Casa

Olhei para a seringa em cima da mesa e fiz uma careta.
- Sim, tudo bem. Eu consigo. - murmurei, quase confiante, e peguei no instrumento, aproximando da boca do gatinho, já depois de esta ter leite.
Fiquei a observar o gato por momentos, em silêncio, mas depois suspirei e decidi falar. Eu não podia fingir que tudo estava como antes.
- Desculpa mesmo ter vindo. - repeti calmamente, num tom de voz baixo, sem olhar para Wade. - Nem sequer nos temos visto, ou falado, e eu depois apareço assim... - suspirei e abanei a cabeça. - Desculpa. Eu posso nem voltar mais.

Recostei-me na cadeira enquanto a observava a alimentar o gatinho que até estava a aceitar bastante bem o leite daquela forma - Não tens de pedir desculpa. - voltei a encolher os ombros - E podes voltar quando quiseres. - ainda mais se deixares o idiota, pensei para mim mesmo mas decidi-me a não dizer em voz alta.

Atrevi-me a olhar para ele, tentando perceber o que estava ali por dizer. Não que eu fosse alguém com jeito para ler outras pessoas, mas podia sempre tentar.
- Não foi o que pareceu, Wade. - acabei por dizer, depois de algum tempo em silêncio. Foi o tempo suficiente para que precisasse de colocar mais leite na seringa. Por isso, pousei o gatinho em cima da mesa, no meio, para ele não cair, e enchi a seringa, ocupando-me com a mesma para não ter que o encarar.

- Estava irritado com a situação, não consigo. - bem, também estava ligeiramente irritado com ela por achar que merecia que o idiota lhe batesse - Tenho um passado difícil e é difícil vê-lo a voltar. - o que era irónico tendo em conta que tinha a minha ex-namorada a dormir na minha cama - Mas gosto de passar tempo contigo e o Tommy também. - toquei no focinho do gato com um sorriso quando ele veio tocar nos meus dedos.

Olhei para ele apenas por breves momentos, antes de voltar a desviar a atenção para o que tinha em mãos, com todo o cuidado para não fazer asneiras.
Suspirei e esperei que o gato se voltasse para mim para lhe dar mais leite.
- Eu não sei o que te dizer. - admiti, por fim. Sabia que se dissesse que Joe tinha tido um momento, estaria a mentir, porque ele tinha andado estranho antes de tudo ter acontecido, mas as coisas tinham melhorado. De qualquer das maneiras, Wade não iria aceitar nenhuma resposta, fosse verdade ou mentira. - Por falar nele... - comecei. - O Tommy? - perguntei, curiosa.

Rodei o gato e empurrei-o sem força para que caminhasse em direção à Daisy que estava pronta para lhe dar mais leite - Não tens de dizer nada. - era melhor assim ou íamos entrar numa nova discussão sem fim - Está em casa da Jane. Ele habituou-se a passar lá o fim de semana por isso agora ninguém o consegue demover. - disse com um meio sorriso - A Jane é uma amiga de família. - esclareci - Ajudou-nos quando nos mudámos para aqui e é como se fosse nossa mãe.

Assenti quando disse que não tinha que dizer nada e quase que lhe agradeci por não insistir. Só queria esquecer aquilo.
- Não tens que me dar justificações, Wade. - murmurei, abanando a cabeça e continuando a dar leite ao gato, que se comportava incrivelmente bem.

Encolhi os ombros ao ouvi-la - Eu sei mas mesmo assim. - voltei a encolher os ombros e sorri ao ver como o gato se portava bastante bem e ia bebendo o leite que lhe tinha arranjado - Ele porta-se bastante bem. - constatei levantando o olhar para ela - Vais ficar com ele?

Suspirei e acabei de dar o leite ao gato, sorrindo quando ele miou, satisfeito.
- Eu acho que sim. Eu ainda não sei. Só passaram um par de horas desde que me fizeste essa pergunta. - lembrei-o. - Obrigada pela tua ajuda. - olhei para ele e sorri levemente.

Assenti com a cabeça - Eu sei mas já podias ter chegado a uma decisão. - encolhi os ombros e sorri ao ver o gato satisfeito - Tens de o esconder do Tommy ou a minha irmã mata-me quando ele andar a pedir um animal de estimação. - disse divertido já a imaginar como o Tommy se iria comportar e a reação da Kim.

Sorri com o seu comentário e encolhi os ombros - Eu sempre quis ter um animal, principalmente um cão mas a minha irmã tem razão. O apartamento é demasiado pequeno para tanta gente e estamos sempre tão ocupados. - voltei a encolher os ombros - Quem sabe um dia. - olhei para o gato ao ouvi-la e ri - Hmm pois... vira-o para mim para tentar perceber. - pedi-lhe.

