Casa

- Tanto faz. - respondi ao Ben porque na realidade apetecia-me fazer tudo menos ver televisão. Bem, a verdade é que não me apetecia fazer mais nada para além de tomar alguma coisa mas não podia dizer isso em voz alta. Mordisquei o lábio inferior mas os meus pensamentos não se afastavam daquilo por isso acrescentei - É melhor.

Revirei os olhos para o que o Ben disse e fiz uma careta assim que senti o pé dele contra a minha cara. - Para. - resmunguei com ele e afastei-lhe o pé dando-lhe depois um pequeno empurrão. Suspirei ao olhar para o Aaron, que apesar daquele sim ele não parecia estar lá muito bem. - Sim, vamos ver um filme. - concordei com o Ben, talvez isso os distraísse e voltassem ao normal.

Levantei-me para colocar um filme qualquer e deparei-me com um filme de animação novo. Sorri interiormente, por saber que eles provavelmente nem iam prestar atenção aos bonecos e iam ficar numa grande seca, e voltei a deitar-me, voltando a enfiar os pés na cara do Axel para o irritar.
-Relaxem e divirtam-se. - Sorri. Estava a sentir-me bipolar hoje, a culpa era da vontade de dormir mais e que sabia que não ia resultar, estava a sentir-me demasiado desperto. - E tu lida com os meus pés, vamos ser amigos.

A minha atenção partilhou-se pelos três. Estava sempre a tentar perceber alguma coisa, e agora a missão era entender o ambiente que havia entre os nós. Benjamin e Axel estavam ao que parecia... brincar? Mas em relação a Olivia... Engoli em seco, aproximando-me dela, apesar dos meus instintos estarem a dizer-me para não o fazer, e quando fitei a televisão acabei por sorrir. - Eu gosto deste filme. - Sorri, encolhendo-me no meu canto, que estava mais perto de Olivia do que antes.

Juntei as sobrancelhas quando vi que o Ben tinha escolhido um filme de animação mas não comentei nada, observando-o a voltar para o sofá e deitar-se ao pé do Axel. Aqueles dois... Tentei prestar atenção à televisão mas infelizmente nada estava a ser capaz de afastar os meus pensamentos. Estava prestes a levantar-me do sofá com a desculpa de ter de ir à casa de banho quando ouvi a voz do Aaron e o senti mais perto de mim - Nunca vi. - respondi-lhe com um ligeiro encolher de ombros - Mas deve ser interessante. - acrescentei sem conseguir evitar perante o seu entusiasmo.

Revirei os olhos quando o Ben voltou a pôr os pés na minha cara. - Que chato. - resmunguei tentando, mais uma vez, afastá-lo, apesar de duvidar que fosse resultar, ele parecia estar a divertir-se com aquilo. O meu olhar focou-se depois na televisão, assim que o filme começou e tentei prestar atenção apesar de não ser o género de filme que eu gostava.

Sorri para mim próprio, observando tanto a expressão da minha irmã como a de Axel, eles não estavam, de certeza, tão entusiasmados quanto Aaron. - Não sou chato. - Mordi o lábio para não me rir quando voltei lhe enfiei um pé na orelha. - Está com atenção ao filme, é próprio para a tua idade. - Provoquei, deixando a perna cair no sofá para me focar na televisão.

Agarrei numa almofada para estar abraçado a alguma coisa enquanto fitava a televisão, mas senti a necessidade de olhar em volta, quando a conversa de Benjamin e Axel me começou a perturbar. Fitei Olivia por alguns segundos, mordendo o lábio inferior, sem saber o que fazer para conseguir pôr-lhe um sorriso nos lábios de novo. Eu nunca fui muito de sorrir, mas agora percebia porque é que pediam para o fazer, sentia que ela não estava bem e que tinha que fazer alguma coisa. - Queres ir apanhar ar? - Perguntei baixinho.

Tentei ignorar o meu irmão e o Axel que continuavam a embirrar um com o outro, parecendo em muito um casal e tentei prestar atenção ao filme apesar de isso ser uma grande tentativa furada. Para onde quer que olhasse só me conseguia lembrar dos meus comprimidos e nada estava a mudar isso. Voltei a olhar para o Aaron quando o ouvi falar e encolhi os ombros - Nem por isso mas preciso de um cigarro. - respondi afastando a almofada a que me tinha agarrado - Precisas de alguma coisa? - perguntei pronta a levantar-me.

Semicerrei os olhos para o Ben e belisquei-lhe o pé depois de lhe fazer uma careta e o empurrar de novo. Olhei para o Aaron que não parecia nada agradado com as nossas brincadeiras e ajeitei-me melhor no sofá. - Lamento, mas a única criança que vejo aqui és tu, Benjamin. - encolhi os ombros. - Além de que és o mais interessado no filme.

A minha pergunta tinha dois sentidos, já era complicado o suficiente fazê-la, quanto mais perceber se ela tinha percebido ou se apenas não queria estar por perto de mim. Já não percebia nada. Ponderei chatear-me comigo próprio e chamar Axel para se ir embora, mas ao vê-la levantar-se, fiz o mesmo. - Ar. - Respondi, afastando-me do sofá para abrir a janela e entrar na varanda.

-Não podes julgar-me por ter espírito de criança. - Desviei por momentos a atenção de Axel para os outros dois, mas logo continuei. - A vida era melhor nessa altura. - Cruzei os braços em cima do me corpo, vendo os outros dois a levantarem-se, e revirei os olhos para mim próprio, cansado de fazer o esforço para que a noite acabasse bem. - O que é que fazes amanhã?

