Casa

Encolhi os ombros ainda a sorrir - Fica como opção. - fui buscar mais água fresca ao frigorífico antes de me voltar a sentar à frente da Daisy - Não sei. O que é que queres fazer? - perguntei olhando-a - Podemos tentar fazer uma cama para o gato e arranjar uns bonecos velhos do Tommy para ele.

Observei-o a afastar-se para ir buscar mais água, enquanto ponderava se Wiliam seria um bom nome para gato. É, talvez. E talvez Will viesse a ser a alcunha para os dias preguiçosos em que não apetece dizer o nome inteiro.
- Não sabia que eras menino do DIY. - provoquei-o, abanando a cabeça. - Tanto faz. Podemos tentar. - concordei.
Pousei o gato quase-William no chão e vi-o a caminhar na direção de Wade.

Encolhi os ombros - Nem por isso mas estou tão habituado a trabalhos manuais na oficina que não me é difícil tratar desse tipo de coisas. - sorri quando ela concordou e baixei-me para agarrar no gato quando ele se começou a roçar nas minhas pernas - Podemos usar umas almofadas velhas ou algo do género para a cama dele.

Assenti lentamente.
- Veremos se o jeito é o mesmo, então. - sorri.
Escutei com atenção o que ele dizia, enquanto observava o gato todo contente com a atenção que Wade lhe estava a dar.
- Posso ir ver o que tenho em casa. - propus.

- Claro que tenho. - semicerrei-lhe os olhos devido àquela provocação e assenti com a cabeça de seguida - Tudo bem, eu fico a tomar conta do Will. - disse sorridente enquanto agarrava no gato e o deixava nos meus braços como se se tratasse de um bebé - Ele porta-se bem. - acrescentei ainda a sorrir.

Semicerrei os olhos para Wade.
- Ainda não confirmei que esse se chamava Will. - lembrei-o e virei costas. - Volto já, então. - avisei. - Espero que te arranhe. - brinquei e saí do seu apartamento, pegando nas minhas chaves e entrando no meu.
Demorei cerca de dez minutos até encontrar uma almofada e um cobertor que pudessem servir, e depois voltei até à porta do apartamento de Wade, tocando à campainha.

- Mas ele adora o nome. - disse com um sorriso assim que o gato me começou a lamber o queixo - Até já. - fiquei a ver a Daisy a sair da minha cozinha e deixei-me estar sentado ali a dar festas ao gato até ela voltar a tocar e levantar-me para lhe abrir a porta - Acho que ele prefere os meus braços. - brinquei a sorrir.

- Não podes ler o pensamento dos gatos, por isso duvido que possas afirmar com toda a convição. - fiz uma pausa. - Duvido. - encolhi os ombros.
Quando ele me abriu a porta, mostrei-lhe os meus achados e abanei a cabeça com o que disse, entrando em sua casa.
- Duvido. - esbocei um pequeno sorriso.

- É mais do que evidente que ele me adora e que gosta do nome. - disse-lhe bastante seriamente enquanto fazia festas na barriga do gato - Não duvides, é a realidade. - sorri ao observá-lo super descontraído nos meus braços - Acho que isso serve. - apontei com o queixo para o que ela tinha ido a casa buscar.

Fechei a porta atrás de mim sem fazer barulho, porque eu nem sabia que horas eram e não queria razões para os vizinhos reclamarem fosse do que fosse.
- Qual é a tua obsessão com o nome Will? - perguntei, curiosa. - E se estás convencido disso, tenta provar que ele gosta do nome. - encolhi os ombros.
Assenti.
- Para onde vamos fazer isto? E como? - questionei.

Encolhi os ombros a sorrir - Porque Will é uma mistura dos meus dois nomes e é maravilhoso. - brinquei com um meio sorriso - Acho que o facto de ele estar sossegado no meu colo é prova suficiente. - fiquei alguns segundos a pensar - É melhor irmos para tua casa. Afinal é lá que ele vai ficar por isso não vale de nada estarmos aqui.

Fiz uma careta com a sua explicação.
- Tinha que ser alguma coisa relacionada contigo. - comentei, fingindo-me indignada. - E se queres acreditar que ele te adora, força. - encolhi os ombros e ri-me.
Assenti.
- Tudo bem. - cedi, dando meia volta para voltar para o meu apartamento.

- Claro. Afinal eu também fui responsável por o encontrar. - segui-a para o seu apartamento, guardando o telemóvel e as chaves de casa no bolso das calças. Era a primeira vez que ia entrar em casa da Daisy e estava com uma sensação agridoce em relação a isso - Onde é que o queres deixar a dormir?

