Sydney Harbour National Park

Noah tinha realmente muito jeito para pintar. Desde que me sentara no seu sofá que não conseguia tirar os olhos de um dos seus quadros que estava exposto em cima da lareira. Bem, pelo menos assim conseguia calar as mil e uma perguntas que tinha na minha cabeça. Aliás, o que é que eu tinha a ver com isso? Exato. Nada.
Despertei dos meus pensamentos assim que senti um movimento no sofá e, assim que os meus sentidos despertaram, percebi que era Noah.
- Já vasculhei a sala, confesso.- brinquei, respondendo à sua pergunta.- mas acho que o meu favorito é mesmo este.- sorri-lhe, apontando com o queixo para o quadro para onde estava a olhar antes de Noah chegar.- tens demasiado jeito para isto estar só na sala de tua casa, Walker.

Observei-a a olhar ao nosso redor quando respondeu à minha questão.
- Penso que esse foi um preferido também. Daí estar onde está. - admiti, deixando a cabeça cair nas costas do sofá, encarando o teto. - Obrigado. - olhei-a, sem levantar a cabeça. - Mas acho que, por agora, é mesmo onde vão ficar. - fiz uma careta.

Soltei uma pequena gargalhada face à sua observação e dei por mim a assentir, concordando mentalmente. Quem me dera a mim que os meus pais me apoiassem desta forma.
- Como assim acabei de te elogiar e tu não me atiraste isso à cara, Walker? - olhei-o, com um ar exageradamente surpreendido, mas logo os revirei de seguida quando ouvi o que disse.- és mesmo chato, sabias? - resmunguei, dado-lhe uma leve chapadinha na testa.- mas pronto, eu percebo, nem todos podemos ser incríveis como eu.- brinquei, acabando por encostar a cabeça ao sofá, tal como ele.

Semicerrei os olhos na sua direção.
- Preferes que me arme em convencido? - brinquei com ela.
Fechei os olhos, sorrindo ao ouvir as gargalhadas de Charlie na outra divisão.
- Nunca estarei cem porcento satisfeito com o meu trabalho para fazer algo como tu. - admiti com um encolher de ombros.

Virei a cara para o olhar, ao ouvir a sua pergunta e semicerrei-lhe os olhos também.
- Não.- respondi.- prefiro que estejas caladinho.- gargalhei. Levantei ligeiramente a cabeça ao ouvir umas gargalhadas de um bebé, e bastou-me olhar para o sorriso de Noah para perceber que se tratava da sua irmã. Eles eram realmente adoráveis.
Olhei-o novamente, recostando-me.
- Eu acho que devemos ser exigentes.- comecei, com um encolher de ombros.- mas se formos demais, vamos acabar por ficar demasiado presos nisso e não fazer nada.- olhei-o, tocando-lhe com o dedo na ponta do seu nariz.- os meus trabalhos não eram assim tão bons como tu pensas e eu arrisquei na mesma.- voltei a encolher os ombros.- o que importa é arriscar, Noah.- sorri-lhe.- há muito tempo para se ir melhorando depois.

Dei-lhe um pequeno encontrão.
- Eu sei uma forma de me calares. - provoquei-a num tom de voz baixo, com um sorrisinho atrevido nos lábios.
Encarei-a, ouvindo as suas palavras.
- Um dia, pode ser que decida arriscar em relação a isso. - acabei por concordar. - E haverá sempre como melhorar.

Levantei as sobrancelhas assim que ouvi a sua provocação.
- Andas muito saidinho da casca, Walker.- atirei, retribuindo o encontrão.- qualquer dia começo a levar a sério essas coisas que dizes e depois olha.- semicerrei-lhe os olhos, ao mesmo tempo que contemplava o seu sorrisinho. Abanei a cabeça, como se o estivesse a repreender, e acabei por deixá-la cair no seu ombro.- finalmente me dás ouvidos.- brinquei, levantando a cabeça para lhe dirigir um sorriso.- mas acho que fazes muito bem.- assenti, como que a reforçar as minhas palavras.- tenho a certeza de que as pessoas vão adorar os teus trabalhos. - murmurei.- és irritante, mas tens jeito para a coisa.

