Books & Tea Café

Engoli em seco e assenti levemente.
- Obrigada. - disse, ao reparar que ele deixara gorjeta. - Bom descanso. - murmurei, confusa. Era suposto tudo estar bem. Era uma brincadeira, toda aquela conversa de não saber de quem era o bilhete.
Suspirei mais uma vez e desviei o olhar por momentos.
- Xau. - acabei por dizer, vendo-o a afastar-se.
Eu tinha cá uma sorte...

Parei o carro em frente ao trabalho da Daisy - Estás entregue. - disse sorridente - E acho que só por isso me devias pagar um café. - provoquei piscando-lhe o olho apesar de já ir parar para beber café quer ela oferecesse quer não.

Rapidamente chegamos ao meu local de trabalho, uma vez que era perto e não tínhamos apanhado trânsito.
- Tu queres é ser atendido por mim. - provoquei, saindo do carro depois de ele estacionar o mesmo. - Obrigada pela boleia. Mas és interesseiro. - ri-me e comecei a dirigir-me para a porta, abrindo a mesma. - Vais ser o primeiro cliente. - disse, olhando rapidamente para ele.

- Nem o meu dia correria melhor se eu não parasse para ser atendido por ti. - brinquei com um meio sorriso enquanto a seguia para que abrisse o café -
E nem o teu dia seria melhor se não me tivesses como o teu primeiro cliente. - provoquei.

Abanei a cabeça e ri-me.
- Pelo menos admites que eu faço o teu dia cem por centro melhor. - provoquei, caminhando para trás do balcão. - Não sejas convencido. - fiz-lhe uma careta. - Dá-me um segundo. - pedi, indo guardar as minhas coisas na sala.
Quando voltei, liguei as luzes todas e as máquinas.
- Já sabes o que vais querer? - questionei.

Encostei-me ao balcão enquanto esperava pela Daisy - Sim. - respondi quando ela voltou - Quero um café duplo e uma sandes para levar. Alguma sugestão? - perguntei-lhe de volta - Já sabes que não sou esquisito.

Batuquei com os dedos no balcão suavemente, observando quando um dos meus colegas de trabalho entrou.
- Bom dia. - cumprimentou, enquanto se encaminhava para a cozinha.
- Bom dia. - disse-lhe de volta e virei-me para Wade. - Sim, pode ser. - a este momento, já Bryon entrara na cozinha. - Pode ser de atum? - questionei, enquanto ia buscar um dos copos para levar.

Cumprimentei também o colega da Daisy quando passou por nós e mantive-me encostado ao balcão já que ainda não tinha chegado mais nenhum cliente - Sim, parece-me bem. - respondi com um sorriso - Vê lá se tratas bem de mim e se vem bem aviada que eu preciso de muito alimento para um dia difícil de trabalho. - disse dramático.

Olhei para ele e abanei a cabeça, espreitando para a cozinha.
- Bryon, começa com as de atum. Uma para aqui por favor. - pedi-lhe com um sorriso, vendo-o levantar-me o polegar.
Voltei para perto do balcão.
- Ele vai fazer a sandes. Eu vou fazer o café. E tu precisas mesmo, porque és demasiado fraco. - provoquei, começando a preparar a sua bebida.

- Desculpa? - perguntei com um bufo - É preciso ter lata. Trago-te ao trabalho e ofereço-me para te vir buscar e tu ainda gozas comigo? - abanei a cabeça desaprovadoramente - Faz é um bom trabalho a arranjar-me esse café que bem preciso para te aturar.

Abri a boca, fingindo-me indignada com as suas palavras.
- Fala direito com a pessoa que te está a fazer o café. Posso colocar aqui alguma coisa maligna. - continuei na brincadeira com ele, agradecendo com Bryon apareceu com as sandes.

- Eras incapaz. Muito menos depois de te ter dado boleia e te ter feito o pequeno almoço. - relembrei-a com um sorriso adorável - Devias era ser muito generosa com o meu pedido. Isso sim!

Revirei os olhos e suspirei de forma dramática.
- Não consigo compreender a razão para te aturar. - continuei com o drama, abanando a cabeça.
Finalmente acabei de preparar o seu pedido, colocando o mesmo à sua frente. Disse-lhe qual o preço pelo café e as sandes e comecei a organizar a montra com o que Bryon ia trazendo.

- Porque me adoras e não consegues viver sem mim. - respondi com um sorriso. Agarrei nas minhas coisas, colocando ainda uns guardanapos para dentro do saco da sandes e estendi o dinheiro à Daisy, deixando ainda algum dinheiro de gorjeta para ela - Até logo. - disse-lhe sorrindo antes de sair para a oficina.