Olhei para ele e fiz uma careta.
- O problema dos cães é que precisam sempre de mais coisas que os gatos, como ir à rua ou assim. Mas são fofos. - admiti.
Virei o pequeno animal para ele e fiz festinhas entre as orelhas do gatinho.

- É verdade mas sempre gostei mais de cães. - agarrei nas patas traseiras do gato enquanto tentava identificar o sexo do mesmo - Hm. Bem, não sou veterinário nem grande conhecedor de animais mas acho que é possível dizer que se trata de um menino. - sorri e levantei o olhar para a Daisy - Já pensaste em como lhe vais chamar?

- Justo. - encolhi os ombros descontraidamente. Eu não sabia do que gostava mais, sinceramente.
Esperei enquanto Wade tentava decifrar o sexo do animal.
- Não faço ideia. - admiti quando ele me perguntou sobre que nome lhe daria, depois de me dizer que lhe parecia ser um menino. - Sugestões? - olhei para Wade.

Recostei-me novamente na cadeira enquanto olhava para ela e para o gato que se mantinha sossegado junto aos braços da Daisy - O Tommy é que é ótimo para isto. Arranja nomes para os bonecos em menos de um minuto. - sorri com aquele pensamento - Não sei e bem, se o gato vai ser teu tu é que lhe devias escolher o nome. Não me importo de ser o padrinho dele. - brinquei.

Fiz uma pequena careta.
- Não posso perguntar ao Tommy sem lhe dizer que é para um gato. - abanei a cabeça.
O gato miou e soltou-se dos meus braços, caminhando em cima da mesa.
- Primeiro tenho que ver se vou mesmo ficar com ele. - relembrei.

Assenti com a cabeça ainda com o olhar fixo nela e no gato - Ele gosta de ti. - constatei com um sorriso antes de me levantar para arrumar o que já não era necessário sem saber muito bem o que mais dizer. Parecia que aquela semana em que tínhamos estado sem nos falar não tinha acontecido mas eu sabia que isso era mentira e no fim do dia, ela ia voltar para o idiota que a tratava mal por isso não havia nada que pudesse fazer - Queres alguma coisa? - perguntei-lhe quando abri o frigorífico para tirar água fresca para mim.

Sorri com a afirmação de Wade.
- Sim, acho que sim. - concordei, olhando para o gato ainda sem nome. Era tão fofo.
Olhei para Wade, minutos depois, tentando perceber o contexto da sua pergunta.
- Não, obrigada. - sorri levemente. - E eu devia ir embora. Pelo que disseste, estavas quase a dormir. - constatei calmamente.

- Podes sempre chamar-lhe Gato. - encolhi os ombros com um meio sorriso, caminhando de volta até à cadeira onde tinha estado sentado anteriormente - Pelo menos até arranjares nome oficial. - sugeri - Podes ficar se quiseres. Estava quase a adormecer porque não tinha nada para fazer. - estava apenas a mudar canais e a pensar em quão irritada a minha irmã ia ficar quando visse a Petra em nossa casa.

Fiz uma careta com a sua sugestão.
- Isso não foi nada original, Hill. - brinquei com ele.
Olhei para ele por momentos.
- E tens a certeza disso? Quer dizer... - abanei a cabeça. - Que eu fique. Se tens a certeza que posso ficar. - mordisquei o interior da bochecha. - Se queres que eu fique. - divaguei.

Soltei uma pequena gargalhada e encolhi os ombros - Podes sempre chamar-lhe Hill. Ou Wade. Assim lembraste sempre de mim. - brinquei. O estranho de tudo aquilo com a Daisy era o quão à vontade me sentia com ela, apesar de vistas bem as coisas não nos conhecermos assim tão bem e do que tinha acontecido a semana passada - Podes ficar. - disse quando ela acabou de divagar - O tempo que quiseres. - acrescentei sorrindo.

Ri-me.
- Eu consigo ser mais original que isso. Acho eu. - brinquei, fazendo festinhas no gato.
Observei o animal a miar baixinho e a procurar pelo meu toque quando eu afastava um bocado a mão, até ouvir Wade falar novamente.
Assenti lentamente perante as suas palavras e mordi o interior da bochecha.
- Mas tu ias dormir... - disse baixo.

- Podes sempre chamar-lhe Will. - disse com um meio sorriso já que juntava o meu nome e o meu apelido. Mantive o meu olhar fixo no gato sem nome e sorri, vendo-o a procurar pelo contacto da Daisy sempre que ela parava com as festas que lhe fazia - Estava quase a adormecer, não ia dormir. - encolhi os ombros. Não ia trabalhar no dia seguinte por isso não fazia mal.

Olhei para ele de olhos semicerrados.
- William. O príncipe da minha zona. - brinquei, fazendo alusão ao príncipe William da Inglaterra.
Assenti.
- E o que vamos fazer se eu ficar? - perguntei-lhe, curiosa.