Ri-me ao ouvir as suas palavras.
- Achas que essas tuas ameaças de levar a sério me assustam? - provoquei-a, divertido. 
Observei-a a abanar a cabeça e depois pousar a mesma no meu ombro.
- Tu queres tanto beijar-me. - continuei num tom de provocação, mas um pouco mais baixo. - Estás caidinha, Oswald. - brinquei.
Voltei a encarar o teto e, depois, fechei os olhos.
- Eu sou irritante, mas aqui estás tu, não é? - ri-me. - Mas obrigado.
Ouvi os passos despachados de Charlie, que logo saltou para as minhas pernas quando alcançou o sofá. Endireitei-me para a agarrar e sentei-a no meu colo.
- Cores. - gritou, animada, levantando uma bandeirinha. Provavelmente estava na cozinha e a minha mãe tinha-lhe dado.
- Muitas cores. - concordei com ela, tocando-lhe na ponta do nariz com o indicador. - Vai dar isso à mãe para irmos embora, princesa. Senão vamos chegar atrasados.
Charlie fez beicinho quando voltei a colocá-la no chão, mas logo acabou por ir ter com a nossa mãe outra vez.
- Vamos lá. - disse, levantando-me, e estendi a mão para Kaylee para a ajudar.

Levantei uma sobrancelha ao ouvir as suas palavras, mas nem por isso tirei a cabeça do seu ombro. Eu não estava caídinha. Estava interessada, era certo, mas não passava disso...pois não? Mordi o meu lábio inferior de uma forma distraída, mas como não queria dar parte fraca, apressei-me a responder-lhe.
- Se bem te lembras, ainda ontem te beijei.- encolhi os ombros, sem contudo o encarar.- por isso, se eu quisesse assim tanto beijar-te, acho que não teria problemas em fazê-lo novamente.- piquei-o, sendo logo interrompida pela sua irmã, que apareceu à nossa frente e se sentou no seu colo.
- Olá pequenina.- saudei, tocando com um dedo na sua bochechinha, mas o meu olhar rapidamente captou a bandeira que ela trazia na mão. Outra bandeira... Mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, ao mesmo tempo que me endireitava no sofá, e fiz um esforço gigante para não tecer qualquer tipo de comentário ou pergunta. Fiquei apenas a olhar para os dois, distraindo-me com a sua cumplicidade e quando Charlie se foi embora, percebi que estava na hora de irmos. E de eu parar de pensar em coisas que não me diziam respeito. Agarrei na minha mala, colocando-o ao ombro e olhei depois para a mão que Noah estendia na minha direção.- não consigo perceber se és realmente um cavalheiro ou se isso é só uma desculpa para me tocares.- pisquei-lhe o olho, agarrando na sua mão e aproveitei a ajuda para me levantar.

Revirei os olhos, divertido, ao escutar as suas palavras.
- Mas não parece que tenhas ficado muito satisfeita. Já não é a primeira vez que te apanho a olhar para a minha boca. - continuei no mesmo tom de provocação e divertimento. Podia parecer que estava a ser convencido, mas era a verdade. Era isso que estava a tornar aquilo tão engraçado. - Mas eu prometo que não vou contar a ninguém que não me resistes. - pisquei-lhe o olho.
Quando Kaylee ficou de pé, encolhi os ombros com as suas palavras e larguei a sua mão.
- Fui educado para ser um cavalheiro. - justifiquei com um sorriso inocente e peguei na mochila de Charlie.
Conduzi Kaylee até à cozinha, para poder despedir-me da minha mãe.
- Tira muitas fotografias. - ouvi a minha mãe pedir-me, quando ela me agarrou nas bochechas, com uma mão de cada lado, e me fez olhá-la nos olhos. - E quero vídeos. Muitos deles. - sorriu. - Promete-me.
Assenti, sorrindo de forma estranha, já que ela estava a apertar-me a cara. Agarrei nos seus pulsos e afastei-a com cuidado.
- Volto daqui a pouco para deixar a Charlie. - disse, beijando a sua testa.

- Eu não olho para a tua boca! - quase guinchei, sentindo as minhas bochechas aquecerem logo de seguida, mas logo revirei os olhos, dando-lhe um leve murrinho no peito.- precisas de ser menos convencido, Walker.- resmunguei apenas, deixando aquela conversa por ali e segui-o depois até à cozinha, onde já lá estava a sua mãe. Soltei uma pequena gargalhada assim que a vi agarrar-se às bochechas de Noah, mas não consegui não achar aquilo demasiado adorável.- não se preocupe.- atrevi-me a dizer.- eu asseguro-me de que ele cumpre a promessa.- prometi, com um sorriso, e assim que Noah se afastou da mãe, aproveitei também para me despedir.