Depois de duas semanas a quase nunca ver Wade, mas a ter uma relação mais normal com ele, em que eu lhe ia mostrar como estava o pequeno gatinho que eu tinha decidido chamar de William, podia dizer que as coisas estavam relativamente bem.
Apesar de Joe não concordar muito, acabou por deixar de reclamar da presença de William, até porque era eu quem tratava de tudo. E o animal parecia odiar Joe, escondendo-se sempre que ele se aproximava. Aquilo fazia-me sempre lembrar as palavras de Wade, de como os animais gostavam das boas pessoas.
Mas era parvo da minha parte pensar isso. Eu e Joe estávamos bem. Ele continuava a insistir em que eu bebesse os seus saudáveis batidos todos os dias, antes de ir para o trabalho, e a verdade é que aquelas bebidas de cor estranha me davam energia e uma estranha boa disposição. Mas um bocado de confusão também. Às vezes ficava tão tonta, que tinha que me encostar à parede mais próxima por longos minutos até o mundo parar de girar.
Era finalmente o meu dia de folga e eu estava a sentir-me num humor engraçado. O mundo girava constantemente, desde de manhã cedo, e eu não o conseguia fazer parar de girar. Apesar disso, decidi que não iria simplesmente deitar-me no sofá a olhar para o vazio.
Quando Joe saiu para ir ter com os amigos para um jogo qualquer durante a tarde, peguei no pequeno William e saí do meu apartamento, caminhando até à porta de Wade e tocando à campainha. O barulho fez-me doer a cabeça, mas esperei até que alguém me abrisse a porta.

A Petra tinha finalmente tomado uma decisão e uma semana depois tinha acabado por voltar para casa. Apesar da preocupação da minha irmã, ela sabia perfeitamente pelo que a Petra estava a passar e por isso não reclamou muito pela sua presença em nossa casa e o Tommy gostou de ter uma nova companhia.
Comecei a ver a Daisy menos vezes ao longo daquela semana mas ainda assim íamos encontrando-nos algumas e com o gatinho também.
Tinha acabado de me deixar cair no sofá depois de um dia de trabalho, a aproveitar o facto da Kimmy ir buscar e passear com o Tommy a seguir, para descansar um bocado quando ouvi a campainha tocar. Ainda era demasiado cedo para eles voltarem por isso juntem as sobrancelhas - Daisy? - perguntei confuso e automaticamente preocupado - Que se passa?

Balancei nos meus pés até que a porta finalmente foi aberta, mostrando-me um Wade confuso e preocupado.
- Vim mostrar o William. - apontei para o gatinho no meu colo. - Ele queria ver-te. - ri-me e abanei a cabeça, levando uma mão à mesma. - Sabias que ele fala? - olhei para ele atentamente e sorri. - O mundo está a rodar.

Voltei a juntar as sobrancelhas ao ouvi-la porque aquilo não fazia qualquer sentido - Entra. - pedi preocupado sem conseguir perceber o que se estava a passar - O que é que aconteceu? - perguntei olhando para o gato para ter a certeza que ele estava bem já que evidentemente a Daisy não estava.

Entrei no seu apartamento e olhei para ele, abanando ligeiramente a cabeça.
- O que é que aconteceu? - perguntei também, olhando-o seriamente. - Não vês tudo a rodar? Eles não avisaram deste fenómeno na televisão. - fiz beicinho. - É estranho, não é? - murmurei, olhando à minha volta e sentindo-me ainda zonza.

Alguma coisa estranha se passava com ela mas não conseguia perceber o quê. Teria tomado alguma coisa? Não me parecia que a Daisy fosse dessas mas... Agarrei no gato antes que acontecesse alguma coisa e com a outra mão ajudei-a a apoiar-se em mim - Anda, precisas de te sentar um bocado. - pedi encaminhando-a para a sala.

Fiz beicinho quando ele me tirou William das mãos e inclinei a cabeça.
- Não me roubes o meu gato. - murmurei com uma voz mimada.
Suspirei quando Wade suportou parte do meu peso, começando a ajudar-me a ir até à sala.
- Eu estou bem. Porque me estás a transportar assim? - perguntei, dando-lhe um murrinho no braço.
Deixei-me cair no sofá e sentei-me muito direita, olhando para a parede, confusa.

- Não estás bem. - falei seriamente - Ainda vês tudo à volta? - pousei o gato em cima de uma almofada que estava no chão - Tomaste alguma coisa? - perguntei enquanto o meu cérebro tentava pensar no que fazer naquela situação mas nem sabia ainda o que se estava a passar com ela.

Assenti para a sua pergunta, semicerrando os olhos e focando em Wade.
- Tu não vês? - perguntei de volta, confusa.
Pensei na sua pergunta por momentos.
- Quando? - olhei para ele. - Eu bebi três batidos de fruta, almocei salada e lanchei, hm... - pensei. - Um croassaint. Era isso que querias saber? 

Continuei de sobrancelhas juntas e abanei a cabeça - Não. - respondi demasiado nervoso para conseguir achar piada à situação - Não era bem isso. Bebeste alguma coisa alcoólica ou tomaste alguma coisa ilegal? - perguntei diretamente antes que ela me fizesse novamente a lista das coisas normais que tinha comida e bebido.

Olhei para ele e abanei a cabeça muitas vezes, o que resultou em mais tonturas.
- Não gosto muito de álcool. - admiti. - Coisas ilegais? - arqueei o sobrolho, começando a ficar chateada. - Porque é que estás a insinuar isso? - perguntei, num tom de voz ligeiramente mais alto e levantei-me do sofá, olhando para ele, mais zangada ainda.

Se ela não tinha tomado nem bebido nada aquilo só tornava toda a situação muito mais estranha. Ela não estava normal e o estado em que estava também não parecia normal - Não saias dai. - coloquei uma taça com água no chão assim como alguns jornais e deixei o gato na cozinha onde ficaria mais seguro e também onde tinha menos probabilidades de destruir alguma coisa. Escrevinhei uma nota rápida à Kim caso ela aparecesse entretanto. Voltei para junto da Daisy e ajudei-a a levantar-se - Temos de ir ao hospital.