Sydney Harbour National Park

-Deixava? - Juntei as sobrancelhas, sorrindo ligeiramente ao perceber o porquê. Não sabia se Axel gostava do Benjamin, mas já era bom que eles se dessem bem, tal como eu e Olivia.
-Não lhe chames isso. - Resmunguei, sentindo o meu lado protetivo vir à tona. - Mas estás certa... vocês são parecidos em algumas coisas. - Encolhi os ombros, deixando-me relaxar de novo. - Ainda bem.

- Por isso é difícil saber. Eu e o Axel ou nos vamos dar muito bem ou muito mal. - encolhi os ombros e virei a cara na direção dele novamente - Tens de me mostrar mais desenhos teus. - disse sorrindo de seguida - Pareces um verdadeiro artista e depois de ter visto aquele retrato meu fiquei ainda mais curiosa. 

Sinceramente, não queria saber se ela se dava bem ou não com o meu irmão, só não queria que me usasse para chegar até ela, como já tinha acontecido antes.
-Eu... - parei de falar, antes que revelasse tudo - eu mostro-te. Um dia podes ir a minha casa. - Encolhi os ombros. - E também te posso fazer um retrato melhor, mais detalhado... mas já falámos sobre a minha propostas. - Relembrei-a.

Assenti com a cabeça e sorri-lhe novamente - Está bem, depois combinamos isso. - apoiei-me nos cotovelos de forma a conseguir observar o rio. Aquela zona estava vazia à excepção de nós e era uma zona bastante calma e descontraída - Tens alguma hora para estar em casa? - perguntei de sobrancelhas juntas, sem saber muito bem como eram as coisas entre eles e o Axel - Não quero que arranjes problemas ou confusões por causa de mim.

Estava feliz por estarmos sozinhos, podia estar descansado e ser o meu eu-estranho descansado, sem tentar ser normal como os outros.
-Não. - Respondi de sobrancelhas levantadas. - Eu tenho vinte e um anos, apesar de não parecer. Ter asperger não me faz ser uma criança que tem que ter horário de voltar para casa. - Continuei, pousando as mãos em cima do meu peito. - Tenho as minhas regras, mas a minha primeira regra é não ser tão rígido com as minhas regras. - Quase que me ri, porque ela não devia querer saber, mas eu não conseguia parar de falar.

- Não era isso que queria dizer. - apressei-me a acrescentar não querendo que ele levasse a minha pergunta a mal - É só porque uma vez que saiste do hospital há pouco tempo e estás a viver com o Axel também há pouco tempo, - encolhi os ombros - não queria meter-te em problemas, só isso. - voltei a deitar-me na relva e olhar para o Aaron - Que mais regras é que tens? - perguntei sinceramente curiosa.

Sentei-me quando ela fez o mesmo, começando a perceber o que ela realmente tinha dito. Passei a língua pelos lábios e brinquei com o meu cabelo cor de rosa por um momento. - O Axel não tem regras, por isso estou bem. - Acabei por acrescentar.
-Queres? - Perguntei, fazendo uma careta por ela querer saber. - Devo conhecer bem as pessoas se quero confiar nelas. - Comecei, lembrando-me de todas as que já tinha quebrado por causa dela. - Desconhecidos não entram no meu espaço; não bebo álcool, não vou a sítios com muitas pessoas...

Assenti com a cabeça depois de o ouvir - Ótimo. Então quando quiseres ir para casa só tens de me dizer. - disse-lhe sorrindo e sentei-me novamente, cruzando as pernas e ficando de frente para ele enquanto se explicava - Quero. - respondi com um sorriso e mal acabei de falar já ele me estava a contar as suas regras. Soltei uma pequena gargalhada ao ouvi-lo - Ups.. Parece que já quebraste umas quantas regras comigo.

Assenti com um pequeno sorriso. - Sim. Eu não gosto de as quebrar, mas não é mau de todo quando acabo por fazer coisas novas e que gosto. - Encolhi os ombros, apoiando os cotovelos às minhas pernas, levantando o olhar até ela. - O que é que me falta saber sobre ti? - Perguntei. - Eu quero saber tudo.

Olhei novamente para o Aaron e sorri ao ouvir a sua resposta - Fico feliz por isso. E por teres gostado de quebrar as regras comigo. - acrescentei com um meio sorriso nos lábios. Olhei novamente para o rio agora com uma expressão pensativa - Hmm. - tentei pensar em alguma coisa que ele ainda não soubesse - Não sei. Na verdade já te contei imenso sobre mim. E isso também é uma coisa que não costumo fazer.

