Casa

Fui atrás dela até à sala, lembrando-me do dia em que tinha adormecido junto a ela, tinha sido a primeira vez que tinha conseguido dormir tão descansado ao lado de alguém que não fosse ou o meu irmão ou a minha mãe... quando era criança. Nem com a minha ex-namorada o tinha feito.
Assenti, agradecido por ela garantir que guardava segredo. Eu não queria segredo, simplesmente não queria que falassem como se eu tivesse uma doença grave, não era uma doença, era uma condição.
-Estás a sentir-te melhor?

Continuei deitada no sofá mas ajeitei-me de forma a permitir que que o Aaron também se sentasse ao meu lado em vez de estar ali em pé. Fui fechando os olhos para tentar ignorar aquela sensação mas a verdade é que agora que estava em casa, a curtos metros do meu quarto onde tinha tudo guardado, sentia-me cada vez mais ansiosa mas não queria ir tomar nada com ele aqui. Ele sabia sempre perceber os meus sintomas e perceber quando eu tinha ou não tomar alguma coisa e... não queria desiludi-lo ou algo do género a tomar comprimidos. O que era estranho e ridículo mas ainda assim - Nem por isso. - respondi sinceramente com um sorriso - Mas já passa. - esperava eu.

Quando ela respondeu que não estava melhor, juntei as sobrancelhas, com o peso do telemóvel no bolso, a dizer-me que o melhor era telefonar a uma ambulância para a levar até ao hospital, mas não sabia se estaria a exagerar ou não, e ela não queria ir, por isso, mantive-me imóvel e brincar com o comando da televisão entre as minhas mãos.
- Eu posso ir chamar o teu irmão, se quiseres, ele pode saber o que fazer... melhor que eu.

Agarrei numa das almofadas do sofá, apertando-a contra o meu peito enquanto tentava afastar os meus pensamentos dos comprimidos. Estava a resultar... Ou então não... Abri os olhos ao ouvir novamente a voz do Aaron e abanei a cabeça - Não, deixa-o estar. - não sabia o que é que ele e o Axel estavam a fazer mas a última coisa que queria era incomodar aqueles dois. O Ben ainda me matava e eu estava a torcer por Aben, mais que não fosse porque ao menos o Ben sempre estava acompanhado e feliz - Os nossos irmãos juntos foram Aben. - disse divertida - Aben. - repeti rindo-me e fiz uma careta de dor quando o som me deu uma pontada na cabeça - Eu.. hm.. - mordi o lábio inferior nervosamente - A verdade é que ainda não tomei nada hoje, por isso é que estou assim. - confessei.

Olhei para trás, tentando ouvir algum som que me indicasse que eles estavam em casa, apesar de Olivia dizer que sim, mas quando imagens se formaram na minha cabeça, fiz uma careta e deixei rapidamente de pensar neles... o que eles faziam dentro do quarto era preocupante, mas eu não queria imaginar. - Aben? - Juntei as sobrancelhas. - Não compreendo. - Admiti, mas ela já estava a dizer que a razão pela qual estava assim era por não ter tomado nada, e isso queria dizer que ela ainda não se tinha drogado... - oh... - foi a única coisa que fui capaz de dizer, desviando o olhar para os meus dedos à volta do comando da televisão. - Podes tomar se quiseres. Não devias, mas a vida é tua e eu não a posso controlar.

Apoiei os cotovelos no sofá para olhar para o Aaron melhor e assenti com a cabeça - Sim, aben é o nome de ship deles. Axel e Ben. Aben. - expliquei antes de me voltar a deixar cair para trás. Mordisquei o lábio inferior quando ele disse que podia tomar alguma coisa e encolhi os ombros - Eu sei mas... - mas não queria que ele pensasse mal de mim e também não queria ser cínica e negar comprimidos ao Ben quando eu os tomava como se fossem simples aspirinas - Não sei. - acabei por dizer apenas, voltando a encolher os ombros.

Levantei as sobrancelhas, assimilando o que tinha dito. - Nós temos um? - Perguntei com um sorriso entusiasmado. - Aaron e Olivia... - pensei baixinho, mas acabei por fazer uma careta. - Aolivia?... Não faz sentido.
Encostei as minhas costas ao sofá, ficando de frente para ela, mas com o olhar fixo na janela que estava aberta e mostrava o pôr do sol. - É uma escolha que só tu podes fazer. - Encolhi os ombros. - É a tua vida.

Mordi o lábio inferior para tentar reprimir um sorriso quando ele perguntou qual seria o nosso nome de ship - Ainda não tinha pensado nisso. - respondi sorridente - Aarivia? Não sei. - soltei uma gargalhada devido àquela conversa - O que sei é que estamos todos em família por isso podemos começar a chamar-nos de Wells King. - aquela conversa estava a conseguir distrair-me dos comprimidos e isso era algo que eu gostava no Aaron, com ele conseguia esquecer-me desse tidpo de coisas - Eu sei mas é mais fácil tomar aquilo que aturar a realidade. - encolhi os ombros - Não quero pensar nisso agora.

