Casa

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-Se uma pessoa completamente desconhecida te dissesse que anda há anos a desenhar-te, mesmo sem te conhecer, como é que tu ficavas? - Revirei os olhos. Eu não ia contar-lhe, pelo menos, não para já. - Sim. - Respondi, pegando na minha mala para o seguir até ao interior. - Ele parece estranho. - Encolhi os ombros. Também qual era a pessoa que não era estranha para mim?

- Iria ficar assustado e a achar estranho, claro. - disse com um suspiro, porque provavelmente a reação dela seria também algo daquele género. - Se um dia lhe contares, ela pode ficar assim mas acabará por perceber. - encolhi os ombros e comecei a caminhar com ele até à casa. Assim que chegamos perto da porta abri a mesma, deixando-o entrar primeiro. - Tu achas todas as pessoas estranhas, Aaron. - ri-me um pouco e entrei em casa. - Mas acho que tens razão, ele era um bocado estranho. Dizia coisas que me deixavam confuso. - encolhi os ombros para mim próprio não dando importância.

Não acreditava que Olivia apenas achasse estranha e fosse compreender mais tarde, provavelmente ficaria assustada e ainda me chamava perseguidor. Se nem eu percebia porque é que o fazia, ela muito menos.
Entrei na casa, olhando em volta para reconhecer os sítios, detestava andar perdido. -Toda a gente diz coisas que eu não compreendo, bem vindo ao meu mundo. - Sorri, dirigindo-me ao que parecia ser a cozinha. -Tu cozinhas.

Segui atrás dele pela casa. - Podes ficar à vontade, a casa agora também é tua. - disse-lhe, porque queria mesmo que ele se sentisse à vontade. Eu queria sempre que ele estivesse bem e faria tudo o que fosse necessário para que isso acontecesse. - Claro que cozinho. Não tenho quem o faça por mim. - encolhi os ombros. - Queres jantar alguma coisa? - perguntei-lhe, mesmo que só me apetecesse dormir não me importava de fazer algo para ele e depois logo descansava.

-Obrigado. - Agradeci, não só por me garantir que aquela agora também era a minha casa, mas por me ter tirado das garras dos pais. - Podias passar fome por seres preguiçoso e passares os dias a dormir e as noites a beber. - Encolhi os ombros. Sentei-me no banco atrás da banca e assenti. - Torradas.

- Eu sei que sou muito irresponsável e só faço merda com a minha vida, mas não ia deixar-me morrer à fome. - encolhi também os ombros sorrindo de forma leve e caminhei até perto do balcão. - Está bem, vou fazer-te torradas e depois preciso mesmo de dormir, já não aguento mais. - falei olhando-o de relance. Não sei como ainda estava de pé e a falar.

-Se sabes, porque é que continuas a ser assim? - Perguntei, encolhendo os ombros para mim próprio. - Ainda bem que não adormeceste a conduzir. - Resmunguei, pousando os braços na banca. Esperei que as minhas torradas estivessem prontas, para abanar a mão ao meu irmão, que pareceria um zombie, se eles existissem, e comecei a comer. A primeira coisa que eu ia fazer naquela casa era ver todos os cantos, para saber onde estavam as coisas, e arrumar o meu suposto quarto ao meu gosto.

- Não sei... - disse apenas enquanto fazia uma expressão de confusão. Abanei a cabeça para não pensar naquilo naquele momento e fiz as torradas para ele, nem fiz nada para mim porque estava sem fome nenhuma. Encostei-me contra o balcão assim que o Aaron começou a comer e esfreguei os meus olhos. - Importaste que vá dormir? - perguntei.

-Não. - Respondi, evitando uma gargalhada ao ver a sua expressão cansada. Ele estava praticamente a dormir em pé. - Vai dormir, não vou fazer nada de especial. - Encolhi os ombros. Depois dele ir embora e eu acabar de comer, limpei a louça que tinha sujo e fui procurar pelo meu suposto quarto. Não gostava de dormir em sítios que não se parecessem meus, por isso, passei o resto da noite a colar alguns dos meus desenhos na parede e a limpar o que não me agradava.

- Até amanhã. - disse-lhe apenas e depois de sair da cozinha, arrastei o meu corpo até ao meu quarto. Não me preocupei em despir as minhas roupas e apenas me deixei cair em cima da cama. Não sabia como ia conseguir sair no dia seguinte, porque da maneira que estava eu conseguiria dormir durante dias se fosse preciso. Não demorou muito até que acabasse por adormecer.

Acordei no dia seguinte com um apito do telemóvel que indicava uma mensagem. Juntei as sobrancelhas, confuso, por não estar habituado a receber sms de ninguém, mas quando vi o nome "Liv", lembrei-me que lhe tinha pedido o seu número. Mordi o lábio inferior, respondendo-lhe de forma direta. O meu coração estava a bater forte no meu peito, tinha medo do que pudesse acontecer na discoteca, não queria assustá-la com a minha figura de otário, não conseguia gostar de discotecas, mas tinha que fazer um esforço para me descontrair. Levantei-me, procurando por comida no frigorífico, e comecei a fazer o meu pequeno almoço tardio.

Como era de prever dormi a noite inteira e mais ainda, acabando por acordar só no dia seguinte já a meio da tarde. Levantei-me da cama e depois de procurar o Aaron para ver se estava tudo bem, fui para a cozinha. Preparei alguma coisa rápida para comer e depois fui para a sala, sentando-me no sofá enquanto comia.