Eu não era bom a ler pessoas, muito menos a interpretar as suas palavras, mas fazia um esforço para tentar conhecê-las melhor. Não é como se gostasse muito de pessoas, mas eu sabia que o normal era comunicar até nos sentirmos bem; eu ficava bem sem falar com alguém, mas não queria ficar sozinho e havia pessoas boas, como o meu irmão e ela... acho eu. - Só sei o superficial. - Comentei. - Não sei a tua cor favorita e porquê, a tua música favorita e porquê. Não sei se estudaste e o que é que mais gostavas... - Encolhi os ombros, com um leque grande de perguntas.

Apoiei-me nos cotovelos enquanto olhava para o Aaron e para o rio que se via por cima do seu ombro - Não é bem assim. Sabes algumas coisas sobre mim que só o Ben é que sabe. - era a verdade; já tinha dito mais coisas ao Aaron apesar de o ter conhecido há pouco mais de uma semana que a outras pessoas que já conhecia há muitos anos - A minha cor preferida é o preto apesar de gostar muito também de vermelho e azul. - tentei pensar em todas as perguntas dele para não me esquecer de nenhuma - Não consigo escolher uma música preferida porque há tantas que não consigo eleger a tal. - pendi a cabeça para trás e fechei os olhos ao sentir o sol a bater-me no rosto - E estudei ciências no secundário porque durante muito tempo achei que queria trabalhar em algo relacionado com a saúde mas depois recebi a minha primeira proposta para trabalhar como modelo e era dinheiro fácil por isso desisti. - encolhi os ombros - E é uma maneira de ser mais independe dos meus pais. Ganho o meu dinheiro e se estivesse a estudar eram eles a pagar e por isso estava nas mãos deles.

-Não gostas mesmo deles. - Comentei, percebendo que ela se sentia presa quando estava ao alcance rápido dos pais. - Se conseguisses e pudesses voltar a estudar, seguias, ou preferias continuar no mundo da moda? - Perguntei. Ainda não tinha conseguido perceber se ela gostava mesmo do que fazia, ou se se pudesse mudava para outro trabalho que gostasse de verdade. Sempre tinha ouvido que se devia fazer o que se gostava; os meus pais não tinha a mesma opinião, mas eu não queria saber. - Eu preciso de um trabalho certo, porque vender quadros não me sustenta sempre, mas... não sei o que fazer.

Encolhi os ombros; gostava dos meus pais, afinal eram meus pais, mas a nossa relação nunca tinha sido muito boa e tinha-se deteriorado ainda mais nos últimos anos pelo que preferia estar longe do que perto deles. Há muito tempo que não pensava naquilo por isso demorei alguns segundos até ter uma resposta para o Aaron - Não sei. Gosto de trabalhar como modelo só... às vezes sinto que podia fazer mais. Mas ao mesmo tempo tento ver-me numa área relacionada com a saúde e não vejo nenhum sítio específico. E são muitos anos de estudo e já estou a ficar velha. - disse com um meio sorriso enquanto o olhava - Podes tentar procurar algo na mesma área ou relacionado com as pinturas na mesma. Posso ajudar-te a procurar, se quiseres.

Ouvi-a até ao fim, mas não consegui evitar soltar uma pequena risada ao ouvi-la dizer que já estava a ficar velha. Se bem me lembrava, ela tinha vinte anos, um ano a menos que eu.
-Não estás velha, tens vinte anos. Dá para fazer muita coisa. Se gostares ainda melhor. - Cruzei os braços ao peito, observando o rio à minha frente. - Agora que viemos ao museu... eu pensei em trabalhar num, mas... não sei se me dão emprego. - Admiti.

Acabei por me rir também e encolhi os ombros - Não sei. Por agora gosto do que faço por isso vou continuar. - era uma forma de manter parte da minha independência e era muito mais fácil do que voltar a estudar, apesar de eu até sempre ter gostado de o fazer e ter uma memória muito boa - Não sabes se não tentares. - sorri-lhe e dei-lhe um pequeno encontrão com o ombro - Posso ajudar-te. - repeti - Os meus pais têm vários conhecimentos e não me custa nada puxar uns cordelinhos por ti.

Assenti, apertando os meus braços à volta do meu corpo. - Eu só acho que todos devemos fazer o que gostamos. - Sorri ligeiramente. - Desde que estejamos felizes e bem... - Deixei-me perder nas palavras, voltando a lembrar-me das palavras da minha mãe. Olhei para o seu corpo ao sentir o seu encontrão, voltando a dar-lhe atenção. - Não... não gosto disso. Eu gosto de ser independente, vou fazer tudo por mim.

