Casa

Atirei-me para o sofá, ajeitando imediatamente o intercomunicador na mesinha para ficar atento ao Tommy. Ri com o que a Daisy disse e encolhi os ombros - Óbvio. É que estou com uma dor de costas e preciso de uma massagem... és a única disponível... - disse formando aos poucos um beicinho.

- Gostas? - perguntei sorridente - Isso é mesmo bom porque eu estou a falar a sério. Passei a manhã toda debaixo de um carro e tenho as costas num oito. - olhei para ela ao vê-la tapar a cara e ri - Porquê? Não consegues resistir? Ainda bem, assim ganho o lanche e ainda uma massagem hoje. - disse sorridente.

- É impossível não ficar habituado à boa vida. - disse sorridente enquanto encostava a cabeça ao sofá e a olhava. Endireitei-me com um sorriso ainda maior quando ela perguntou se tinha algum creme - Tenho sim e vou buscar antes que tu mudes de ideias. - levantei-me e fui rapidamente à casa de banho buscar um dos cremes da Kim.

Ri-me.
- Não vai acontecer muitas vezes, no entanto.
Não contive uma gargalhada quando ele praticamente correu para fora da sala.
- Não vou mudar de ideias, Wade. - descancei-o.

- Mas devia. - disse-lhe com um sorriso assim que voltei a aparecer na sala com o creme nas mãos - E ainda bem que não mudas de ideias. Sou o teu motorista e ainda te convido para vir a minha casa, o mínimo que podes fazer é tratar das minhas costas. - brinquei sorrindo-lhe, passando-lhe o creme para as mãos.

Abanei a cabeça enquanto a olhava - Não mudes as coisas. - disse-lhe de olhos semicerrados - Sabes muito bem que isso é mentira. - sorri quando ela apontou para o sofá e me mandou despir e fiz exatamente isso, colocando a minha t-shirt para um canto antes de me deitar no sofá - És uma querida. - coloquei uma almofada debaixo da cabeça enquanto lhe sorria.

Ri enquanto encostava a cara à almofada mas acabei por levantar a cabeça pois era a única forma de ela me ouvir e perceber - Sempre foste. Excepto quando me impediste de entrar no prédio. Mas agora já me vais compensar. - disse sorridente antes de voltar a deitar a cabeça - Pronto. - respondi meio incompreensívelmente por causa do tecido e por isso levantei o polegar para ela perceber.

Continuei deitado e com os olhos fechados mas assim que senti as mãos da Daisy nos meus ombros foi impossível não sorrir contra a almofada. Tinha mesmo ficado dorido depois da manhã inteira debaixo do carro que nos tinha sido trazido para ser tratado com urgência e aquilo sabia mesmo bem.

Continuei a fazer a massagem por longos minutos, sentindo Wade relaxar o meu toque. Sorri, satisfeita por, pelo menos ele, apreciar o que eu estava a fazer.
- Ei... - murmurei ao seu ouvido, massajando o seu pescoço cuidadosamente. - Quase a dormir? - usei o mesmo tom de voz, sem me afastar.

Estava tão descontraído e relaxado que quase saltei quando ouvi a voz da Daisy ao meu ouvido. Não saltei mas senti-me arrepiar na zona da nuca. Levantei a cabeça de forma a conseguir olhá-la e sorri - Bem... ligeiramente. Tens mesmo jeito e estava mesmo a precisar.

Afastei-me quando ele levantou a cabeça, ficando demasiado próxima dele por um milésimo de segundo.
- Own, obrigada. - sorri timidamente. - És o único que aprecia, no entanto. - fiz uma careta.
Aos poucos, com a presença de Wade, dei por mim a deixar escapar, automaticamente, certos comentários que detalhavam mais tudo na minha vida, principalmente a relação com Joe. Não me sentia mal por fazê-lo, apenas lamentava as pequenas comparações que fazia na minha mente. Wade não era como Joe e Joe nunca seria como Wade. Nem um terço. E eu lamentava isso mais do que tudo. A última parte. E mais do que lamentava as comparações. Se Joe fosse um terço do que Wade me demonstrava ser, eu não me precisaria de esconder por detrás de falsas confianças e emoções. E não ficaria confusa e baralhada como naquele momento.
Reparei que todos os meus pensamentos me fizeram desligar do mundo em redor e as minhas mãos pararam, pairando sobre as costas de Wade.
- Desculpa. - pedi sem pensar, num murmúrio, voltando a fazer a massagem.

- Bem, de nada e ainda bem que sou porque isso significa que já sei a quem recorrer como minha massagista pessoal. - brinquei com um meio sorriso nos lábios. O silêncio reinou na sala e aos poucos fui sentindo as mãos da Daisy a parar mas a massagem dela tinha-me deixado tão descontraído que a realidade é que o cansaço do dia do trabalho começava mesmo a dar de si. Voltei a abrir os olhos quando a ouvi a desculpar-se e sorri novamente - Não tem problema. Está tudo bem?

Sorri para ele e assenti em relação à sua pergunta. 
- Distração. - falei baixo. - Eu... - comecei e abanei a cabeça, respirando fundo. - Perco o foco, às vezes. - fiz uma careta. - Eu sei. Isso é irritante, mas ando a trabalhar nisso. Não tem resultado mas pronto. - suspirei e olhei para os movimentos das minhas mãos. - Desculpa. Não sei o que estou a dizer. Tendo a divagar, também. Desculpa. - pedi de novo.

Assenti ao ouvir a sua resposta e revirei os olhos - Já te disse toneladas de vezes que não tens de me pedir desculpa. - relembrei-a - É como és e não tens de fazer nada para o mudar. - disse-lhe sinceramente e sabendo perfeitamente que parte daquela insegurança toda se devia ao namorado dela. Aquele idiota.

Engoli em seco e quase me encolhi com o seu tom de voz e as suas palavras. Ele parecia chateado.
- Não te queria deixar chateado. Desculpa. - disse rapidamente e suspirei.
Mordi o lábio inferior e assenti.
- Yeah... - murmurei, apesar de não concordar com ele.

- Não me deixaste chateado. - disse-lhe rapidamente juntando as sobrancelhas e sentando-me de uma vez no sofá de forma a ter o meu olhar à mesma altura que o dela - Hey. - chamei agarrando-lhe nas mãos - Não estou chateado Daisy. E não te quero assim. - disse espetando uma vez mais os dedos nas suas costelas antes que ela tivesse tempo de dizer qualquer coisa.

Observei Wade sentar-se e afastei as mãos do seu corpo até ele mas agarrar.
- Eu... - fiz uma careta. - Yeah, sim. Tudo bem. Eu estou bem. - esbocei um pequeno sorriso e olhei-o, finalmente, esperando que fosse o suficiente.
Encolhi-me com a surpresa dos seus dedos nas minhas costelas e mordi o lábio inferior com força, até me doer, tentando controlar-me para não reagir mal e deixá-lo chateado mesmo.

- Vais deixar-me deprimido se continuas com essa cara. E se me deixares deprimido vais ter de aturar dois chorões mal o Tommy acorde. - ameacei-a esticando-me até o sítio onde tinha pousado a minha t-shirt para vestir a mesma e não estar apenas em tronco nu à frente da Daisy que já parecia incomodada o suficiente.