Oficina

- Ainda bem que tu tens as tuas ferramentas, e ainda bem que eu agora te tenho a ti. Mesmo com estes músculos todos eu nem sempre consigo dar conta de tudo, portanto se for preciso lá vem Cin e suas ferramentas. - Ri baixinho e segurei na manta, tapando-nos melhor e aconchegando-nos. Suspirei e dei-lhe um pequeno beijo, fechando os olhos de seguida. - Desculpa se adormecer. - Falei, baixinho.

Assenti, já a sentir-me praticamente a dormir. Estava cansado e ficara bastante sonolento de repente, e como já não devia ser muito cedo, não fazia mal nenhum dormir. Nem que fosse só um pouco. Suspirei e mantive-me quieto e agarrado a ela, acabando por adormecer num instante e dormir pacificamente, acordando só quando ela me chamou.

- Quê? - Murmurei da primeira vez que me chamou, e quando ouvi o resto acabei por suspirar. - Bom d... - Assim que abri os olhos, o meu pequeno sorriso desapareceu. Ela já nem sequer estava ali no escritório. Respirei fundo e depois de esfregar os olhos sentei-me e lá me fui vestindo. Dobrei a manta e deixei-a em cima do sofá, e depois procurei-a. - Então isso quer dizer que eu tenho de ir embora, não é?

Encolhi os ombros, mantendo.me dobrada sobre o motor do carro - Sim, talvez seja melhor ires embora. De qualquer maneira deves ter coisas para tratar para voltar ao trabalho - disse, ainda sem o fitar. assim era mais facil, nao encara.lo e ver os seus olhos azuis preocuparem.se ou pedir.me para nao ser assim quando eu so tava a ser assim porque era o melhor para ele

Fiz uma careta e respirei fundo. — Ok, ok. Já percebi que estás mesmo a expulsar-me daqui. — Encolhi os ombros e aproximei-me um pouco mais, tentando olhar para o seu rosto. — Não posso sequer despedir-me de ti? Ou vais já ameaçar-me outra vez com as tuas ferramentas? — Ri, esperando que ela olhasse para mim.

Fiquei parado durante alguns segundos. Estava confuso e sem perceber o que raio se estava agora a passar ali, mas rapidamente entendi que o melhor mesmo era ir embora. Com a Cinder mais vale fazer o que ela diz, senão ainda é pior. — Então adeus... — Afirmei, saindo depois da oficina e fui até ao meu carro. Assim que estava pronto, liguei o motor e fui ppara casa.

encerrado.

Acabei por dormir poucas horas e apesar de acordar bastante cansado tinha mesmo de ir trabalhar ainda por cima agora que estava sozinho na oficina. Fui despedir-me da Kim e do Tommy que ainda estavam adormecidos e depois de beber uma caneca enorme de café saí para a oficina onde ia passar o dia.

A Kim tinha aproveitado a folga para ir com o Tommy até ao zoo e por isso em vez de estar sozinho em casa a pensar no que não devia, acabei por fechar-me na oficina. O trabalho era bastante e apesar de não estar no horário de trabalho ao menos adiantava serviço e afastava os meus pensamentos.

Decidi ir passear com o meu irmão, não voltando a tocar no nome de Wade. Sabia que Thomas lhe deveria ter dito alguma coisa, mas tmabém sabia que ele não me iria dizer.
Thomas disse que ia dar uma volta e ver se encontrava um amigo que estava ali a passar férias, pelo que fiquei em casa, a matutar em Wade e na sua reação.
Suspirei, e levantei-me do sofá, onde já estava há alguns minutos. Decidi bater-lhe à porta de casa, mas ele não estava por lá.
Como não sabia outro sítio para onde ele pudesse ir, para além da oficina, foi para lá que me dirigi.
O portão estava encostado, pelo que decidi entrar. Se não fosse Wade a estar ali, logo arranjaria uma desculpa qualquer.
Caminhei pelo espaço e fui encontrá-lo ali, demasiado distraído em volta de um carro.
- Para a próxima, podias esperar e despedir-te. - disse, num resmungo, enquanto o observava. Cruzei os braços ao peito e olhei-o seriamente. - Precisamos de falar, Wade.

Estava tão absorto na música que tocava e no carro que estava a arranjar que nem dei por alguém entrar na oficina. O que era uma maravilha porque se fosse um ladrão e não a Daisy aquilo poderia ter corrido pior. Ou talvez não... Saí de baixo do carro e limpei as mãos cheias de óleo - Disse ao teu irmão que tinha de ir. - respondi prontamente.

