Baía de Sydney

Depois de estacionar o meu carro algures perto da baía, decidi ir apanhar ar perto do Rio. Precisava mesmo de desanuviar! Trabalhar fora do país maior parte do tempo dá cabo de mim e recém chegada à minha cidade, dá-me sempre uma grande vontade de recordar um dos meus sítios favoritos. Após alguns minutos a andar avistei ao fundo uma figura masculina muito conhecida por mim. Naquele momento não sabia o que sentir. O Ty, outra vez? Porquê?!

Estava já pior que estragado. As encomendas que deviam ter chegado há mais de vinte e quatro horas ainda estavam no armazém do cu do judas, e o pior é que ninguém se responsabiliza por nada. Nem sei como ainda trabalho com gente reles, nem pareço meu. — Eu preciso dessa merda o mais depressa possível. Não é "para ontem", é para o século passado! Toca a despachar, ou eu NÃO SEI O QUE VOS FAÇO. Considerem isto uma ameaça se quiserem. — Discuti, bem alto, sem me importar se tinha espectadores ou não. — Vão-se foder. — Resmunguei comigo mesmo, acabando por arrumar o telemóvel no bolso antes que ainda o atirasse à água.
Continuei a andar por ali, para ver se ao menos me acalmava, e acabei por sorrir ao ver aquela boazona ali. — Natasha! — Chamei-a, aproximando-me entretanto. — Por aqui?

Olhei-o com um ar meio sério e fiz um trajecto com o lábio ligeiramente para o lado. - Parece que sim. - Encolhi os ombros, examinando as suas expressões. - Problemas com a tua vida de luxúria estou a vir. - Atirei revirando ligeiramente os olhos.

Parva. — Não tenho uma vida de luxúria. Se tenho o que tenho atualmente, deve-se a muito trabalho ao longo de vários anos. Não ganhei simplesmente a lotaria, ou posei para revistas e afins. — Pisquei-lhe o olho e mostrei um sorriso maroto. — Estás cá em trabalho?

- Eu sou de cá idiota, querias que estivesse cá em trabalho? - Atirei num tom rude sentindo-me picada com aquela dica do pousar em revistas. - E tu tens alguma coisa a dizer-me com essa merda de conversa de que não ganhas a pousar em revistas? - Questionei mesmo revoltada e tudo o que me vinha à cabeça eram os tempos em que a criatura que se apresentava à minha frente, quase me proibia de fazer o meu trabalho.

— Porque tens alturas em que, apesar de seres daqui, só cá estás em trabalho mesmo, ó idiota. — Respondi da mesma maneira, e acabei por respirar fundo de seguida. — Não foi isso que tu estás já a pensar que eu quis dizer. Mas também não é conversa para se ter agora aqui. — Falei, referindo-a a ser um local público. — Talvez se marcarmos um café num sítio seguro. Ou um jantar, o que tu quiseres.

- Contigo nada, jamais! - Atirei espetando o meu dedo indicador no ar. - Coitadinho és tão politicamente correcto que não podes ter um bate boca em público. - Ironizei. - Não te interessa a conversa podes mais dizer assim. - Revirei os olhos de novo e olhei para alguns barcos que por ali passavam.

— Foda-se, Tasha. — Resmunguei, novamente irritado. — Não estou com disposição para estas tuas birras de gaja. Se estás com o período, vai comer geladinhos para casa. Eu estou a tentar falar sobre uma merda séria contigo. Mas não posso falar num sítio público. — Resmunguei já a ultima parte num sussurro. — Antes que te aconteça o mesmo que aconteceu à tua coleguinha que está desaparecida há um mês ou mais.

- Estás a ameaçar-me? - Ergui o meu sobrolho em jeito de desafio e cruzei os braços ao peito. - O que tu fazes com as minhas coleguinhas de trabalho a mim pouco me importa. Desde cedo aprendi que da minha vida sei eu, cada um sabe de si. - Ripostei num tom frio e distante. - E atreve-te a fazer-me o que quer que seja Tyrone King, juro que quem rebenta contigo sou eu. - Avisei apontando-lhe o dedo. - Agora paga-me um jantar ali naquele restaurante bem caro porque a fome aperta e não é período meu amor, chama-se Jetlag. - Disse a última parte passando por ele e caminhando em direcção do China doll Restaurant.

- Raios te parta, percebes as merdas todas ao contrário ou o caralho. Já não te disse que pago o jantar? Siga lá mas é, vá. - Suspirei e segui atrás dela.

Encerrado.

A viagem foi rápida e sentia-me como uma adolescente outra vez, era ridículo. Caminhei ao lado dele até ao melhor local onde poderíamos ficar a observar a vista e olhei-o com um meio sorriso nos lábios - Vamos ter de continuar a concordar que discordamos. - disse divertida - E tendo em conta que foste tu quem rio ter comigo, assim vemos quem tem razao. - provoquei.

- As desculpas são cada vez piores. - ri e dei um encontrão sem força no braço dele - Por isso podes tentar à vontade mas não me vais convencer de que eu é que tenho razão. - disse sorridente. Fomos caminhando pelo passadiço de madeira até o TJ parar para comprar algodão doce - Cada vez acredito mais que estamos num encontro. - brinquei antes de lhe roubar um bocado de algodão doce.

- Ja tenho a minha ideia feita por isso nem vale a pena. - disse-lhe sorridente enquanto caminhavamos lado a lado junto às outras pessoas que àquela hora tambem por ali andavam - Primeiro convidas-me para um dos sítios mais bonitos de Sydney e agora até partilhamos algodão doce. - respondi roubando outro bocado enquanto o olhava.

- Já tinha pensado nisso. - disse encolhendo ligeiramente os ombros - Mas logo a seguir percebi que isso era mais uma das tuas desculpas. - provoquei com um meio sorriso - Pelo menos numa coisa temos de concordar. Tens bom gosto. - olhei-o novamente sem conseguir controlar o meu sorriso - Obviamente estou a referir-me ao facto de me quereres como companhia. Mas também porque vamos sempre para sítios muito bonitos.

Abri a boca fingindo-me chocada com o seu último comentário - Achas que isso são formas de tratar uma menina? - perguntei roubando-lhe mais um pouco de algodão doce - Além do mais não estou a mentir, só a constatar a realidade. - disse com um sorriso nos lábios - Ou vais dizer que é mentira?

Dei-lhe um encontrão sem força - Estou a ficar muito ofendida. - disse com um ar sério apesar de estar obviamente a gozar - Isso é que são elogios. - provoquei enquanto lhe semicerrava os olhos - Pff. - bufei - Vou fingir que acredito que são só os lugares bonitos que te interessam e não a minha companhia.

Sinceramente não disse mais nada porque às vezes era melhor ficar calado e deixá-la a remoer no que eu pudesse estar a pensar. Ri-me, ainda para mais. - Isto está quase a acabar. Queres o último pedaço? - referia-me ao algodão doce.

Olhei para ele com um sorriso sugestivo - Eu sabia que só me levas para sítios bonitos com segundas intenções. - provoquei antes de rir e assentir com a cabeça - Claro que quero, não vamos desperdiçar este maravilhoso algodão doce. - respondi roubando-lho das mãos.