Oficina

A sua mão apertava a minha com tanta força que eu podia jurar que ele me ia partir um osso - Joshua! - voltei a chamar mas ele estava a fugir à realidade - Pensa Cinder. Pensa. Segurar a cabeça para ele nao bater com ela - fiz pressão com a minha mão na sua cabeça para ele parar de bater com ela - cabeça.. cabeça... de lado para se vomitar - tentei.o por de lado e ele acabou por largar a minha mão, significando que estava agora completamente out - oh merda. Joshua! - chamei enquanto tentava perceber se ele ainda respirava - Ainda estás vivo - peguei no seu saco, procurando um rótulo que dissesse convulsões mas tudo tinha nomes estranhos e nada especificos - Fodasse - atirei os fracos para longe - Joshua

- Cala-te. O único sitio que vais é o hospital e eu não volto com a minha palavra atrás - avisei.o enquanto olhava para a entrada da oficina a ver se o INEM chegava. Ele quase morria e depois ainda dizia para o deixar ? Eu podia ser insensível e bruta mas não era ao ponto de deixar morrer alguém

- Sim, sou chata. Quando tu queres, não te bato. Quando não queres, eu volto a pensar na possibilidade de te dar com a ferramenta - revirei os olhos - e tu ? ias.me bater com ela, quando a agarraste ? - perguntei. a merda da ambulancia não chegava e eu ponderava mesmo leva.lo no carro mas não sabia como o levantaria dal

- Claro que queres falar nem que seja para me irritar - levantei.me e fui até à porta - já te disse que não quero saber do que acontece nos filmes ? se fosses inteligentes sabias que eles chegam no ultimo minuto - olhei para ele no chão - Joshua ? Joshua!

- Merda. Merda. Merda. - ouvi o barulho das sirenes da ambulancia e sorri, abanando.o - Joshua. Joshua caralho! Eles estão aqui. Hey! Estamos aqui dentro - encostei o meu rosto ao seu nariz e ele ainda respirava - Despachem.se - gritei e continuei a bater.lhe no rosto

Entrei na oficina, passando por cima dos vidros do carro de Joshua em direção à parte de trás. Eu realmente tinha feito muitos estragos naquele carro e se pudesse, faria mais. peguei num macaco do carro e passei.o entre os dedos, sim isto era perfeito. Atei as mangas do macacão a minha cintura, fiz um no no top para o afastar do corpo porque estava cheia de calor, atei o cabelo e preparei.me para dar cabo do carro. Ao menos ali sozinha podia descarregar toda a frustração acumulada naquele dia sem ter de bater em alguém

Virei.me para a porta com o macaco apontado para lá, assustando.me ao ver Wade - Porra, podias ter apanhado com isto na cabeça. Queres morrer Wade ? - perguntei ainda em stress - Houve um acidente, o rapaz não queria o carro e disse para eu ficar com as peças e eu estou frustrada por causa de eventos passados durante a noite e vou descarregar no carro em vez de descarregar na cara de alguém - sorri para ele, preparando.me para acertar na porta - Queres juntar.te ?

- Eu hoje tinha uma consulta mas acabei por não ir porque me fartei de esperar.. - acertei com o macaco na porta, amassando.a - ...e um enfermeiro veio todo pomposo e a olhar para a protese com cara estranha e sabes como sou, enfrentei.o e chateei.me e acabei por cair e abrir a cabeça - apontei para o sitio onde tinha a pequena gaze e voltei a atirar com o macaco contra o carro - O enfermeiro quis ser bom samaritano e trouxe.me aqui e eu ponderei mata.lo com a chave de fendas porque ele do nada me beijou e depois ele saiu e tipo depois voltou e deixou um estupido desenho, está ai no chao - apontei para o chão até porque não sabia onde estava - e depois quase me atropelou mas não me aconteceu nada só que ele acabou por ter um acidente, eu trouxe.o para aqui e.. - limpei o suor que agora começava a correr da minha testa - ele caiu no chao a esfumar.se todo e fomos para o hospital e ele acordou com amnesia - virei.me para ele - amnésia Wade! Ninguém tem amnésia - abanei a cabeça e deixei cair o macaco no chão já com as mãos doridas do metal - E depois ele olha para a minha protese e lembra.se de ter ajudado uma miuda só que eu disse que era impossivel porque ninguém me ajudou naquela noite e ele acha no telemovel uma noticia de um jornal com 10 anos, toda podre e tem o meu nome e tem o acidente e agora eu nao sei de nada, nao entendo nada - acabei por me deixar cair no chão, em cima dos vidros - ah e eu beijei.o outra vez depois de entrar no consultorio do meu medico e remexer em tudo a procura do meu processo.. e agora tou aqui e tu estás a olhar para mim como se eu fosse louca - conclui aquele desabafo

Revirei os olhos, empurrando.o com um sorriso - eu só o beijei uma vez, em minha defesa, ele é que me beijou da outra e eu não o conheço - encostei a cabeça ao carro - o Theo já se fartou de ver nas provas e não há nada novo. Como é que aquele enfermeiro, que na altura devia ter uns 14 ou 16 anos, diz que ajudou. Eu lembro.me praticamente de tudo até ter desmaiado e eu gritei e ninguém veio, é impossivel mas ugh é tão complicado - suspirei - e onde é que tu tens andado ? tive que por este monstro de carro aqui dentro sozinha porque o menino decidiu tirar folga e não me avisar. para a próxima despeço.te - disse no gozo

- Hey! Eu estou muito bem como estou. Tu sabes o que eu acho sobre o tema namorados - fiz uma careta, revirando os olhos por saber que ele tinha razão - A tua sorte é eu gostar de ti ou já tinha corrido contigo daqui ao pontapé - acabei por suspirar, olhando para o teto da oficina. A vida era irónica. Eu tinha perdido a perna e a minha familia num acidente de carro e agora era a melhor mecânica da cidade - Eu vou falar com ele quando ele tiver a memória de volta e exigir que me explique o que foi aquilo - disse.lhe - Também sabes que no meu dicionário a palavra folga não existe, folgas são demasiado subestimadas - levantei.me e estendi.lhe a mão - vá, toca a levantar para irmos trabalhar. os carros não se arranjam sozinhos