado. Fiz uma pequena careta, quando começamos a ser cumprimentados com berros e empurrões e estávamos já dentro de casa quando Chloe se aproximou de Noah, dizendo que alguém esperava por ele. Cumprimentei-a com um pequeno sorriso e assim que me atrevi a seguir o olhar de Noah, o meu coração disparou. Era o mesmo rapaz da bancada.
- Vais ter com ele? - dei por mim a perguntar.- eu posso ir dar uma volta.- encolhi os ombros, sem saber muito bem o que fazer. Eu só não percebia o que é que se estava a passar e quem era aquela pessoa.

Havia uma parte de mim que esperava que Noah negasse a minha pergunta e ficasse ali comigo. Mas bastou olhar para a sua expressão para perceber que isso não ia acontecer. Engoli em seco, ao sentir os seus lábios quentes na minha pele e limitei-me a assentir a tudo o que me disse, ficando estática, no mesmo sítio, durante alguns segundos.
- Credo, parece que morreu alguém.- ouvi a voz de Chloe, sentindo logo de seguida um copo gelado vir parar-me às mãos.- toma, bebe isto, estás com cara de quem está a precisar.- ela riu, começando a dançar à minha frente. Mas porque raio é que ele tinha ido ter com aquele gajo? Mais, quem é que era aquele gajo que tinha tido a lata de lhe tocar...daquela forma? Senti os meus maxilares cerrarem, ao mesmo tempo que um calor me subia até às bochechas e numa tentativa de travar essa sensação bebi o líquido que estava no meu copo de rajada, deixando-me cair sobre o sofá que estava atrás de nós. E só aí é que reparei que Ethan ainda estava no mesmo sítio, de punhos cerrados.
- Ei.- toquei com o meu pé na sua perna para que me olhasse.- vamos buscar-te uma bebida.- acabei por dizer, levantando-me.- não vale a pena ficares aí especado.- encolhi os ombros.

Como já seria de esperar, a minha tentativa para controlar Ethan saiu completamente ao lado. Não só ele nem sequer se deu ao trabalho de me responder como, de um momento para o outro, já estava a andar em direção ao exterior.
- Ethan, espera! - resmunguei, mas em vão, começando a andar atrás dele até à zona da piscina. E para ser sincera não sabia se teria sido preferível ter ficado dentro de casa, porque mal saí e o meu olhar acompanhou o de Ethan vi Noah encostado a uma parede, com o outro gajo-que-eu-continuava-a-não-saber-quem-era demasiado perto dele. Engoli em seco, sentindo as minhas mãos fecharem-se em punho de forma automática e tive de me conter para não sair do sítio. Quanto mais olhava para Noah mais percebia que ele não estava confortável ali. Mas se não estava confortável, porque é que não se ia embora? Quanto mais tentava perceber, menos percebia. E para ser sincera isso estava a deixar-me realmente incomodada. Porque é que eu tinha vindo a esta merda de festa?

Que Noah estava descontente com toda aquela situação era mais do que óbvio. Nem sequer era preciso ouvir a conversa para ter noção disso. Mas que entre eles se passava mais do que uma conversa também era fácil de perceber. De qualquer das formas, ia resumir-me à minha insignificância e não fazer as perguntas que tanto queria fazer, mesmo que isso pusesse em causa a minha sanidade mental. Por isso, assim que Noah pôs fim ao assunto, eu forcei-me a aproximar dele e do irmão. Tu consegues, Kaylee.
- Estás bem?

- Não tens de te preocupar comigo.- apressei-me a dizer assim que ouvi Noah desculpar-se.- está tudo bem.- assegurei, forçando um leve sorriso que claramente não foi retribuído. Encaminhei-me para o interior juntamente com eles, ainda a questionar-me mentalmente se devia sequer continuar a estar ali, mas rapidamente os meus pensamentos se dissiparam quando a voz de Noah se fez ouvir novamente.- não seja por isso.- olhei-o, esticando o braço até conseguir agarrar-lhe no braço.- dá-me a honra de bebermos um copo, sr Walker? - voltei a sorrir, mas desta vez sem qualquer tipo de esforço.- ou dez.- completei e antes que ele tivesse sequer tempo de responder já eu o estava a puxar até à zona das bebidas.

Felizmente Noah não rejeitou a minha sugestão e rapidamente nos encaminhei até ao bar improvisado em casa de Sam. Larguei-lhe o braço para que pudesse servisse do que quisesse e ia comentar a sua escolha arrojada quando aquele gajo voltou a aparecer no meu campo de visão.
- Lembras-te de ter dito que hoje estava com vontade de matar alguém? - rosnei.- ainda se mantém.- resmunguei, juntamente com um revirar de olhos e depois de ouvir Noah, estiquei-me até uma garrafa de vodka antes de começarmos a sair dali. Estavam mesmo a testar a minha paciência.

Tu dizes isso e não sabes da história. Agora imagina quem a sabe. Aqui estava a deixa perfeita para matar a minha curiosidade, mas mesmo assim não o fiz. Tinha prometido que não ia voltar a meter-me na vida de Noah. Tinha-o feito uma vez e as coisas quase deram para o torto, por isso não ia repeti-lo. Por isso, limitei-me a retribuir o seu sorriso e a segui-lo casa fora até chegarmos a uma clareira que me era desconhecida. Sentei-me perto de um tronco, enquanto todos conversavam e acabei por me servir. Já que eu era a única que não estava dentro do assunto, ao menos conseguia entreter-me com alguma coisa. Beberiquei da minha bebida enquanto os ouvia e assim que Noah se sentou ao meu lado, olhei-o.
- Prefiro nem te perguntar como é que o descobriste.- brinquei.

Ao ouvir a história foi-me impossível não rir. Sempre que imaginava as aventuras daqueles dois ficava difícil não o fazer.
- Afinal não foi tão grave como aquilo que eu achei.- gargalhei, dando mais um gole na minha bebida e recostei-me depois contra o tronco que eu e Noah dividíamos.- pelo menos não apanhaste o teu irmão a fazer coisas que ninguém merece ver.

E pronto. Mais uma vez ali estava eu a arrepender-me das coisas eu eu deixava que me saíssem boca fora. Não propriamente por causa das palavras em si, mas pelas respostas que eu depois não gostava de ouvir. Revirei os olhos interiormente, ao ouvir a resposta de Chloe, mas esforcei-me por ignorar, esticando-me até alcançar a garrafa para encher o meu copo já vazio.
- Okay, eu agradeço a vossa boa vontade.- olhei-os com uma careta.- mas eu realmente não preciso dessas informações na minha vida.- resmunguei.- vivo bem na minha ignorância.