Assenti com a cabeça e voltei a desviar o olhar para o rio - Tens razão quanto a isso. - as temperaturas quentes e o sol estavam a deixar-me com demasiado calor para continuar ali debaixo daquele braseiro - Tudo bem mas se precisares de alguma coisa podes contar comigo. - disse-lhe enquanto tapava os olhos com as mãos - Podemos sair daqui? Não me estou a sentir muito bem.

Assenti, agradecido por dentro, por ela se disponibilizar a ajudar-me; isso era bom, acho eu. Levantei a cabeça para a ficar quando a vi tapar os olhos com as mãos.
-Hm... sim. - Murmurei, levantando-me. - O que é que estás a sentir? - Perguntei, sem saber o que fazer. Se ela desmaiasse aos meus pés, eu não saberia o que fizer. - Queres ir ao hospital? Acho que é melhor ir ao médico...

Levantei-me também e caminhei até um sítio que se encontrava à sombra, o que apesar de não ser grande ajuda, já era qualquer coisa - É só uma tontura, não é preciso. - tentei descansá-lo com um pequeno sorriso nos lábios - É por causa do calor. Só preciso de ir para um lugar fresco e beber água. - e rapidamente antes que me desse uma coisinha má e desmaiasse para ali, pela expressão do Aaron ia ficar bastante mal caso isso acontecesse e estívessemos apenas os dois ali.

Senti as minhas mãos ficarem trémulas ao observar a sua expressão pálida, aquilo nunca era bom sinal. Assenti, sentindo que ela não estava a falar a verdade, dizendo apenas as palavras para me descansar -- as pessoas tendiam a fazer aquilo demasiadas vezes. - Podemos ir buscar água... - juntei as sobrancelhas, olhando em volta, mas não sabia onde me dirigir. - Ahm... - aproximei-me devagar, esticando uma mão para que ela se apoiasse. - eu ajudo-te.

Assenti com a cabeça enquanto tentava ser racional e afastar aqueles pensamentos na tentativa de afastar também o que estava a sentir. O calor estava a matar-me mas tinha a certeza que não era apenas por causa disso. Por me vir encontrar com o Aaron - uma vez mais - tinha afastado por completo dos meus pensamentos as drogas que tomava - Obrigada. - agradeci agarrando na mão que ele me estendia enquanto me obrigava a respirar calmamente mas, surpresa das surpresas, não estava a resultar minimamente.

O meu passo rápido não devia estar a ajudá-la, mas eu também não sabia como reagir e a minha cabeça estava a pensar demasiado rápido para até eu conseguir registar. Podia arrastá-la até ao museu e pedir por ajuda, podia ligar a uma ambulância, ou podia encontrar um café para conseguir sentá-la e lhe dar água. A terceira opção era a melhor, mas eu não sabia onde é que estava um café e muito menos gostava de pedir o que quer que fosse a alguém, só o fazia quando era obrigado. Pressionei um lábio no outro, na tentativa de manter a calma, e acabei por soltar um suspiro ao reparar numa gelataria por perto. - Espero que as gelatarias tenham água. - Murmurei para mim próprio, observando a sua expressão para tentar perceber se estava a piorar.

Caminhei ao lado do Aaron, sendo quase puxada por ele até à zona mais movimentada de Sydney - Só preciso de água com açucar e um bocado de fresco. - e não só mas não lhe ia dizer que também estava assim devido à abstinência das drogas. Apressei-me a entrar na gelataria que estava mesmo à nossa frente e a sentar-me numa das cadeiras vazias - Podes pedir? - perguntei ao Aaron enquanto me abanava com a mão, com a visão demasiado enevoada para fazer fosse o que fosse.

Subi as duas escadas que davam à gelataria, ajudando-a depois a sentar-se na cadeira junto à janela aberta, para que apanhasse ar. Senti o pânico invadir-me ainda mais quando ela me pediu para ir buscar um copo de açúcar. - Sim. - Respondi com a boca secá. Andei lentamente até ao balcão, pedir um gelado seria totalmente diferente, mas na situação em que estava não sabia como reagir. - Quero um copo de água com açúcar. - Pedi à empregada junto ao balcão.
-Boa tarde e por favor também são inseridos no preço. - Retorquiu a mulher. Fiz uma careta, sem conseguir compreender a situaçao, mas ela deu-me o que lhe pedi e fiquei agradecido por me deixar dar meia volta e dar o copo a Olíbia.