Depois de arrumar a minha mala no armário e ficar a olhar para ele durante exatamente dez minutos, desisti, e fui até à sala, onde estava o mesmo irmão. - O que é que é suposto vestir em discotecas? - Perguntei, olhando para as horas. Também não sabia a que horas é que íamos para lá, mas já passava da hora de jantar, e nem isso eu tinha feito. - Acho que não tenho nada que se vista para discotecas, a maior parte da minha roupa está suja de tintas. O que é que eu faço?

Olhei para o lado, desviando o meu olhar da televisão assim que o Aaron entrou na sala e encolhi os ombros. - Veste uma roupa normal. - abanei ligeiramente a cabeça acabando por me rir baixinho. - Tem calma, Aaron. De certeza que tens por aí algo de jeito, além de que nem sequer precisas de te arranjar muito, já tens beleza natural que chegue. - disse. - A Olivia vai gostar de te ver de qualquer forma. - acrescentei de maneira a provocá-lo um pouco.

Semicerrei o olhar, olhando por instinto para a roupa que tinha vestido para experimentá-la. - Vai? - Abanei a cabeça. - Não é só por ela, só não quero fazer figura de estúpido. - Esfreguei as mãos nas calças e olhei para a televisão. - Eu vou ver outra roupa - anunciei - a que horas é que vamos? - Perguntei, voltando a ver o meu relógio.

- Não vais fazer figura de estúpido. - revirei os olhos para mim próprio. - Já disse que vais estar bem de qualquer forma. - tentei descansá-lo um pouco. Porque ele estava a exagerar e não queria que ficasse nervoso por causa de uma coisa de nada. - Não sei, a que horas vocês combinarem. - olhei também para o relógio, não me preocupando muito com o fato de ainda não estar pronto.

Soltei um suspiro, ele estava descontraído porque aquela era a vida dele, mas eu só tinha ido lá parar uma vez e não tinha sido porque queria. - Está bem, só queria ter a certeza de que não era preciso ir com roupa nova. - Parei a meio do caminho, quando já estava a ir para o meu quarto, e voltei a olhar para o meu telemóvel. - Nós não combinámos horas. - Disse-lhe de olhos arregalados. - Preciso de falar com ela. - Murmurei antes de me enfiar no meu quarto, mais uma vez.

Mordi o interior da minha bochecha tentando não me rir com a forma como o Aaron estava. - Pergunta-lhe e tem calma, vai correr tudo bem. - disse apenas e assim que fiquei sozinho acabei por decidir que era melhor ir arranjar-me. Levantei-me e andei até ao meu quarto, não precisava de muito tempo para me preparar, porque ao contrário de Aaron eu não me importava muito com as roupas que vestia, sabia que ficava bem de qualquer maneira.

Olhei para as horas e para a mensagem que tinha recebido de volta de Olivia. Apressei-me a vestir, correndo até à sala, onde ainda estava o meu irmão ainda a ver televisão. - Tens uma hora para te preparar. - Disse antes de voltar ao meu quarto, calçar as minhas sapatilhas favoritas e arranjar o meu cabelo cor-de-rosa, como diziam que gostavam de ver. Esfreguei as mãos nas calças, indo até à entrada de casa. - Despacha-te, Axel.

Apenas assenti ao que o Aaron disse e tentei arranjar-me o mais rápido que conseguia, apenas para ele não ficar ainda mais nervoso do que já estava naquele momento. Logo que fiquei pronto dirigi-me até à entrada da casa, onde o meu irmão já estava. - Já estou pronto. Podemos ir. - disse-lhe enquanto pegava nas minhas chaves e no telemóvel e os colocava no bolso das minhas calças.

Abri a porta da entrada, sendo o primeiro a sair, e fui à sua frente até onde tínhamos deixado o carro. - A morada é esta. - Mostrei-lhe o telemóvel, à espera que ele abrisse o carro para entrar. Quando o fiz, meti o cinto de segurança e respirei fundo. - Não desapareças, está bem? - Pedi. - Pelo menos... não por muito tempo. Não quero estar sozinho. - Encostei a cabeça ao assento do carro e fitei o negro da noite à nossa frente.

Segui o Aaron até ao carro, olhando por segundos para o ecra do seu telemóvel onde pude ver a morada e memorizar a mesma na minha cabeça. Entrei logo no carro, coloquei o cinto de segurança e antes de começar a conduzir para o bar olhei para ele. - Está descansado. Vou estar sempre por perto. - tranquilizei-o e era mesmo isso que pretendia fazer. - Vais ver que te vais divertir. Aposto que até te vais esquecer de mim. - brinquei com ele.

-Não me vou esquecer de ti, tenho que voltar para casa de alguma forma. - Respondi-lhe, guardando de novo o telemóvel no bolso. Não disse nada o resto do caminho, admirando-me comigo próprio por conseguir estar calado durante os dez minutos que se seguiram. - Estamos a chegar? - Perguntei, quando o vi a abrandar. As luzes indicavam que havia uma discoteca ali perto, por isso, enviei uma mensagem rápida a Olivia a dizer que tínhamos chegado.

Fui ouvindo o que o Aaron dizia sentindo-me satisfeito por estar a ouvir aquelas coisas. Ele nunca tinha amigos - e não o julgava por isso já que eu também não tinha - e como tal era bom vê-lo na companhia de outra pessoa que não fosse eu. - Não penses muito, apenas isso. Se gostas de estar com ela e assim aproveita isso. - entramos no táxi assim que ele chegou perto de nós e voltei a olhar para o Aaron, quando estávamos já dentro do carro. - Não sejas negativo e assim. Vai correr tudo bem, tenho a certeza. - tentei descansá-lo com sempre fazia.