-Isso só acontece se alguém de nós se casar com o outro. - Relembrei-o, percebendo que ela não queria falar sobre o assunto, por isso, ignorei-o de imediato. - Eu acho que também s..shippo os nossos irmãos. - Disse com alguma dúvida se estaria a falar corretamente. - Eles vão casar-se... se fosse legal. - Cruzei os braços com uma careta pensativa. - Eu não sei se é legal aqui, tenho que pesquisar.

Voltei a encolher os ombros e sorri devido ao tema mas também por o Aaron ignorar a conversa dos comprimidos tal como eu tinha pedido - Mesmo que nenhum de nós case já nos estamos a tornar uma família. Já passamos mais tempo juntos que com outras pessoas. - pelo menos isso acontecia no nosso caso - Por isso, Wells King. - repeti sorridente, sorriso este que só alargou quando o Aaron disse que shippava os nossos irmãos - Aww, aben. - ri com a minha própria piada - Também gosto de os ver juntos. O Ben precisa de se animar e o Axel está a conseguir fazer isso e não sei, eles ficam bem juntos. - concordei sorridente - Hmm também não sei. - juntei as sobrancelhas - Mas se eles ficarem próximos de casar podemos sempre ir a outro sítio realizar o casamento.

Abri a boca para a contrariar e dizer que só seriamos da mesma família se algum de nós se relacionasse com outro, mas acabei por me calar, não valia a pena, as pessoas falavam por códigos. - Wells King. - Sorri. - King Wells não soa mal. - Comentei.
-O teu irmão não parece muito saudável. - Admiti, fazendo uma careta. - Mas toda a gente merece ser feliz. - Sorri-lhe. - Sim, na América já é legal.

Encolhi os ombros também com um sorriso nos lábios - Tanto faz, fica bem de qualquer das formas. É um sinal. - acrescentei ainda mais sorridente. Mordi o lábio inferior quando ele disse que o Ben não parecia saudável e acabei mesmo por suspirar - Ele passou por muita coisa. - confiava no Aaron e já lhe tinha contado bastante sobre mim mas não ia contar sobre o Ben afinal não sabia o que é que ele já tinha dito ao Axel e não queria ser eu a contar algo que não era meu para contar - Mas merece mesmo ser feliz e espero que o venha a ser. - assenti com a cabeça quando voltámos ao tema do casamento entre os nossos irmãos - Não sei se conseguíamos convencer o Ben a ir aos EUA mas podemos sempre tentar. - disse sorridente.

Assenti, remexendo as minhas mãos umas nas outras. Benjamin não parecia má pessoa e, sendo Olivia irmã dele, duvidava mesmo que fosse mau. - Também espero que sejas feliz. - Murmurei. - Às vezes não pareces muito feliz. - Continuei no mesmo tom, desviando o olhar para a televisão apagada. - Talvez também te cases. - Mostrei-lhe um meio sorriso.

Ele era simplesmente adorável por isso ajeitei-me melhor no sofá, com a cabeça encostada a uma almofada enquanto arranjava forma de conseguir olhar para ele e sorri - Neste momento estou feliz. - quanto ao futuro não sabia como seria mas aquela era a verdade. Encolhi os ombros com o seu comentário em relação a eu casar. A verdade é que não me via a fazê-lo, já nem sequer me via em relações. Tinha tido a minha quota parte de relações que tinham dado para o torto e estava farta de esperar pelo príncipe encantado que era mais do que evidente que não ia aparecer. Ou pela história perfeita que também não existia - Não sei. Mas quem sabe. - encolhi os ombros - E tu? Gostavas de casar? Ter filhos?

Sorri, contente por saber que ela estava feliz agora, ao pé de mim enquanto me fitava; embora eu não conseguisse olhá-la como ela me olhava, os seus olhos pareciam diferentes de antes, de quando estivera a sentir-se mal, e se isso queria dizer que ela não estava triste, eu queria que ela ficasse assim para sempre.
-Eu... - Juntei as sobrancelhas, parando a meio da frente. Eu sabia a resposta, mas também sabia que nunca ninguém me ia querer como marido ou pai dos seus filhos. Mesmo assim, decidi responder. - Eu queria dois filhos. Só depois do casamento, mas dois. Um menino e uma menina, e não importa se o rapaz é mais velho ou não, a menina vai saber proteger-se. Vou ensiná-los, aos dois.

Mantive o meu olhar fixo no Aaron e um sorriso parvo nos lábios. Continuava a sentir um zumbido na cabeça mas tentava não pensar na curta distância a que me encontrava do meu stock, mantendo-me concentrada na nossa conversa. E mesmo sem ter tomado nada, parecia que estava ligeiramente mocado porque não conseguia parar de olhar para ele e sorrir. Oh por amor de deus... - Já tens tudo pensado. - brinquei - Podes sempre ter gémeos. - acrescentei sorridente - Se nós tivessemos filhos podíamos ter gémeos. E os nossos irmãos também. Se isso fosse fisiologicamente possível. - acrescentei mordendo o lábio inferior para tentar não me rir ao imaginar o Ben com um bebé, era engraçado mas adorável.