Ri-me com a sua convicção.
- Claro que não. Nunca olhas. - provoquei-a com um piscar de olhos e um sorriso nos lábios.
A minha mãe sorriu para Kaylee quando a ouviu dizer que se ia assegurar que eu cumpria a minha promessa.
- Muito obrigada, querida. - cumprimentou-a. - Pelo menos que vá alguém com juízo acompanhar os meus pestes. - provocou e depois cumprimentou Kaylee também, em jeito de despedida. - Foi um gosto conhecer-te. Desculpa a minha ausência. O Liam torna-se num monstrinho quando está doente. - esboçou um pequeno sorriso culpado.
Revirei os olhos.
- Nem te vou responder, mãe. E coitado do miúdo. Já viste como falas dos teus próprios filhos?! - fiz-lhe uma careta, rindo-me, e peguei em Charlie ao colo. - Até logo.
Saímos os três de casa dos meus pais e passei pela garagem para pegar na cadeirinha da minha irmã. Depois de a prender com o cinto, virei-me para Kaylee.
- É algo rápido. - prometi-lhe, enquanto entravamos no carro. - O Ethan já deve lá estar, então os nossos lugares já estão guardados de certezinha. - sorri-lhe.
Passamos aquele quarto de hora a falar, ouvindo Charlie a cantarolar e a pressionar os botões do brinquedo que tinha decidido trazer com ela. Quando chegamos ao centro onde o espetáculo se iria realizar, estacionei numa boa vaga, perto da entrada, e fui pegar na pequenita, colocando-a aos meus ombros, o que a deixou animadíssima. Rapidamente entramos, depois de ter dado o meu nome e ter assegurado que Kaylee estava comigo e que, sim, já tinha entrado alguém muito idêntico a mim. Já me habituara aquele procedimento e era engraçado as pessoas nunca pensarem que poderiam existir irmãos gémeos.
- Anda. - agarrei no pulso de Kaylee com cuidado, conduzindo-a por entre os inúmeros pais e amigos que estavam ali para ver as crianças. - Normalmente, os espetáculos são todos aqui. - expliquei calmamente, enquanto íamos passando pelas pessoas. Fui fazendo breves acenos como jeito de cumprimento a pessoas que conhecia. - Hoje é a escola de dança, onde esta peste anda. São crianças muito pequeninas, então prepara-te para veres movimentos fora de série. - brinquei, quando finalmente chegamos à porta dos bastidores. Cumprimentei o segurança que, por acaso, já conhecia há anos, e entramos na ampla divisão, onde já estavam inúmeras crianças.
- Chegou o Walker! - ouvi uma voz feminina a gritar, em jeito de informação. Logo depois Beatrice, a professora, estava a vir na minha direção, sorridente. - Olá. - cumprimentou Kaylee depois de se colocar em bicos de pés para me beijar a bochecha e depois apertar o nariz de Charlie. - Sou a Beatrice. - voltou a virar-se para mim uns segundos depois. - Precisamos de ti urgentemente. O Ethan está a montar um cenário lá à frente e precisa de ajuda com algumas coisas. Estavamos à tua espera.
Assenti e virei-me para Kaylee.
- Podes ficar aqui com a Charlie? - questionei-a, pegando na minha irmã. - São uns minutos. - sorri-lhe.
Depois de ela assentir e Beatrice já se ter afastado, passei Charlie para o seu colo e dei um beijo rápido nos lábios de Kaylee. Afastei-me com um sorriso provocador.
- Para continuares a sonhar acordada com mais e melhor. - brinquei com ela e afastei-me, cumprimentando as diferentes pessoas e distribuindo high fives pelas crianças, antes de me afastar para o palco, onde ajudei Ethan com as montagens.

