Casa

Trepei para cima de um dos bancos vazios e sentei-me a observar o Aaron que estava já a comer as torradas e a beber o leite. A dor de cabeça ia passando aos poucos apesar de ainda não sentir o efeito dos comprimidos e apoiei a cabeça numa das mãos - Não vais nada, eu ajudo-te, não me custa nada e é mais rapido. - disse com um encolher de ombros - Sei que deves estar estranho por estar numa casa que não conheces mas se precisares de alguma coisa só tens de me chamar.

Fiz uma careta incontrolável enquanto comia as torradas demasiado...torradas e bebi o leite para disfarçar o sabor. Assenti a Olivia, interiormente contente por ela não se chatear por ter que me ajudar com o sofá, e assim que terminei, saí de cima do banco e fitei-a. - Eu estou bem. - Garanti, apesar de não ter muito verdade. Só queria estar bem longe dali para, se me passar, me passar bem longe. - Estou cansado. - Suspirei, sabendo que não ia conseguir dormir muito bem.

- Vou buscar as mantas. - disse-lhe assim que o vi prestes a terminar as torradas - Depois é só meteres tudo no lava-loiças. - disse-lhe antes de desaparecer para ir até ao armário buscar uma almofada e algumas mantas. Voltei para a sala com os braços carregados e atirei tudo para cima do sofá - Queres dormir para que lado? - perguntei quando ele apareceu naquela divisão.

Estava a preparar-me para a seguir, quando Olivia disse que precisava de meter tudo no lava-loiças. Olhei para os pratos e fiz o que me pediu, perguntando-me a mim próprio se deveria lavar a loiça, mas como ela não mo tinha pedido, decidi que não seria preciso, e fui até à sala. Estava cansado e, se fosse possível, assim que me deitasse no sofá, queria adormecer, mas já me conhecia a mim próprio e sabia que não ia acontecer como eu queria. - Deste. - Decidi, por ser o que estava mais longe da janela. - Eu ajudo.

Aos poucos sentia-me a ficar mais mole e mais leve, o que era sinal que os comprimidos começavam aos poucos a fazer o seu efeito. Sorri e juntamente com o Aaron não demorámos muito tempo a tratar do sofá de forma a ficar pronto para que ele ali dormisse - Precisas de mais alguma coisa? - perguntei esfregando os olhos cansados mas sentindo alguma dificuldade a fazê-lo; cada vez tinha os músculos mais pesados mas estranhamente, os membros mais leves - O meu quarto é a primeira porta à direita, se precisares é só bateres.

Sentei-me assim que ficou pronto para eu conseguir dormir. Os lençóis cheiravam a lavanda, que é um cheiro que me acalma, e isso era um sinal de que talvez até fosse conseguir descansar. - Não. - Respondi, desviando o olhar para o corredor, para tentar orientar-me e perceber onde era o seu quarto. Assenti, para lhe mostrar que tinha compreendido, mas antes que ela fosse embora, juntei as sobrancelhas. - Estás bem? -Perguntei, desconfiado face à forma esquisita como se começava a mexer.

Assenti com a cabeça - Ainda bem, então boa noite. - desejei tentando sorrir mas acho que não consegui fazer grande coisa que parecesse com um sorriso. Parei a meio caminho de sair da sala quando o voltei a ouvir - Estou ótima. - respondi mordendo o lábio inferior para não rir ou ele perceberia que não estava muito longe de como tinha estado da primeira vez que nos tínhamos visto - Até amanhã, Aaron. - disse antes de lhe apagar a luz de cima e sair para o meu quarto.

Agarrei na almofada que tinha pedido e assenti-lhe, fazendo uma careta ao deitar-me. Ela não parecia ótima, mas eu também nunca conseguia perceber as pessoas, por isso, deixei-me continuar calado. - Até amanhã, Olivia. - Despedi-me, vendo-a apagar a luz. Suspirei assim que coloquei o lençol e a manta por cima de mim e deixei-me a ficar a olhar para a luz vermelha da televisão, à espera de sono para adormecer.

Voltei para o meu quarto, sentindo cada vez mais o efeito dos comprimidos a fazer efeito. Sentia-me eufórica, com vontade de rir e de falar imenso apesar de ao mesmo tempo me sentir mole e só me apetecer estar quieta na cama. Soltei uma gargalhada com aquela contradição e encolhi os ombros, despindo-me de seguida da roupa que tinha usado toda a noite até ficar apenas de roupa interior. Estava cheia de calor por isso limitei-me a vestir uma t-shirt preta enorme que tinha roubado ao Ben há um tempo e ele não tinha pedido de volta. Enfiei-me na cama numa tentativa de tentar adormecer mas rapidamente me fartei de ali esta, demasiado inquieta para continuar ali. Levantei-me novamente e mordi o lábio inferior para tentar não rir quando o pensamento me passou pela cabeça; o Aaron ia passar-se se eu fosse para ao pé dele mas... Acabei mesmo por me rir e tapei a boca com a mão ao aproximar-me da sala de estar - Aaron? - chamei a sussurrar ou pelo menos achava eu que sim - Estás acordado?