- Não estou a julgar-te, estou só a tentar dizer que eu não sou criança. - disse com um encolher de ombros enquanto os meus olhos seguiam o que o Aaron e a Olivia estavam a fazer. Os dois estavam muito estranhos e só esperava que voltassem ao normal rapidamente. Não gostava de os ver assim, ainda acabava eu por ficar deprimido ou algo do género e não queria. - Isso é verdade. - concordei com o Ben voltando a desviar a minha atenção para ele. - Não sei, porquê? - perguntei meio confuso por ele me estar a perguntar aquilo.

Caminhei até à varanda da sala de estar e encostei novamente a porta depois de irmos para o lado de fora, deixando assim o Ben e o Axel à vontade no sofá. Fui buscar ao sítio o maço de cigarros que tinha escondido atrás de um dos vasos e abri as janelas, acendendo um dos cigarros - Queres? - perguntei ao Aaron por cortesia.

-É uma pena. - Esfreguei-lhe os dedos na bochecha, com um sorriso que tentei evitar para me manter sério. Ele fingia que não, mas a sua paciência era de santo, qualquer outra pessoa já me tinha torcido um tornozelo com as próprias mãos. - Porque... - fiz uma careta, odiava quando só começava a pensar nas coisas depois da pergunta. - Porque podias vir cá brincar com o gato. - Calei-me, com vontade de me atirar do sofá por ser tão burro. - Ele gosta de ti.

Observei os movimentos de Olivia, levantando as sobrancelhas ao ver o maço de cigarros nas suas mãos depois de o ter tirado de um sítio qualquer. - Porque é que escondes? - Perguntei, sentando-me direito no banco, a observar a vista que se tinha dali. Era bonita, mas não conseguia concentrar-me com Olivia à minha frente. - Sim. - Respondi, esticando uma mão.

Afastei o cigarro da boca e deixei-me estar empoleirada na janela a levar com o vento na cara e observar a vista da rua - Porque é suposto largar pelo menos um vício. - encolhi os ombros e estendi-lhe o maço - E assim só fumo quando venho para aqui. - respondi levando novamente o cigarro à boca.

- Benjamin, para! - resmunguei assim que senti os seus dedos na minha cara de novo e empurrei-o de maneira a que ele caísse do sofá. Assim que ficou no chão estendi-me rapidamente no sofá, ocupando-o todo e gargalhei baixinho. - Brincar com o teu gato? - perguntei rindo-me de novo. - Gosta o gato ou gostas tu? - perguntei meio que a provocá-lo.

Agarrei no maço, retirando um dos cigarros e o isqueiro, para o acender. - E estás a desistir da droga que te faz menos mal? - Perguntei com uma careta. - Todas comprimidos indiscriminados, se eu te desse um dos meus, tu tomavas, mas queres deixar os cigarros, que pelo menos, sabes o que tem? - Acho que me devia calar, mas já estava mais do que visto que eu não me conseguia controlar, principalmente, porque ela me dava liberdade para falar sem ter medo.

Fiz uma careta quando o meu corpo embateu no chão e ao voltar a levantar a cabeça, semicerrei os olhos a Axel. Mandei-me para cima das suas pernas, continuando com as minhas na direção da sua cara. - Tu és um bruto, o meu corpo é sensível. - Resmunguei, sorrindo quando me pus numa posição mais confortável. Mordi o lábio quando ele se começou a rir, batendo-me mentalmente por me estar a sentir embaraçado. - O meu gato... - Fiz uma careta como se fosse óbvio. - Eu gosto da distração.

Revirei os olhos quando ele se atirou para cima das minhas pernas. - O teu corpo não é sensível, tu é que és fraco, admite logo. - gozei com ele e tentei mexer as minhas pernas para que ele saísse de cima de mim, mas como era óbvio isso não aconteceu. - Vou morrer esmagado. - disse num tom de voz meio dramático e abanei a cabeça. - Está bem então. Eu amanhã venho cá brincar com o teu gato. - mordisquei o meu lábio para tentar não me rir.

Semicerrei os olhos, cruzando os braços de novo em cima do meu corpo. - Não sou fraco. - Se fosse, nem tinha sobrevivido. Ou talvez até fosse já que tinha sobrevivido, mas ficado com um cérebro em papa. - E não gozes com os fracos. - Desviei o olhar dele. - É o que mereces. - Atirei, deixando a cabeça cair numa das almofadas, mas não consegui manter a minha pose de chateado quando ele disse que vinha cá brincar com o gato. - Está bem, ele vai estar à tua espera.

- O objetivo era acabar com tudo mas não consigo acabar com nada. - voltei a encolher os ombros e encostei-me ao muro de forma a ficar a observá-lo - Não sabia que fumavas. - disse pensativa e desviei o olhar para a sala, onde o Ben e o Axel continuavam bastante animados - Parece que eles se dão muito bem.

- Estou só a brincar contigo. - disse encolhendo os ombros antes que ele acabasse por ficar chateado por eu dizer aquilo, já que estava mesmo a brincar e a dizer aquilo para me meter com ele. Acomodei-me melhor no sofá, continuando a olhar para o Ben. - Sim, ele vai estar à minha espera. - ri-me levemente. - Mas fico contente que gostes da minha companhia... - acabei por dizer em seguida.

Baixei o olhar ao ouvi-la, observando o cigarro que tinha nas mãos. - Tu estás a ir bem. - Mordi o lábio inferior. - Depende de ti, se continuas assim. - Fiz um esforço para não dizer mais nada, porque não conseguia perceber o que é que seria ofensivo. - Na clínica um dos pacientes deu-me um e ensinou-me a fumar, disse que era bom para quando não sabíamos o que fazer e estávamos nervosos. - Ainda não sabia onde é que havia o "bom" naquilo, mas sabia que estava a perder uns minutos da minha vida. Levantei a cabeça para seguir o olhar de Olivia, sorrindo ligeiramente. - O teu irmão gosta de rapazes?