Soltei uma pequena gargalhada face às palavras da sua mãe e retribuí o seu beijinho.
- Não se preocupe.- apressei-me a descansá-la.- eu percebo que não seja fácil aturar 4 pestes.- brinquei, olhando por cima do ombro para Noah e depois de todos nos termos despedido, segui-o até ao seu carro. Tinha de admitir que estava bastante contente por estar ali e por saber o que se ia passar a seguir. Nunca tinha ido a este tipo de espetáculos, visto que nem sequer tinha irmãos, mas adorava crianças - por isso, só podia correr bem. Fui alimentando a conversa com Noah, assim que a viagem começou, e rapidamente chegámos ao local onde o espetáculo se ia realizar, que não ficava assim tão longe de sua casa. Saí do carro, tentando ajudá-lo a carregar as coisas da sua irmã, e rapidamente chegámos à porta, onde um segurança o confundiu com Ethan.
- Isto acontece-te assim tantas vezes? - perguntei, realmente espantada com a situação, e deixei que Noah me agarrasse no braço. O espaço estava mais cheio do que aquilo que eu estava à espera. Havia pais e crianças por todo o lado.- não te preocupes, eu já estou mais do que pronta para me babar para a tua irmã.- respondi, depois de Noah me explicar como funcionavam os espetáculos e toquei nas costas da pequenita, que já estava toda animada por estar ali.
- Chegou o Walker! - virei a minha cabeça na direcção do som, depois de termos entrado no que me pareciam ser os bastidores, e fui a tempo de ver uma rapariga aproximar-se de Noah toda contente para o cumprimentar. Engoli em seco, mordendo a parte de dentro da minha bochecha de uma forma distraída, e quando dei por mim, estava a agarrar no braço dele. Mas que raio...? Arregalei ligeiramente os olhos, tentando afastar-me da forma mais natural possível e ainda fui a tempo de a cumprimentar.
- Kaylee.- disse apenas, dirigindo-lhe um leve sorriso, mas rapidamente tive de me concentrar em Noah, visto que este me pedia que ficasse com a sua irmã.- sim, eu fico com ela.- apressei-me a assentir, agarrando logo na sua mochila.- não te preocupes, nós portamo-nos bem, não é, princesa?- foi a vez de olhar para sua irmã, que já se lançava para os meus braços. Sorri-lhe, aconchegando-a no meu colo e estiquei-me para lhe dar um beijinho na testa.- eu acho que ela gos...- e o que era para se tornar numa provocação, acabou por ficar completamente suspensa no ar, visto que quando dei por mim, já os lábios de Noah se tinham juntado aos meus. Arregalei ligeiramente os olhos, completamente apanhada desprevenida, mas quando o calor dos seus lábios preencheu os meus, foi impossível não retribuir.
- Depois ainda dizes que eu é que estou caidínha.- atirei, bastante atordoada com o que tinha acabado de acontecer, mas esforcei-me por estar à altura da sua provocação, retribuindo-lhe o sorriso.- despacha-te, Walker.- resmunguei, mas o sorriso que se formou na minha cara era tão largo que me foi impossível fingir que estava chateada ou o que quer que fosse.
- Oah beijinho Kay.- acordei dos meus pensamentos, sentindo um dedinho tocar na minha bochecha e obriguei-me a acordar para a vida, rindo com o arzinho maroto de Charlie.
- És uma pestinha igual ao teu irmão, não és?

Assenti perante a questão de Kaylee.
- Sim. Mas já nos habituamos. - assegurei com um encolher de ombros descontraído. - Pelo menos, não me confundem com alguém que não tem nada a ver comigo. Seria bem pior. - ri-me.
Observei a curta interação entre Kaylee e Beatrice, e acabei por não fazer nada quando a primeira me agarrou no braço para logo depois me soltar.
- Não mereces que eu comente. - pisquei-lhe o olho, afastando-me depois do rápido beijo.


Depois de montar o cenário, acabando com o Ethan começara, ambos nos dirigimos para a sala onde eu tinha deixado Kaylee com Charlie e o resto do pessoal. Anunciamos que a montagem estava pronta.
- Than! Oah! - ouvi a voz de Charlie, animada, quando notou na nossa presença. Caminhamos até lá e eu ignorei o sorrisinho do meu irmão quando reparou que Kaylee nos acompanhava.
- Obrigada, gémeos. - Beatrice parou-nos a meio do caminho. - Temos de vos contratar. - piscou o olho.
Encolhi os ombros, rindo-me.
- Não me parece que seria um trabalho com muito ganho, dado que não acontece todos os dias. - brinquei.
Beatrice bateu-me no ombro suavemente.
- Tens razão. - encolheu os ombros e sorriu, olhando para Ethan. - Mas vou contar convosco para a próxima.
- À vontade. - Ethan sorriu-lhe também e eu aproveitei para me afastar. Logo depois ele seguia-me.
Finalmente conseguimos chegar até Kaylee e Charlie. Poucos minutos passaram até Beatrice anunciar que o melhor seria irmos para a sala, uma vez que tinha que preparar as crianças.
- Boa sorte, Char. - brinquei com a pequenita, beijando a sua bochecha. Ao ouvir o seu nome ser chamado, ela acabou por ir para a beira das outras crianças.
- Que novidade ter-te por aqui. Queres assim tanto ser a minha cunhadinha? - ouvi a voz de Ethan atrás de mim, provocadora e sorridente, quando finalmente nos dirigimos para a sala.

