Quarto do Aaron

Entrei no meu quarto depois de ver o meu irmão entrar no dele, lembrando que normalmente ele passava as noites fora e a fazer não sei bem o quê. Acho que ele estava a tentar melhorar e, por enquanto, estava a conseguir. - Até amanhã. - Despedi-me antes de fechar a porta. Observei o meu quarto, tomando os meus comprimidos para conseguir dormir uma noite tranquila mas, antes disso, despi-me e peguei nas minhas tintas. Estava inspirado, tinha que aproveitar antes de serem horas de dormir e perder tudo o que já tinha imaginado.

Não sabia onde levá-la, não era bom para esse tipo de coisas, mas ela parecia ser uma rapariga cheia de ideias, por isso ia confiar nela. - Não. Eu vou tomar banho. Combinámos sair, eu vou... eu vou e vamos sair. - Assenti para mim próprio. - E... fica à vontade. - Virei costas e enfiei-me na casa de banho.

Olhei em volta mal entrámos no seu quarto e sorri ao observar o espaço porque era exatamente como eu imaginava que fosse o quarto do Aaron - Tudo bem. - disse-lhe com um ligeiro encolher de ombros - Eu fico aqui à tua espera. - disse enquanto me sentava na ponta da cama.

Gostava de banhos longos, mas tinha aprendido que ninguém gosta de esperar, por isso, apressei-me a esfregar o corpo e a lavar a tinta colada à pele. Era engraçado lembrar-me que há pouco mais de umas duas semanas não a queria deixar entrar no meu quarto porque ela era uma desconhecia, e agora tinha-a deixado entrar sem pensar em tal coisa. Limpei o cabelo com uma toalha, enrolando com outra a minha cintura e saí da casa de banho, à procura da roupa que iria vestir. Mas...
-Onde é que vamos? Preciso de saber para saber o que vou vestir.

Estava distraída com o meu telemóvel quando a porta da casa de banho se voltou a abrir. Arregalei os olhos ao ver o Aaron entrar no quarto com nada a não ser uma toalha à volta da cintura e demorei alguns minutos a desviar o olhar, aquilo que era suposto fazer apesar de não ter a mínima vontade - Ahm. - mordi o lábio inferior enquanto esperava que o meu cérebro voltasse a funcionar - Tínhamos falado em ir a casa dos teus pais? - saiu mais em forma de pergunta que afirmação mas era o que conseguia naquele momento.

Juntei as sobrancelhas quando ela não me respondeu logo, mas ao lembrar-me que tinha realmente falado daquilo, senti o meu estômago contorcer-se com medo. Tinha que lhe mostrar os desenhos em algum momento, só não sabia se era melhor fazê-lo já. Engoli em seco, agarrando nuns boxers e afastando a toalha para os vestir. - Sim, acho que pode ser. - Clareei a garganta. - Podes ir. Espero que os meus pais não estejam lá. - Continuei num desabafo, à procura da melhor roupa para ir para casa; alguma coisa prática, mas ligeiramente mais formal para o caso da minha mãe aparecer.

Consegui ver pelo canto do olho que o Aaron andava de um lado para o outro a vestir-se e por isso quando ele clareou a garganta e voltou a falar foi quando me decidi a olhar novamente para ele, achando que já estava vestido. O que não aconteceu. Ele andava a passear-se de boxers pelo quarto e eu não conseguia desviar o olhar por mais que o meu cérebro dissesse que o devia fazer - Podemos fazer outra coisa. - foi a única coisa que consegui dizer.

Agarrei nas calças pretas que tinha no fundo do armário, vestindo-as com calma. - Eu não sei. - Encolhi os ombros, desviando o olhar para o chão, sem saber o que fazer. - Acho que vai ser bom irmos lá, ainda não nos conhecemos assim tão bem e queria que conhecesses parte de mim. - Admiti, pegando numa camisa aos xadrez para vestir.

Finalmente ele estava vestido e já não havia riscos de eu me embasbar feita parva ao olhar para ele - Claro. - o meu cérebro ainda não funcionava a cem porcento - Por mim parece-me bem. - acrescentei com um ligeiro encolher de ombros.

Passei a toalha pelo meu cabelo -agora loiro- e esfreguei os olhos para me focar. Não precisava de limpar nada, já que mais tarde voltaria ali. - Vamos. - Enfiei os meus documentos e dinheiro nos bolsos e sorri a Olivia quando fiquei pronto. - Estás bem hoje? - Quis saber, lembrando-me que no dia anterior ela se tinha sentido mal no parque.

Passei tanto distraída com a falta de roupa do Aaron que só momentos depois é que reparei que ele tinha mudado a cor do cabelo - Gosto de te ver assim. - disse sinceramente com um sorriso nos lábios - Ficas sexy. - e rapidamente a minha cabeça se enchou de imagens dele apenas de toalha - Hm. - demorei alguns segundos a perceber o que é que ele tinha dito a seguir - Sim. - respondi finalmente - E ainda não tomei nada desde ontem.

