Royal Prince Alfred Hospital

Fui assentindo, abanando a cabeça depois. — Não, não há problema nenhum... Quem é que te ajudou? Ahm, lembras-te quem é que vos acudiu? Ou onde foi? — Perguntei baixinho, pensativo, olhando depois para os olhos dela, suspirando. Ela é-me familiar. Esta história é-me familiar, mas eu simplesmente não sei, não me lembro como poderá ser assim tão familiar.

— Não... Desculpa, não me interpretes mal, não foi essa a minha intenção. Mas isso parece-me familiar... A história toda, tu... — Suspirei e mordisquei o lábio. — Não foi naquela rua, hmm... Não sei o nome. É uma recta grande com um cruzamento mais à frente.. Há árvores.. — Cocei a testa e suspirei. Devo estar a dizer disparates, estou tão confuso.

— Não... Não deve ser isso. Eu era mais novo, e eu ia ajudar a rapariga que estava presa no carro. — Expliquei à medida que forçava as imagens a não desaparecerem da minha mente, como se estivesse a tentar repeti-las e tomar mais atenção às mesmas. — Não me lembro de oficina nenhuma... E também não sei quantos anos tenho. — Respondi, olhando-a.

Baixei o rosto e fiquei calado por uns minutos. — Peço desculpa. Por te estar a fazer falar sobre algo desagradável. E se calhar até é coincidência ou uma situação parecida... Mas foi o que me lembrei agora, e... Desculpa, era por isso que eu estava a olhar tão fixamente para a prótese. Porque me fez lembrar disso...

Peguei naquelas que supostamente são as minhas coisas e olhei-as com atenção. Peguei bem na minha carteira, vi o que tinha dentro da mesma, olhei o cartão de cidadão. Li tudo o que estava escrito, e era-me igual a estar a ver a identificação de um estranho. Suspirei, frustrado, e encolhi os ombros quando voltei a olhar para ela.

Fiz o que ela sugeriu, mas sentia-me ainda mais estúpido. Respirei fundo e pousei as coisas, deitando-me depois. Apercebi-me entretanto que era já de noite, parecia ser tarde. — Se quiseres ir embora eu percebo... Já é tarde, e deves ter coisas para fazer em vez de estares a aturar um gajo que súbita e estupidamente perdeu a memória, e que ainda por cima mal conheces.

— Não tens de me pedir desculpa, não tens culpa de nada... — Suspirei. — Então, eu tenho um problema cardíaco, não é? Deve ser por isso que estou aqui ligado a isto tudo... E o que aconteceu para eu vir aqui ter? Porque é que eu desmaiei ou lá o que foi? Enervei-me ou assim?

Fui fazendo caretas enquanto ouvia aquilo tudo. — Bem... Parece que eu sou um bocado doido então. — Ri baixinho e suspirei. — Mas não me consigo lembrar de nada disso. O que é estranho porque se não bati com a cabeça nem tenho problemas nesse aspeto, então não há razões para isto. — Afirmei, começando a falar em "língia de médicos", cheia de termos científicos, sem me aperceber. — Enfim... Eles vão descobrir. Espero eu...

Arqueei a sobrancelha e pensei um bocadinho, começando a rir. — Oh... Nem me apercebi. Mas sim, tens razão... Pode ser que, aos poucos, eu me vá lembrando das coisas. E se realmente não eras tu a tal rapariga da minha memória, peço desculpa... Eu também não me consigo lembrar muito, o que recordei eu contei... Enfim. — Suspirei e olhei para a janela.

Assenti. Era óbvio que ela não queria continuar a falar sobre aquele assunto. Se fosse comigo, provavelmente faria o mesmo. — Então, e... Tens mais familiares? Amigos e namorado deves ter com certeza. — Falei de forma divertida, encolhendo os ombros. Estamos aqui fechados, e por vezes o silêncio fica para lá de constrangedor. Mais vale tentar conhecê-la, já que mal me conheço a mim neste momento.

Franzi a testa, por causa de toda aquela agressividade por parte dela. — Eu também não me referi a quantidades... Mas é normal que uma pessoa ao longo da vida faça amigos, sejam eles muitos ou poucos. Eu estou só a tentar conhecer-te um pouco... — Mordisquei o lábio e suspirei. Ela é um bocado difícil. Tem um feitio especial. Se calhar é por isso que a primeira vez que nos encontrámos não correu assim tão bem.

— Era só uma maneira de falar e de te elogiar discretamente. Mas esquece lá isso... — Encolhi os ombros e assenti, concordando. — Acho que se eu tivesse namorada, ela já tinha aparecido há muito. Visto que trabalho aqui e muitos me conhecem... Se essa namorada existisse, já sabia do que aconteceu e já tinha vindo. Como não veio... Não existe com certeza.