Casa

Era mais do que evidente que ela não estava bem mas não queria insistir com ela naquele momento quando ela estava tão em baixo e preocupada - Já sabes que se precisares de alguma coisa estou aqui. - relembrei-a, forçando-me a sorrir - Queres ir para casa?

- Claro, podes ficar aqui. - ofereci rapidamente com medo que ela se decidisse a sair dali para outro sítio qualquer e estivesse sozinha e naquele estado num lado qualquer - Só temos de ter cuidado uma vez que vives mesmo do outro lado. - relembrei - E não tens de pedir desculpa, Daisy. Eu disse que te ajudava e é exatamente isso que vou fazer.

Não valia a pena dizer-lhe que não tinha de agradecer por isso não o fiz. Encolhi os ombros ao ouvir a sua pergunta - Já te disse. Eu e a minha irmã tivemos uma vida muito difícil antes de nos conseguirmos afastar e vir para aqui. Ela passou por muito e em alguns aspetos lembras-me dela. Apesar de ter feito o meu máximo nem sempre a consegui proteger e por isso acho que fiquei com um trauma qualquer que me faz querer proteger toda a gente. - disse em tom de brincadeira com um pequeno sorriso.

- Já vi várias vezes o teu namorado e a forma como ele te trata. Não é difícil perceber que ele te obriga a fazer coisas que não queres e que não te trata bem. - tratava-a mal e eram essas as palavras corretas mas uma vez que como seria de esperar, ela achava-se culpada da forma como era tratada, achei melhor dar a volta à situação com outras palavras - A culpa não é tua Daisy. E nem sequer devias deixar que ele te tratasse assim. Não é bom para ti e ele nem sequer tem esse direito.

Olhei para ela depois de acabar de falar e abanei a cabeça - Tu não acreditas mesmo nisso que acabaste de dizer. - voltei a abanar a cabeça - Nada dá o direito a alguém de maltratar a outra pessoa e ele não tem direito nenhum de o fazer contigo nem tu podes achar que a culpa é tua e fizeste algo errado. - tentei soar o mais calmo possível para não a assustar apesar de tudo aquilo me deixar mais do que irritado.

- Mas sabes que não é verdade. - insisti não gostando nada daquela ideia de ela acreditar mesmo que o namorado tinha qualquer direito para a tratar mal - física ou psicologicamente - e que a culpa de isso acontecer era dela. Olhei para as horas quando ela falou no Tommy e de seguida para o intercomunicador onde o conseguia ver ainda a dormir na cama - Sim, tenho de o ir acordar ou ele logo não dorme e a minha irmã tem um ataque.

- Interessa sim e não te quero deixar ir embora neste estado. - disse levantando-me do sofá para ir até ao quarto do Tommy e acordá-lo. Soltei uma gargalhada com a pergunta da Daisy e abanei a cabeça - Não, o Tommy é meu sobrinho. - respondi com um sorriso.

- Claro que podes ficar aqui. - disse-lhe novamente apesar de já o ter dito antes - E podes vir cá sempre que quiseres ou precisares. - acrescentei caminhando até ao quarto do Tommy e sentindo-a a seguir-me - Somos os três bastante parecidos mas não, o Tommy é meu sobrinho. - respondi sorridente. Aproximei-me da caminha dele onde ele continuava a dormir e fui acordando-o aos poucos. Felizmente ele não era aquele tipo de crianças que fazia birras ao acordar e em vez disso acordava sempre com um sorriso nos lábios, coisa que fez enquanto esfregava os olhos.
Quando o seu olhar se fixou na Daisy ele acenou-lhe com a mão ainda a sorrir - Olá.

Ele riu-se e agarrou-se ao meu pescoço como sempre fazia quando eu o ia acordar e tinha demasiada preguiça para se levantar sozinho da cama, apoiando-se assim em mim para se sentar e se levantar de seguida. O Tommy continuava com o olhar fixo na Daisy - Bem. - respondeu-lhe sorridente - Quero ver os bonecos. - pediu fazendo beicinho.
Soltei uma gargalhada porque aquele miúdo fazia-me tanto lembrar a Kim em pequena e estendi-lhe uma mão, que ele agarrou, estendendo de seguida a outra à Daisy - Então anda lá. Temos de mostrar à Daisy os bonecos mais divertidos de sempre.

Mal chegámos à sala o Tommy largou-se das nossas mãos e desatou a correr para o sofá, sentando-me mesmo no meio e fazendo sinal para que eu e a Daisy nos sentássemos ao lado dele antes de se agarrar ao comando e ligar a televisão para a colocar no canal onde ele já sabia que davam os bonecos. Olhei para a Daisy com um sorriso e encolhi os ombros antes de me sentar ao lado do meu sobrinho, dando-lhe assim a ela lugar do outro lado para se sentar também.
- Agora vais ter de ficar a ver os bonecos todos. - disse-lhe ainda a sorrir - Para veres o que eu sofro.
- Não não. - interrompeu-me o Tommy com o comando pressionado contra o seu peito - São muito divertidos. - disse ele com um ar muito sério enquanto olhava para a Daisy.

O Tommy voltou a sorrir enquanto olhava para a Daisy e de seguida olhou para mim com ar amudado - O tio é feio, a Daisy não. - disse ele ainda a sorrir enquanto se chegava para mais perto dela e lhe agarrava na mão pronto a apresentar-lhe todos os bonecos que começavam a aparecer na televisão.
Abanei a cabeça também a sorrir - Ai é? Acabou de vir para nossa casa e já é linda? Já vi que a podemos mesmo adotar.

O sorriso do Tommy foi aparecendo aos poucos e acabou mesmo por encolher os ombros pequeninos - Não não. O tio sabe que eu gosto muito dele. - respondeu sorridente enquanto se esticava para me abraçar com força para de seguida voltar a chegar-se para junto da Daisy e continuar a contar-lhe pormenores sobre os desenhos animados.
- Quando precisarmos de alguém para tomar conta dele já sei a quem podemos recorrer. - brinquei apesar de ser facílimo tomar conta do Tommy já que ele se dava bem com toda a gente e era das crianças mais bem comportadas que eu conhecia.

Olhei para a Daisy com olhos semicerrados ao ouvir o seu comentário e - novamente - num completamente bastante adulto deitei-lhe a língua de fora. Sorri ao ver a facilidade com a qual o Tommy se dava com ela e recostei-me no sofá a olhar para os dois enquanto iam falando dos bonecos que passavam na televisão. Olhei novamente para ela e encolhi os ombros - Podes vir quando precisares de passar tempo. - sugeri referindo-me também ao seu namorado. A Kim não ia achar grande piada... Tendo em conta que a Daisy era colega de trabalho dela e saberia muito sobre a nossa vida pessoal assim como o nome verdadeiro da minha irmã mas... Depois da discussão inicial, se eu lhe explicasse toda a situação tinha a certeza que a Kim ia perceber.