Casa dos pais King

Relembrando a primeira mensagem :

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Assenti com a cabeça quando ele respondeu que preferia ficar e agradeci à empregada quando nos trouxe as taças de gelado. Levei uma colherada de gelado à boca e tentei não rir com o comentário do Aaron sobre os nossos irmãos - Sim, podemos mesmo combinar alguma coisa os quatro. - concordei - E se eles estiverem juntos não há problema. Ou não achas que o meu irmão seja bom para o teu irmão? - perguntei de olhos semicerrados.

-Mas sem discotecas. - Acrescentei de imediato, passando uma mão pelo cabelo. - Não gosto. - Continuei, ouvindo-a perguntar se não achava que o seu irmão não seria bom para o meu. - Não sei. - Encolhi os ombros. - Ele não parece gostar muito de mim, mas se o Axel anda a sair com ele quer dizer que não é má pessoa, por isso, não me importo. - Mordi o lábio inferior, enfiando uma colher de gelado na boca. Conseguia ouvir os passos da minha mãe a ecoar pela sala; era uma questão de minutos até ela nos vir chatear.

- Sem discotecas. - repeti sorrindo - Até podes ser tu a escolher o sítio. - sugeri enquanto comia o gelado e observava a chuva; sempre tinha tido uma paixão por isso - Eu acho que eles têm parecenças. - disse pensativa - Por isso é que à primeira vista se dão tão mal mas no fundo gostam de estar juntos.

-Não. - Abanei a cabeça com uma careta. - Não sou bom nisso, provavelmente escolheria de novo o museu e o meu irmão até podia tolerar, mas vocês iam estar aborrecidos e eu não quero que seja aborrecido. - Insisti, engolindo em seco ao ouvir os passos mais perto. Sustive a respiração quando a vi a dar a curva e sair pela cozinha.
-Aaron, filho! Ouvi a tua voz e tive que- - ela parou de falar e olhou para Olivia. - Boa tarde - disse de forma mais formal. - Sou a mãe do Aaron. - Apresentou-se.

Olhei novamente para ele quando falou e abanei a cabeça - Ninguém ia ficar aborrecido. - tentei descansa-lo - Podemos sempre ir a um jardim ou algo do género. Prometo que antes de combinarmos deixo-te dar o aval. - sorri e calei-me quando uma mulher entrou na cozinha. Tinha algumas parecenças com o Aaron e tendo em conta que o tratou por filho não era difícil descobrir quem era - Boa tarde. - cumprimentei de volta com um sorriso - Olivia, amiga do Aaron.

Pestanejei. - Deixas-me dar o quê? - Perguntei, apesar de não ter tempo de responder. Sentia os meus músculos tensos; não era assim que um filho se deveria sentir ao lado da mãe, mas entre ela e o meu pai, ela era muito mais manipuladora, conseguia sempre dar-me a volta.
-Amiga... - Comentou num tom sugestivo. Engoli em seco, passando as mãos pelas pernas, como fazia sempre que estava nervosa. - Bom saber. Aaron, podemos falar uns minutos? Prometo que não te roubo mais tempo.
-O tempo não se rouba. - Murmurei, levantando-me devagar. - Fica à vontade, Olivia. - A minha mãe agarrou-me na mão e puxou-me até a um canto que ainda ficava abrigada da chuva.
-Quem é esta rapariga? - Perguntou.
-Ela disse-te. - Respondi.
-Uma amiga, Aaron? - Abanou a cabeça, tentando-me fazer compreender algo que eu não percebi. - Estás a deixar-te ser enganado outra vez? Sais desta casa para ir ter com o teu irmão e é isto que te acontece? - Continuou entre dentes e num tom ligeiramente mais alto.
-Não me aconteceu nada, mãe. - Murmurei.
-Aconteceu, estás a ser enganado, achas mesmo que ela quer mesmo estar contigo? Se não quer dinheiro, está interessada no teu irmão, como a outra. - Perguntou, com as suas mãos a apanharem o meu braço, a abanarem-no. Afastei-me, já com as mãos a tremer e com suores frios a percorrerem-me o corpo. Ela fazia sempre aquilo, por isso, é que tinha tido uma quebra e ido parar até ao hospital onde eles me tinham posto. - Aaron... estás a ouvir-me? Eu só te digo isto para não ires parar de novo àquele hospital horrível.

Assenti com a cabeça antes do Aaron ser puxado pela mãe dele. Tinha acabado de a conhecer e a mulher parecia uma bruxa, juntando os poucos comentários que já tínhamos trocado antes sobre os nossos pais deixei-me ficar mas mantive-me de olho. Acabei o meu gelado tentando controlar-me mas quando a ouvi levantar a voz e vi o estado em que o Aaron estava a ficar passei-me e levantei-me do banco - Aaron? - chamei ignorando por completo a mulher antes que falasse algo que pudesse tornar a situação ainda pior - Estás bem?

Dei um passo atrás, desviando o olhar para Olivia, que se tinha levantado após a minha mãe levantar a voz. Esperava que ela não tivesse ouvido nada, não queria que houvesse perguntas ou que muito menos ela pensasse que era um falhado; provavelmente já o sabia, mas era diferente depois de ouvir o que a minha mãe estava a dizer.
Abanei a cabeça a Olivia, voltando a dar outro passo atrás; sentia-me quase como se o sangue tivesse ido todo embora do meu corpo. - Podes levar-me de volta a casa? - Pedi. - Isto foi má ideia desde o início. - Murmurei, lembrando-me da minha tentativa falhada de lhe mostrar os meus desenhos.

Estava preocupada com ele, era mais do que evidente que o que quer que a mãe lhe tinha dito estava a deixa-lo bastante incomodado e sentia-me mal por ele. Assenti com a cabeça ao ouvi-lo - Claro que sim, vamos. - tirei as chaves do carro do bolso das minhas calças e aproximei-me dele sem lhe tocar para não o deixar mais incomodado.