Juntei as sobrancelhas ajeitando o casaco que tinha vestido e procurei pelo olhar de Olivia, não realmente o observando - ainda não conseguia. - Assim como? - Perguntei, sem saber o que é que ela queria dizer, mas compreendi que era uma coisa boa quando disse que estava sexy. Quer dizer, isso era bom, certo? - Isso é bom. - Respondi assim que ela disse que ainda não tinha ingerido nada desde o dia anterior. - Podemos ir?

Parecia uma parvinha que não sabia o que fazer ou dizer e tudo porque tinha visto o Aaron só de toalha... Abanei a cabeça para tentar achocalhar o meu cérebro e metê-lo no lugar - Sim, vamos. - disse com um sorriso enquanto o seguia.

Abanei a cabeça para mim próprio, confuso com muitas coisas que se passavam na minha cabeça; continuava a não entender muitas coisas que ela dizia, ou certas maneiras como ela reagia. Abri a porta da entrada, tendo a certeza de que tinha as chaves que Axel me tinha dado, e fechei-a depois dela sair a meu lado. - Já tens o teu carro? - Perguntei, lembrando-me que ela tinha deixado o seu carro no parque de estacionamento, por causa da sua má disposição.

- Tenho. - respondi-lhe enquanto guardava o telemóvel no bolso depois de me assegurar que o Ben não tinha deixado nenhuma mensagem ou chamada perdida como tinha acontecido no dia anterior - Vamos no meu carro? - perguntei seguindo-o.

-Sim, eu não tenho carro. - Respondi. Os meus pais tinham-me obrigado a tirar a carta, mas tinha sido um sacrifício, não gostava da confusão e os outros carros a passarem de um lado para o outro ao pé de mim fazia-me impressão. Além disso, eu não era muito bom condutor. Fitei Olivia por uns segundos, a minha cabeça não parava de relembrar que ia ter que lhe contar sobre os meus desenhos dela; não sabia como o fazer. - Somos amigos, certo? - Fiz questão de perguntar, quando já estávamos fora de casa.

- Tudo bem. - disse com um sorriso enquanto tirava novamente as chaves do carro da minha mala. Segui o Aaron para fora do apartamento e juntei as sobrancelhas ao ouvir a sua pergunta seguinte - Somos. - respondi confusa - Não queres ser meu amigo?

Entrei no carro, o suficientemente contente com a sua resposta. - Quero. - Respondi de forma simples. - E eu já te tinha feito esta pergunta, mas... - meti o cinto - é estranho ser amigo de alguém tão rápido, pelo menos, para mim. - Expliquei, tentando pensar antes de falar, caso contrário ainda ia começar com as minhas frases incoerentes por a minha cabeça estar a mil. - Eu não confio em ninguém, mas tu és bonita e és fácil de gostar, pode ser uma armadilha. - Encolhi os ombros, fixando o olhar nas mãos entrelaçadas umas nas outras. - Mas acho que não é.

Atirei a minha mala para o banco de trás e entrei no carro, preparando-me para arrancar depois de termos os dois os cintos postos - Somos amigos, não estamos a pensar casar. - brinquei com um meio sorriso mas sabia que ele não ia perceber a piada por isso não tinha assim tanta graça como isso... - Não é uma armadilha. - disse-lhe de sobrancelhas juntas - Eu gosto de ti. E de passar tempo contigo. - encolhi ligeiramente os ombros.

Juntei as sobrancelhas com a sua afirmação, negando depois com a cabeça. - Pois não. - Concordei, desviando por momentos o olhar para a janela. Uma das muitas razões, e das mais importantes, pelas quais eu devia ir regularmente ao psicólogo era exatamente por relações com outras pessoas. Quanto mais pensava, mais frustrante se começava a tornar. - Ainda bem. - Assenti. - Só tenho que ter a certeza. - Fitei-a por uns segundos, observando o seu perfil com alguma admiração. - Estás feliz?

- Preciso que me digas o caminho. - relembrei-o enquanto tirava o carro do estacionamento. Voltei a olhar para o Aaron quando perguntou se eu estava feliz e assenti com a cabeça - Estou. - por mais estranho que isso fosse. Ele fazia esquecer-me as drogas e mesmo o quão merda a minha vida conseguia ser - Tu estás feliz?

Normalmente, a única pessoa que me perguntava se estava feliz era a minha psicóloga, era por isso que eu a fazia a outras pessoas, mas nunca realmente soube o que responder. Porque... o que é que é estar feliz? O que é que é a felicidade? Tinha sempre que pensar bem no assunto; estar feliz é relativo. Não me estou a rir, mas posso estar feliz; estou a rir-me, mas posso estar triste.
Mordi o interior da minha bochecha, pensando mais um bocado do que ela. - Deixei o hospital e estou com o meu irmão, posso fazer o que gosto, por isso, acho que não estou triste. - Respondi. - À esquerda.