Enquanto esperava que Noah voltasse, fui-me entretendo com Charlie e o resto das crianças. Era nestes momentos que gostava de ter tido irmãos.
- Than! Oah! - levantei o olhar assim que senti Charlie remexer-se e rapidamente avistei os seus dois irmãos ao longe. Eu ainda não acreditava naquilo que tinha acontecido. Quando eu pensava que Noah não ia passar das provocações, ele conseguia surpreender-me. Abanei ligeiramente a cabeça, dando por mim a morder o lábio mais uma vez - tinha mesmo de parar de fazer isto - e quando despertei dos meus pensamentos, vi que a professora estava novamente com eles. Revirei ligeiramente os olhos, começando a colocar Charlie no chão enquanto esperava.- boa sorte, pequenina.- desejei-lhe, depositando um beijinho no topo da sua cabeça, e assim que os gémeos se aproximaram, começámos a ir para os nossos lugares. Limitei-me a segui-los, visto que não fazia ideia de onde é que era para ir, e assim que a voz de Ethan soou atrás de mim, olhei-o por cima do ombro.
- Nem por isso.- respondi.- mas como o teu irmão não te queria aturar sozinho, decidi fazer a minha boa ação do dia.- atirei com um piscar de olho e assim que encontrámos os nossos lugares, sentei-me ao lado de Noah.

Entramos na sala onde decorreria o espetáculo e procurei pelos nossos lugares, que eram na primeira fila. Ethan tinha deixado lá o seu casaco a marcar os três lugares, pelo que me sentei à beira do meu irmão e Kaylee se sentou à minha beira.
- Nem sequer vou fingir que acredito nisso. - ouvi a voz de Ethan, ainda no mesmo tom. - O meu irmão adora-me. Não é maninho? - rodeou o meu pescoço com um braço.
- Claro. E adoro ainda mais quando estás calado. - brinquei com ele, pegando no seu braço e tirando-o de cima de mim.
- Touché. - riu-se e acomodou-se de forma mais confortável. Reparei que ele ia começar novamente com provocações, mas a luz desligou-se e as cortinas começaram a abrir-se, revelando o cenário que tínhamos estado a acabar de montar. Era um painel cheio de nuvens, tanto pintadas, como nuvens de algodão penduradas. Para além disso, tinha alguns espelhos e arco-íris espalhados pelo espaço e as crianças estavam no centro, atentas a Beatrice.

Revirei os olhos com um pequeno sorriso, face à resposta de Ethan, mas nem me dei ao trabalho de responder. Eles eram mesmo iguais, e não era só fisicamente.
- Agora calem-se os dois.- olhei-os com um sorrisinho, assim que as luzes começaram a baixar e recostei-me depois na cadeira, pronta para me deliciar com o espetáculo. O cenário era adorável e as crianças que começaram a aparecer ficavam ainda mais no meio do palco. Dei por mim a sorrir, enquanto me recostava na cadeira e vasculhei o palco com o olhar, até encontrar Charlie.

O espetáculo durou cerca de quarenta minutos. Depois do grupo de Charlie (que eram os mais novos), foram as crianças com dois anos e, depois, as de cinco. Todas recorreram ao mesmo cenário e, no fim, os três grupos juntaram-se, o que resultou em muitas crianças no palco e muitos risos da plateia.
Escusado será dizer que todos se levantaram para bater palmas quando Beatrice anunciou o fim, agradecendo a presença de todos. Notei o olhar assustado de Charlie com o barulho e acabei por me dirigir até à beira do palco, silenciosamente, para pegar nela ao colo e trazê-la para a nossa beira. Já várias crianças se encontravam com as famílias, principalmente os mais novos.
- Muito bem, princesa. - sorri para ela, que se encontrava sentada confortavelmente no meu colo e encostada ao meu peito, vendo as luzes do palco.
Mais alguns minutos e juntamo-nos a todas as pessoas que estavam a sair do recinto.
- Que tal? - virei-me para Kaylee com um sorriso, deixando que Charlie se mandasse para o colo de Ethan, que ia a falar com um rapaz que era irmão de uma das crianças e que tinha andado connosco na escola.