Estava quase a adormecer, numa fase limbo em que sabia que estava ali, mas quase a passar para o outro lado, quando a voz de Olivia me despertou e me fez sentar no sofá. Por momentos, pensei que fosse o início de um sonho, mas ela acabou por aparecer à minha frente. Juntei as sobrancelhas, fitando-a confuso. - Agora, estou. - Acabei por resmungar ao responder à sua pergunta. Esfreguei os olhos para despertar e agarrei na minha almofada. - O que é que queres?

Fui andando aos pulinhos até ao sofá e sorri quando o ouvi na escuridão. Apesar do seu tom irritado não me importei, contente por haver alguém acordado como eu - Não consigo dormir. - respondi com um encolher de ombros à medida que me ia habituando à escuridão e se tornava mais fácil perceber onde ele estava e olhar para ele - Posso ficar aqui? - perguntei chegando-me para mais perto do sofá e dele.

Olivia avançou na minha direção e apesar de não se sentar no sofá, ficou mais perto do que devia no meio da escuridão. Afastei-me, encostando as costas à parte de trás do sofá, e juntei as sobrancelhas. - Acho que também já não vou conseguir dormir hoje. - Admiti, apesar de querer tentar, ia entrar em stress se acabasse por não conseguir. Esfreguei as minhas mãos nas calças desconfortáveis e fitei-a. - Podes sentar-te.

Com a visão já adaptada à escuridão consegui ver o Aaron a sentar-se no sofá, arranjando assim espaço para que eu fizesse o mesmo mas não o fiz até ele dizer que o podia fazer. Sentei-me e puxei a manta que o tapava colocada também em cima das minhas pernas - Só devia ter tomado um. - murmurei para mim mesma antes de virar a casa na direção dele - Que queres fazer? - perguntei ainda a sussurrar apesar de ali na sala os nossos irmãos não nos conseguirem ouvir.

Endireitei as costas, sentindo-a perto de mim no sofá, e mordi o lábio inferior, sem saber o que fazer. Ela estava esquisita desde que tinha chegado a casa e eu estava cansado, mas não queria dormir. - O quê? - Fiz uma careta, esfregando uma mão nas calças de ganga que ainda trazia vestidas. - Não sei, a esta hora as pessoas normais só costumam dormir. - Encolhi os ombros.

- Nada. - respondi com um encolher de ombros e segui o movimento da mão dele, percebendo que ele estava completamente vestido com a roupa da noite anterior - Não te queres despir? - mordi o lábio inferior para não rir com aquela sugestão e de seguida com o facto de o poder ver - se bem que não muito bem por causa da escuridão - semi-despido - Para ficares mais confortável a dormir. - acrescentei ainda a tentar não rir - Nós não somos pessoas normais. - encolhi os ombros e agarrei-me a uma das almofadas do sofá.

Deslizei o olhar dela para a televisão, e da televisão para as minhas mãos pousadas no meu colo. Ia questionar-lhe se ela não estava cansada quando a ouvi perguntar-me se não me queria despir. Juntei as sobrancelhas, abanando a cabeça, mesmo quando ela acrescentou que era para ficar mais confortável. - Eu não te conheço... - respondi - bem - decidi acrescentar, visto que já sentia confiança o suficiente com ela. Era estranho, ainda só a conhecia há dois dias e raras eram as pessoas em quem conseguia confiar de verdade. Mesmo quando ela era estranha, como estava a ser agora... parei, voltando a fitá-la. - Tomaste alguma coisa? - Perguntei. As únicas vezes que ela ficava estranha, era quando pedia comprimidos e os tomava, sem se importar com o que era.

Juntei as sobrancelhas ao ouvir a sua resposta - Hmm e é preciso conheceres-me para te despires? - perguntei confusa - Não estou a dizer para irmos curtir só que se te despisses ficavas mais confortável. - encolhi os ombros, desistindo de insistir naquilo. Ele que ficasse como queria, naquele momento sentia-me demasiado feliz e zen para me importar fosse com o que fosse. Levei um dedo ao queixo ao ouvi-lo perguntar se tinha tomado alguma coisa - Posso ou não ter tomado alguma coisa. - respondi acabando a rir.

Assenti para lhe responder, mas acabei por juntar as sobrancelhas com as suas palavras, sentindo-me aquecer por dentro. Desviei o olhar dela para a televisão mais uma vez e voltei a abanar a cabeça. - Eu não me sinto confortável sem roupa. - Respondi, esfregando a cabeça e puxando o cabelo para cima.
Fiz uma careta, sem realmente perceber o que é que ela estava a dizer, e recostei-me contra as almofadas atrás de mim. - Isso quer dizer que sim? - Perguntei. - É por isso que não estás cansada e não paras de fazer uma cara de quem se quer rir a qualquer momento?