-Não, Aaron... - ela suspirou audivelmente, tentando impedir-me, mas eu já me tinha afastado o suficiente para que ela não me tocasse. Os meus olhos estavam a arder e sentia vagamente a sensação de que ia chorar, por isso esfreguei-os antes que isso pudesse acontecer.
Andei em silêncio, evitando fitar a rapariga que andava ao meu lado. Não tive tempo para me despedir de ninguém, apenas andei e andei, respirando fundo quando sentia que ia desmoronar -- isso não ia acontecer, não ia mesmo. Isto tudo já tinha sido suficiente mau para alguém como ela, que tinha acabado de me acontecer.
-Tenho que te pedir desculpa... eu sabia que ia ser... mau... mas não era assim...

- Boa tarde. - disse apenas à mulher antes de virar costas e caminhar com o Aaron até ao meu carro que não estava estacionado muito longe. Virei-me para ele quando voltou a falar e abanei a cabeça - Não tens de pedir desculpa. - disse-lhe honestamente - Há alguma coisa que possa fazer? Para te sentires melhor? - perguntei preocupada - Queres que te leve a casa do teu irmão ou queres ir a algum outro sítio?

Olhei para trás, vendo a minha mãe a vir atrás de nós e parar quando já estávamos a sair da cozinha. Eu e o meu irmão éramos teimosos e isso tinha vindo dela, depois do que ela tinha dito, tinha a certeza de que ela iria voltar a insistir no assunto, nem que aparecesse em casa de Axel.
-Não. - Respondi a Olivia. - Mas eu fico bem. - Garanti. Já tinha acontecido pior e, tendo em conta no ponto fraco que ela tinha tocado, era de admirar que não estivesse em pior estado. - Axel. - Respondi apenas e parei quando ouvi um latido. Olhei para trás antes de abrir a porta da entrada e esperei até Mar vir ter comigo. Sorri quando ela se esfregou na minha perna e observei a minha casa. - Posso levar a minha cadela no teu carro? - Perguntei.

Mordisquei o lábio inferior mas assenti. Deixaria-o em casa até me assegurar que o Axel lá estava para estar junto do irmão porque deixar o Aaron sozinho não me parecia as melhoras das ideias neste momento. Sorri quando a cadela voltou para junto de nós - Podes. - respondi com um sorriso antes de lhe fazer festas atrás das orelhas - Ela é adorável.

-Pois é. - Concordei, afagando a cabeça da cadela; ela só podia receber mimos quando estava "de folga", por isso ansiava ainda mais por festas do que qualquer outro cão. - Anda, Mar. - Abri a porta, andando calmamente até ao carro, apesar de querer sair daquela casa o mais rápido possível. Para a próxima só entraria ali dentro quando soubesse que eles não estariam em casa.

Ajudei o Aaron a meter a cadela nos bancos de trás do carro antes de entrar no mesmo - Sabes se o Axel está em casa?- perguntei-lhe assim que liguei o carro e arranquei para fora da propriedade dos pais deles - Não te quero deixar sozinho. - disse honestamente.

Coloquei o cinto, depois de ter a certeza de que Margarida ia bem no banco de trás, e encolhi-me ligeiramente, tínhamos apanhado uns pingos de chuva e o tempo não estava propriamente amigável.
-Não sei, acho que ele ia estar com o teu irmão. - Murmurei. Tinha as palavras da minha mãe na cabeça e sentia que devia ignorar o que me dizia, mas não conseguia. Sabia-me bem ter uma amiga e já tinha falado com ela sobre o assunto, ela sempre dissera que estava comigo porque queria. - Eu fico bem sozinho. - Respondi. - Mas podes ficar comigo se não tiveres nada para fazer.

Naquele momento estava mais preocupada com o Aaron do que com os estofos do carro e conduzi com atenção à estrada apesar de lhe ir prestando também atenção - Não tenho nada para fazer e quero ficar contigo. - acrescentei - Não me mostraste os desenhos que tinhas em casa dos teus pais mas podes outros que tenhas lá em casa.

-Queres mesmo? - Não consegui evitar perguntar, fitando os meus joelhos quando percebi que realmente o tinha perguntado. Cerrei em punho as mãos e esfreguei-as nas calças, voltando a fitá-la. - Eu posso ficar sozinho, a Margarida é mais inteligente do que parece. - Ela estava treinada para estar comigo quando eu estava nervoso, ou até quando eu tinha um dos meus ataques que nem eu entendia.

- Quero mesmo. - respondi-lhe honestamente e olhei por cima do meu ombro para a cadela - Acredito. Sempre quis ter um cão mas os meus pais nunca quiseram. - encolhi os ombros - O Bee tem aquele gato que acho que me odeia por isso acabei por nunca estar muito próxima de outros bichos. - olhei pelo canto do olho para o Aaron - E não sei o que é que ela te disse mas já te disse antes que gosto de ti e de estar contigo, isso não mudou.

Mordi o lábio inferior, encostando a cabeça ao apoio do banco, ouvindo-a falar sobre o cão, Ben e o gato. - Eu gosto de gatos. - Murmurei. - São fofinhos e brincalhões, apesar de poderem ser chatos. - Acrescentei. Não me lembrava de ver nenhum gato em casa deles, mas para a próxima vez que lá fosse, se isso existisse, iria ficar mais tempo à sua procura do que a olhar para Ben, para ver se ele gostava ou não do meu irmão.
Fitei-a quando voltou a falar, desviando rapidamente o olhar de novo. -Obrigado. - Foi a única coisa que consegui responder, se lhe dissesse outra coisa, ela provavelmente ficaria zangada.