Books & Tea Café

-Daqui a dois dias, segunda feira. - Disse, tomando nota mental para não me esquecer... mas acho que isso também não funciona bem, não é?
Caminhei até ao balcão com ela, dando-lhe o meu cartão para pagar o mini lanche, ou melhor, o meu almoço, já que nem isso tinha conseguido comer.
Levantei as sobrancelhas, fitando o livro, e assenti, assinando e colocando o nome do livro, para o levar para casa. Pelo menos tinha alguma coisa nova para ler, quando não conseguisse dormir. - Obrigado. - Agradeci-lhe, vendo-a esticar-me um guardanapo. Quase me ri, ao perceber que tinha o seu número escrito, lembrando-me de quando tinha escrito no braço de Axel o meu número. Ele tinha-me mandado mensagem de volta, felizmente. - Não te preocupes. Vou mandar-te mensagem para teres o meu, daqui a pouco. - Avisei-a, e ia embora, antes de me lembrar de uma coisa. - E quando as pessoas parecem uma coisa e são outra, nós devemos afastar-nos. Se precisares de esconder um corpo, podes contar comigo.

Arregalei os olhos, quando ela disse que me podia mandar mensagem para eu não me esquecer de vir trabalhar, e acabei mesmo por rir. Podia estar a chorar, mas era mais engraçado que triste. - Isso ia ajudar, se faltar no primeiro dia por esquecimento posso pôr-te a culpa em cima por não me lembrares. - Brinquei.
Parei junto à porta, vendo o seu sorriso triste, e soltei um suspiro leve. Não sabia o que se passava, mas já não estava a gostar. - Esperemos que não chegues, porque há muita gente que chega. - Abri a porta da saída. - Até segunda. - Despedi-me, sem saber muito bem para onde ir.

Depois de decidir ir mesmo para casa, fui até à paragem de autocarro, mas quando procurei pelas últimas moedas no meu bolso, não as encontrei. Resmunguei baixinho para mim, virando a carteira ao contrário, e quis bater com a cabeça por ser tão estúpido e não me lembrar de trazer dinheiro trocado de propósito para o autocarro. Porque, como era óbvio, só paguei uma viagem e não tinha dinheiro para outro, visto que não aceitavam cartão. - Que otário, Benjamin. - Resmunguei para mim próprio, pegando no meu telemóvel para ligar à minha irmã, mas ela não me atendeu e eu também não a queria chatear mais do que já tinha chateado hoje. Deixei apenas uma mensagem, a dizer para me ligar assim que conseguisse, e pelo meio das minhas conversas, vi o nome de Axel. Mordi o lábio inferior, lembrando-me de Olivia a dizer que eu devia falar com ele. Aquela era uma boa oportunidade, na verdade. Eu estava exausto e só queria ir para casa, não tinha paciência para estar à espera da minha irmã, por isso, deixei de pensar nos contras e liguei-lhe.

Mandei uma mensagem a Liv assim que terminei de falar com Axel. Não gostava de chatear as outras pessoas para me andarem a levar de um lado para o outro, mas com tudo o que já tinha acontecido, não gostava de estar a conduzir e a lembrar-me de coisas que não queria -- ainda acabava por ter outro acidente e isso era o que menos queria.
Encostei-me à parede do Books & Tea Cafe, fechando os olhos durante uns segundos, à espera que Axel chegasse. O meu peito estava com um misto de emoções fortes; mesmo com a felicidade frágil que sentia por ter conseguido o emprego, o cansaço conseguia sobrepor-se a tudo. Não dormir dá cabe do corpo e da mente.

Assim que deixei de falar com o Ben, peguei no meu telemóvel e nas chaves saindo em seguida de casa. Não sabia quando o Aaron voltava mas tinha a certeza que estaria bem. E provavelmente ainda chegaria só depois de mim, não me admirava nada disso. Entrei no meu carro e depois comecei logo a conduzir em direção ao lugar onde o Ben tinha dito que estava. Tinha ficado um pouco admirado por ele me ligar, pois não tinha pensado que o faria. Encolhi os ombros para mim próprio e sai do carro, o qual eu tinha deixado no parque de estacionamento. Caminhei até à zona de entrada do Books & Tea Café vendo depois o Ben encostado contra a parede do mesmo. - Hey. - murmurei assim que cheguei perto dele, que parecia completamente alheio ao que o rodeava.