Eu não sei ao certo quanto tempo durou o espetáculo, mas assim que as palmas se fizeram ouvir, percebi que tinha passado demasiado depressa e que, por mim, passava ali o resto do dia. Escusado será dizer que me babei - quase literalmente - durante todo o espectáculo e que assim que a irmã dos gémeos voltou a aparecer no palco, o meu sorriso ficou ainda maior. Apressei-me a levantar quando todos bateram palmas e, tal como Noah, notei o ar assustado da sua irmã. Juntei ligeiramente as sobrancelhas, tendo muita vontade de a ir buscar, mas Noah leu-me os pensamentos e apressou-se a fazê-lo.
- Estiveste tão bem, princesinha.- sorri para a pequena, assim que voltou para ao pé de nós e aproximei-me dos dois para lhe beijar a bochecha.- tens de me ensinar a danças tão bem como tu.- brinquei, olhando depois para Noah.- eu adorei!! - confessei, provavelmente mais histérica do que o suposto.- por mim ficava aqui o resto do dia.- gargalhei.- eles são demasiado adoráveis, eu não aguento.

Sorri ao ver a reação de Kaylee.
- Eles andam meses a preparar estas coisas. É de angariação. Durante meses, juntam alimentos e depois fazem o espetáculo como agradecimento pela contribuição. - expliquei. - A Beatrice basicamente fica sem dormir só de pensar em tudo, porque quer que tudo esteja perfeito. Eu ainda me ofereci para me ajudar com as pinturas, mas não foi possível por causa da universidade e das viagens. 
Abri o carro e virei-me para Ethan para voltar a pegar em Charlie. Depois de a prender na sua cadeirinha, ri-me do seu ar cansado e dei-lhe uma bolacha para a mão.
- Até já. - ouvi Ethan antes de ele próprio se dirigir para o seu carro, para também ir para casa dos nossos pais.
Eu e Kaylee entramos no carro e eu liguei o mesmo, iniciando a nossa viagem de volta para casa, para deixar Charlie.

Depois de toda a gente começar a abandonar a sala, eu, Noah e Ethan começámos a fazer o mesmo. E enquanto caminhávamos, esforcei-me por prestar atenção ao que Noah me ia contando. Endireitei-me ligeiramente quando o nome da outra veio novamente à baila, mas rapidamente me distraí, sorrindo.
- Se algum dia precisarem de ajuda com os desenhos.- encolhi os ombros.- não me importo mesmo nada de ajudar.- disse e entrei depois no carro, apressando-me a colocar o cinto. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas algo me dizia que a tarde estava a chegar ao fim.- queres que fique no carro? - olhei para Noah quando a sua casa se começou a ver ao fundo da rua.- enquanto vais levar a tua irmã...- acrescentei.

Olhei para ela.
- Se precisarem, prometo dizer-to. - garanti com um encolher de ombros despreocupado.
Assenti perante as suas palavras.
- Só vou mesmo deixar a Charlie e ver como o Liam está. Vai ser rápido. - disse-lhe, estacionado o carro quando chegamos a casa dos meus pais. Saí do mesmo e peguei em Charlie; Ethan estava lá, uma vez que tinha chegado uns segundos antes, e ajudou-me ao levar a cadeirinha.
Depois de deixar Charlie na sala com a minha mãe, subi para dar um beijinho a Liam, que se encontrava adormecido e parecia estar a melhorar. Confirmei que não era preciso nada e saí, deixando Ethan lá, uma vez que iria ficar um pouco por casa.
- Feito. - disse, voltando ao carro e sentando-me no lugar do condutor. Voltei a ligar o veículo e confirmei as horas. - Tens algum sítio onde tenhas de ir? - questionei, enquanto tirava o carro do estacionamento e voltava à estrada.

Assim que Noah estacionou em frente a sua casa, limitei-me a assentir, ficando à sua espera. Quem diria que, depois de tudo, eu ia acabar ali com ele, depois de ver um espetáculo da sua irmã. A vida era realmente engraçada. Estava meio absorta nos meus pensamentos quando Noah voltou a entrar no carro, mas logo me concentrei nele.
- Não.- respondi à sua pergunta com um ligeiro sorriso.- hoje, felizmente, estou de folga.- mexi as sobrancelhas de uma forma divertida, recostando-me no banco.