Observei-o a deslizar para sair debaixo do carro e abanei a cabeça.
- Eu sei, mas eu só tinha ido ao quarto de banho. Não fui à China. - revirei os olhos e mantive a mesma posição. - E o que raio foi aquilo hoje de manhã? - perguntei, deixando descair os braços. Não sabia como me sentia naquele momento, mas estava um bocado chateada. - E não me venhas com desculpas de instintos protetores. - avisei, sem desviar o meu olhar dele.

- Tive de sair. - respondi e aproveitei que já não estava debaixo do carro para ir beber água - Não sabia que era o teu irmão, desculpa. - disse apenas.

Observei os seus movimentos, enquanto ele se dirigia para o local onde tinha uma garrafa de água.
- Tu estás a brincar com a minha cara e a gostar disso, só pode. - resmunguei. - Eu percebi: tiveste que sair. De certeza que o mundo estava a acabar. - abanei a cabeça. - E o facto de não saberes que era meu irmão deu-te todo o direito para falares assim com ele? - arqueei o sobrolho.
Respirei fundo e virei-lhe costas por breves segundos. Eu tinha que me acalmar, antes que falasse demais.

- Já pedi desculpa, o que é que queres que faça mais? - perguntei vendo-a a virar costas. Sabia que estava a portar-me como um idiota mas também tinha dito as minhas razões ao irmão dela e as coisas continuavam da mesma forma.

Não o olhei, nem quando um sorriso triste tomou conta do meu rosto. Ele não percebia. Eu não percebia.
- Não quero que faças nada, Wade. - abanei a cabeça e voltei a respirar fundo, controlando-me para não ficar demasiado emocional no meio de toda aquela situação. - Estás desculpado, então. Se é tudo isso que tens para dizer. - abanei a cabeça e virei-me para ele. - Suponho que o problema aqui seja eu esperar mais do que respostas das que estás apto para me dar. - olhei em redor, não conseguindo encará-lo.

- Não és nenhum problema, Daisy. - disse com um suspiro - Podes não acreditar mas gosto demasiado de ti para te magoar. E isto sou eu a não magoar-te. - por mais idiota que fosse tinha as minhas razões e ela não precisava de alguém como eu. O melhor seria mesmo se ela voltasse com a família para a Inglaterra onde poderia ser feliz.

Senti os meus lábios separarem-se, tamanha era a admiração pelas suas palavras.
- Isto és tu a não me magoar? - perguntei, incrédula. - Temos definições muito diferentes sobre o que é magoar alguém. - abanei a cabeça e dei um passo atrás. - Como é que queres que eu acredite em ti, Wade? Quando tudo o que me dizes é que és protetor porque tens uma irmã e um sobrinho. Eu não sou essas pessoas. - engoli em seco e olhei-o. - E eu tenho o direito de saber. Tenho todo o direito. Tenho a porra do direito de saber o que é que tu queres de mim, afinal. - abanei a cabeça mais uma vez.

- És alguém de quem eu gosto e que me importo. Se não me importasse não tinha estado ao teu lado em tudo. - disse sério - Mas não posso ser aquilo que acho que estás à espera. E tu tens de viver a tua vida. - acrescentei - Passaste demasiado tempo numa relação tóxica e está na altura de viveres a tua vida.

Fiquei a olhar para ele, ouvindo as suas palavras. Eu conseguia compreender o que ele diz, mas não realmente.
- Eu estou a viver a minha vida! - atirei, num tom um bocado mais alto. Engoli em seco e suspirei. - Eu estou a viver a minha vida. - repeti, mais baixo. - E tu tens que deixar de usar a minha antiga relação como desculpa. Já nem eu a uso. - abanei a cabeça. - Passaram-se meses, Wade. Eventualmente, a tua desculpa tem que deixar de ser essa. - fiz uma pequena pausa. - Eu ultrapassei. Eu arranjei emprego. Um emprego de que gosto. Eu ando a informar-me sobre diferentes coisas para poder fazer vida aqui, a fazer o que eu gosto. - voltei a olhá-lo. - Eu estou a viver a minha vida muito melhor do que aquilo que tu pensas. Tu estás mais preso a tudo o que se passou do que eu. - fiz uma curta pausa. - Tu podes ser para mim aquilo que tu quiseres. Seja bom, ou seja mau. Mas eu não vou ser a idiota que vai ficar a esperar até que decidas quanto tempo é que deve passar até eu "viver a minha vida" - fiz aspas -, principalmente quando é exatamente o que eu estou a fazer.

- Não é uma desculpa, é a verdade. Estou aqui porque gosto de ti e sou teu amigo mas não vou ser o substituto de alguém. Nem daquele idiota. - disse-lhe honestamente. Ela podia não perceber mas estava a fazer aquilo por ela.