- Então deixa-te estar desconfortável com roupa. - respondi com um encolher de ombros - Mas se estás com medo que te salte para cima, não precisas de te preocupar. - acrescentei abanando-me com a mãa por causa do calor que sentia apesar de continuar com as pernas tapadas - Não fazes o meu estilo. - tinha uma queda para maus rapazes que me tratavam como uma merda. Não sabia muito bem se era masoquista ou se gostava de irritar os meus pais. Acabei mesmo por rir com a pergunta do Aaron - Sim! - respondi entusiasmada - Oh meu deus, és mesmo super inteligente.

Pisquei os olhos, conseguindo lembrar-me porque é que me dei tão mal com ela ao início, ela era estranha e eu não a percebia. - Porque é que haverias de saltar para cima de mim? - Perguntei, levantando as sobrancelhas ao ouvi-la dizer que não fazia o seu estilo. Esfreguei a cara com um suspiro, tentando ser paciente e ter calma. Estava só numa casa desconhecida, com uma rapariga que mal conhecia e que estava drogada... tinha comido torradas demasiado torradas e dormido fora de horas, já para não falar da discoteca barulhenta e cheia de pessoas. Mas estava tudo bem. Sim. Estava tudo bem. - Obrigado.

Voltei a ter vontade de rir com a pergunta do Aaron. Às vezes esquecia-me que ele era super inocente e nem sempre percebia o que lhe dizia. Era engraçado - Saltar-te para cima é uma forma de falar. - expliquei a sorrir - Significa curtir. Sabes, beijar, apalpar, coisas do género. - encolhi os ombros com uma vontade enorme de que fosse possível ver a sua expressão naquele momento mas a escuridão impedia-me de o fazer - De nada. - respondi com a cabeça encostada ao sofá.

-Não te rias de mim. - Pedi. Sempre tive dificuldade em perceber quem é que estava a rir de mim ou comigo, mas só precisava de ver os sinais -- eu não tinha vontade de rir. Se bem que ela não estava propriamente sóbria e podia estar a rir-se de outra coisa qualquer... - Oh... - Calei-me depois de ouvir a sua explicar, sentindo as minhas bochechas ainda mais quentes que da última vez. - Então, não queres saltar para cima de mim? - Perguntei.

- Não me estou a rir de ti. Estou só a rir. - respondi com um sorriso nos lábios enquanto me abraçava à almofada que tinha puxado para mim. Mordi o lábio inferior ao ouvir o seu "oh" e era mais do que evidente que ele estava embaraçado com aquilo. Queria mesmo ser capaz de o ver naquele momento, era uma pena. Por momentos fiquei a pensar se ele tinha mesmo acabado de perguntar se eu lhe queria ou não saltar para cima ou se se tinha passado apenas dos meus pensamentos - Porquê? Queres que te salte para cima? - decidi devolver a pergunta.

Soltei um suspiro, já tanta gente se tinha rido à minha custa que era complicado perceber. Levantei-me, indo buscar o comando no sítio onde o tinha visto pela última vez, e liguei a televisão para termos alguma luz, tirando o som para não incomodar ninguém. - Não. - Respondi rápido, sabendo que ela estava a falar da forma indireta. - Eu não te conheço. - Repeti. - Mas tu és linda, por isso acho que há muitas pessoas que querem saltar para cima de ti.

Juntei as sobrancelhas quando o senti a levantar-se do sofá e por momentos pensei que ele ia sair dali e ainda ia buscar o irmão para irem embora ou algo do género mas em vez disso foi apenas buscar o comando da televisão para acender a mesma. Suspirei ao ouvir a sua resposta negativa - Oh, está bem. - respondi com um encolher de ombros. Ele podia até nem fazer o meu género mas não me importava de lhe saltar para cima. Ele era giro. Se bem que ao mesmo tempo seria estranho, ele era super inocente para eu conseguir imaginar estarmos intímos. Esfreguei os olhos com os dedos quando me começaram a surgir imagens para maiores de dezoito anos no cérebro. Claro que os comprimidos me davam para ficar excitada quando eu estava com um rapaz inocente, óbvio - Até há mas eu não sou uma oferecida. - olhei para ele de olhos semicerrados - Achas que sou uma oferecida? - perguntei apesar de na realidade até me deixar ir muitas vezes com rapazes que mal conhecia... claro que nunca acabava em nada sério e muitas vezes não passava mesmo de umas curtes mas... Dei por mim a sorrir quando percebi que ele tinha dito que eu era linda - Aw, obrigada Aaron, tu também és muito bonito.