Acordei de novo para a vida --quase literalmente -- quando ouvi um carro seguido de uma voz que me era vagamente conhecida. Sorri quando vi Axel parado à minha frente e avancei até à viatura, abrindo a porta antes de me sentar com um suspiro. - Desculpa, não me lembrei de mais ninguém para me salvar de andar uns quilómetros. - Desculpei-me ao fechar a porta, pousando o livro que tinha requisitado em cima das pernas.

Segui com o meu olhar aquilo que o Ben fazia e encolhi os ombros assim que falou. - Não peças desculpa, não faz mal. Eu não tinha nada para fazer. - disse-lhe num tom de voz baixo. - E agora ficas a dever-me uma e já posso fazer chantagem contigo. - brinquei com ele, rindo-me para que ele percebesse que eu estava a gozar.

Passei os dedos pelo livro que tinha na mão, encostando a cabeça ao assento confortável. O meu corpo estava pesado e se não me conhecesse, era capaz de dizer que o carro conseguia embalar-me até adormecer. - Então estou feliz por te ter alegrado a tarde. - Brinquei com um meio sorriso, desviando o olhar para ele ao ouvi-lo dizer que já podia fazer chantagem comigo. - Ainda bem que não cedo a chantagens, quero ver o que é que me fazes já gora.

Comecei a conduzir para fora dali numa velocidade bastante reduzida. Ainda sabia qual a direção para a casa dele, por isso logo me limitei e conduzir para lá sem lhe ter sequer perguntado se era para casa que queria ir. - Não cedes a chantagens? Oh que pena. - retorqui fingindo um ar meio triste. - Não faço nada. Sou boa pessoa, mesmo que às vezes não pareça. - encolhi os meus ombros.

-Não parece que sejas má. - Contrariei-o, encostando a cabeça no banco e semicerrando os olhos pesados; o barulho do motor acalmava-me e ver as casas passar deixavam-me ainda mais cansado do que já estava. - Eu consegui um emprego. - Disse, não me lembrando se já lhe tinha dito. Eu queria falar, mas os meus olhos estavam a fechar-se gradualmente, e não sabia se isso era bom ou mau. - Não sei como...

Juntei as sobrancelhas quando ele disse que tinha conseguido arranjar um emprego, já que na outra noite tinhamos estado a falar sobre essas coisas. - Isso é bom. Muito bom. - disse e acabei por não obter qualquer resposta. Olhei para o lado vendo-o com os olhos fechados e logo percebi que tinha acabado por adormecer. Mantive-me calado durante o resto da viagem parando apenas quando cheguei à casa dele. Parei em frente da mesma e voltei-me ligeiramente na sua direção. Toquei no seu braço para o abanar um pouco, numa tentativa de o acordar. - Ben? - chamei.

Senti um tremor de terra debaixo de mim e abri os olhos com o coração a bater rápido no meu peito. Só de olhar para Axel é que percebi que era apenas ele que me estava a abanar. - Rude, não me acordes. Estou cansado.- Resmunguei, fechando os olhos de novo, mas ao lembrar-me que devia estar em casa, (e que estava a fazer figura de zombie no carro dele), forcei-me a levantar, ainda meio dormente. - Leva-me. - Praticamente ordenei, não me esquecendo do livro que tinha levado do café.

Tinha voltado para casa mas uma vez que não tinha qualquer trabalho para acabar na oficina nem tinha ninguém para me fazer companhia, acabei por organizar algumas coisas em casa. Quando já não faltava mais de uma hora para o turno da Daisy terminar voltei a conduzir para o Cafe, sentando-me numa mesa vazia à espera dela.

Andei distraída com o meu trabalho até ver uma figura conhecida entrar no estabelecimento e sentar-se numa mesa.
- Vai lá. - ouvi a minha colega dizer, divertida, e eu revirei os olhos, esboçando um pequeno sorriso. 
Afastei-me do balcão alguns passos antes de ela dizer a alto e bom som: - O namorado está à espera. Que cavalheiro.
Olhei-a por cima do ombro e abanei a cabeça, lançando-lhe um olhar de má. Com certeza que Wade ouvira.
- Hey. - disse ao aproximar-me, tentando ignorar a boca que tinha sido mandada. - Queres alguma coisa? - sorri.