- Sim, eu fiz uma lista de coisas que quero fazer enquanto estive internado. - Respondi. Tinha tido tempo para pensar muito no que queria fazer. - É geneticamente mais provável geneticamente ter gémeos por causa da mulher, mas sim, eu não me importava. - Encolhi os ombros. Sorri face ao que ela disse dos nossos irmãos e preparei-me para acrescentar algo, mas ela fê-lo por si própria, deixando-me satisfeito. Desviei o olhar na sua direção, procurando fitar os seus olhos de verdade e engoli em seco. - Tens os olhos muito azuis. - Acho que não era a primeira vez que lhe dizia aquilo, mas era a verdade; eles eram grandes, lindos e de um azul celeste que existia em poucos.

- E para além de casar e ter filhos que mais é que faz parte da tua lista? - perguntei sorridente - Algo que seja possível para um futuro próximo e para o qual precises ou queiras a minha companhia. - ajeitei-me melhor no sofá enquanto o observava - Adoro aventuras. - acrescentei pensativa - E apesar disso e de gostar de ti, não me ofereço para casar e ter filhos. Para já pelo menos. - disse com um meio sorriso que se tornou um sorriso sincero com o seu comentário seguinte - E isso é bom ou mau? - perguntei ainda a sorrir. Só mesmo o Aaron para elogiar uma pessoa e o elogio ser estranho, adorável, mas estranho.

Eu tinha a minha lista quase toda decorada, por isso foi fácil lembrar-me de alguns pontos. - Ter um grupo de amigos que gostem de mim de verdade. - Comecei. - E vender um quadro. - Continuei. - Eu não estava a pedir para seres a mãe dos meus filhos, nem para casares comigo. - Esclareci quando ela disse que não se oferecia para tal.
Mordi o lábio inferior, encostando as costas ao sofá. - É bom, eu gosto de azul celeste.

- Eu gosto de ti. E sou tua amiga. - acrescentei com um sorriso - Posso ser só uma mas isso já meio que risca esse ponto da lista? - sugeri - Eu não vou desistir da ideia de te ajudar com os quadros. - sentei-me no sofá entusiasmada com aquela ideia - Os desenhos que vi estavam espetaculares e tenho a certeza que o resto dos teus trabalhos também. - disse sorridente - Aww obrigada Aaron.

Juntei as sobrancelhas, sem saber o que responder a Olivia. A minha cabeça estava confusa, eu não sabia quem é que poderia gostar de mim de verdade, mas ela ainda não me tinha desiludido. Apesar de não ter gostado de si no dia em que a conheci, isso só me fazia crer que talvez ela fosse mesmo minha amiga. Mas, mesmo assim... - Talvez. - Encolhi os ombros devagar, mordiscando o meu lábio inferior que já devia estar em ferida. - Se quiseres ver os outros, vais ter que vir comigo a casa dos meus pais... eles não me deixaram levá-los para casa do meu irmão.

O talvez dele foi o suficiente para mim naquele momento por isso assenti com a cabeça e sorri - Por mim tudo bem. - encolhi os ombros ainda com o olhar fixo no seu rosto - Se bem que poderia ser numa altura em que eles não estivessem em casa? Confesso que daquilo que ouvi sobre eles, não morro propriamente de amor por eles. - disse com uma pequena careta - Mas gostava muito de ver os teus outros quadros. - disse sinceramente.

Baixei o olhar, sentindo-me desconfortável quando os seus olhos se fixaram apenas e só em mim, e encolhi os ombros para lhe responder sinceramente. - Nunca sei quando estão em casa. São pessoas imprevisíveis - coisa que eu detestava - e nunca sei se estão a trabalhar em casa ou nos escritórios. - Admiti. Juntei também as sobrancelhas, sem realmente perceber o que é que ela queria dizer com o "não morro de amor por eles", mas acabei por ignorar, sorrindo ligeiramente. - Podemos arriscar, se quiseres.

Depois de tudo o que ele já tinha contado sobre os pais dele e tendo em conta a minha experiência com os meus, a última coisa que queria mesmo era conhecer os pais do Aaron mas mesmo assim, estava mesmo interessada em ver os quadros dele por isso ia correr o risco - Tudo bem, vamos arriscar. - concordei com um sorriso nos lábios.

Encostei a cabeça ao sofá, sentindo-me cansado depois de tudo o que já tinha acontecido durante o dia -- estava habituado a estar só e unicamente em casa, a pintar ou a fazer outra coisa produtiva para os meus trabalhos, não era provavelmente uma pessoa que passasse por muita coisa durante o dia.
-Estou com fome. - Comentei, decidindo que tinha que marcar um dia para combinar com Olivia para ir a casa. Também não queria apanhar os meus pais, eles iam tentar convencer-me a ficar em casa deles, mas eu não queria mais. Olhei para trás, procurando encontrar alguma prova física de que o meu irmão se encontrava ali, mas acabei por desistir. - Podes fazer-me torradas?