Olhei para a Daisy com um meio sorriso divertido assim que ela se aproximou da mesa onde eu estava - Awn até a tua colega já sabe da paixão que tens por mim. - provoquei sem conseguir deixar de sorrir - Quero. Achavas mesmo que tinha vindo cá por causa de ti? - perguntei com um bufo - O que é que recomendas hoje?

Fiz-lhe uma careta e revirei os olhos.
- Queria tanto que não a tivesses ouvido. - desabafei, acabando por me rir. - Não sejas convencido. Não é só piscares esses olhos que me fazem ficar KO. - encolhi os ombros e sorri-lhe de forma inocente.
Abanei a cabeça.
- Claro que só vieste por causa de mim. Vieste confirmar se estou aqui com alguém jeitoso. - brinquei com ele. - Hmm... Deixa-me ir lá dentro e já vejo o que há.
Afastei-me da sua mesa e dirigi-me para o balcão. Fiz um chocolate quente enquanto ignorava o que a minha colega estava a dizer e depois coloquei uma fatia de bolo de red velvet num prato, pois era o que estava a ser melhor vendido hoje.
- Aqui está. - coloquei o tabuleiro em cima da mesa. - Acho que a minha colega está encantada contigo, senhor convencido. - apontei por cima do meu ombro, sabendo que ela estaria a olhar para nós.

Acabei por me rir também com o seu comentário - Mas ouvi e sabemos que os meus olhos te deixam maluca. - provoquei ainda a sorrir e fui olhando para as estantes dos livros quando a Daisy voltou a desaparecer para a cozinha - Obrigado. - olhei para ela desconfiado - Espero que não tenhas cuspido em nada. - provoquei e acabei por sorrir - Claro que estás, bem te disse que não eras a única, só a que está mais encantada.

- Os teus olhos? O teu charme completo. - ironizei, brincando com ele. - E eu não cuspi. Só lancei um feitiço de que irás ser para sempre um sapo. - fiz-lhe uma careta.
Encolhi os ombros descontraidamente e sorri de forma inocente.
- Bem, podes ir tentar a tua sorte com ela, visto que não está a funcionar comigo. - pisquei-lhe o olho e afastei-me, rindo-me.

- Eu sempre soube que por mais que tentes negar não me resistes. - bebi um gole no chocolate quente depois de pousar o livro na mesa - Awn estás com ciúmes? - perguntei com um meio sorriso - Não precisas de negar agora o quanto gostas de mim.

Ri-me das suas palavras e abanei a cabeça.
- Com muitos ciúmes. - ironizei, provocando-o. - Nem sei como ainda não te proibi de sair de casa. - continuei no mesmo tom.
Continuei o meu trabalho, servindo os clientes que iam aparecendo.
A hora do fim do meu turno acabou por chegar e eu fui tirar o avental e despedir-me de quem estava lá dentro.
- Hey. - murmurei ao ouvido de Wade, depois de me aproximar silenciosamente da sua mesa.

- Proibir-me de sair de casa? - repeti divertido - E depois dizes que não tens ciúmes... não queres que ninguém veja o meu charme e me roube de ti.. - suspirei dramaticamente.
Quando a Daisy voltou ao trabalho aproveitei para comer o que ela me tinha trazido e continuar a leitura da outra vez.
- Já viste a tua sorte de eu conseguir controlar os meus reflexos ninja? - perguntei-lhe virando-me para ela assim que apareceu atrás de mim a falar-me ao ouvido - Podias estar no chão neste momento. - disse-lhe contendo um arrepio.

- Exatamente isso. - brinquei com ele.
Sentei-me na cadeira ao seu lado e encolhi os ombros descontraidamente.
- Não me parece que fosses atacar-me. - sorri-lhe, convencida de tal facto. - Estás com frio, Wade Hill? - perguntei, arqueando o sobrolho, quando reparei que ele estremeceu levemente.

- Vê-se mesmo que não conheces os meus reflexos de ninja. - disse com um meio sorriso, pousando o livro de lado - Já acabaste o teu turno? - perguntei olhando para as horas; mal tinha dado pelo tempo a passar.