Ri-me com o que ele disse e abanei a cabeça, não querendo estar a provocar ainda mais para aquela conversa.
- Bom descanso. - brinquei com ele depois de receber o dinheiro. - Obrigada pela gorjeta. - ri-me e acenei-lhe.
Continuei a trabalhar, atendendo os diferentes clientes que iam chegando ao longo da manhã.

*

Perto da minha hora de saída, Dean entrou no estabelecimento, com todo aquele seu ar de rapaz confiante que eu ainda me lembrava. Pareceu demorar alguns segundos a olhar em redor, até me ver, atrás do balcão.
Cumprimentou-me rapidamente e pediu um café, dizendo estar a controlar-se para não fazer conversa na minha hora de trabalho.

Apesar de estar sozinho pela oficina o trabalho estava todo bastante encaminhado por isso consegui ficar despachado não muito tarde. Não tinha uma mensagem da Daisy mas sabia que não faltava muito para ela sair e estava cheio de fome por isso mudei de roupa e peguei nas minhas coisas, dirigindo-me até ao café.

Como todos os clientes estavam servidos, Dean veio sentar-se ao balcão, falando comigo em voz baixa e colocando diversas questões sobre como era viver na Austrália. Enquanto lhe ia respondendo e fazendo questões também, fui arrumando as coisas atrás do balcão, de forma a que tudo ficasse impecável para quando eu fosse sair.
Ouvi a porta a abrir e levantei o olhar, pronta para servir o novo cliente. Era Wade.
- Olá. - cumprimentei, engolindo em seco e sentindo-me desconfortável ao sentir o olhar de Dean sob mim naquele momento em que estava a cumprimentar Wade.

- Hey. - cumprimentei com um sorriso quando vi a Daisy mas rapidamente percebi que ela estava estranha - Estás bem? - perguntei antes de olhar para a montra para ver o que podia pedir para comer.

Batuquei com os dedos no balcão levemente e assenti.
- Sim, tudo bem. - sorri-lhe. - O que vais querer? - questionei, tentando distrair-me daquilo. Era tão estranho.
Dean, extrovertido como era, ao ver que eu conhecia Wade, virou-se para ele.
- Olá. Sou o Dean. - apresentou-se, com o seu sotaque britânico bastante evidente.
Respirei fundo e contei até três. Não sabia se tinha mencionado o nome a Wade, mas não seria complicado compreender quem é que aquele britânico era.

- Um café. E aquele bolo para levar. - pedi-lhe apontando para o bolo em questão que seria para a minha irmã e o Tommy. Levantei o olhar quando o outro rapaz falou comigo e estendi-lhe a mão em forma de cumprimento - Wade. - não precisava de perguntar para saber que aquele era o amigo da Daisy - Vais querer boleia ou estás bem? - perguntei-lhe voltando a atenção para ela.

Assenti quando Wade me informou sobre o que queria levar e peguei numa caixa, já que era mais fácil para o seu transporte.
Coloquei o bolo na caixa e fechei a mesma, pousando-a sob o balcão.
- Eu... - tossiquei para ser capaz de encontrar a minha voz e distrai-me enquanto fazia o seu café. - Acho que estou bem. - encolhi os ombros levemente, dando-lhe o copo. - Ainda faltam uns minutos para sair.
Servi outra pessoa que chegou depois de Wade e que, depois, se foi sentar numa cadeira.
- És amigo da Daisy? - Dean voltou a insistir em manter uma conversa.

Agarrei na caixa que ela me estendeu e deixei o dinheiro na bancada - Mas queres que espere ou não vale a pena? - perguntei novamente; não queria que ela viesse comigo se quisesse estar com o amigo mas também não a queria deixar com ele se não fosse o que ela queria. Olhei para o rapaz quando me voltou a falar - Sou vizinho. - respondi simplesmente.

Mordi o interior da bochecha e suspirei, cada vez mais confusa sobre o que queria realmente fazer.
- Podes ir. - acabei por dizer baixinho. - Não te preocupes. - sorri-lhe levemente.
Ignorei quando Wade respondeu a Dean, dizendo que era meu vizinho. Dean pareceu entender que Wade não estava muito virado para conversas e fez uma careta.
- Tudo bem. - ouvi-o dizer, derrotado. Ele adorava meter conversa com qualquer pessoa.

Não estava propriamente feliz por deixar ali a Daisy sozinha com outro mas também não tinha qualquer direito de me meter; mesmo que quisesse dar-lhe o espaço que achava que ela devia ter depois de ter saído de uma tão má relação, não podia estar à espera que todos achassem o mesmo, ou que ela o achasse. Era uma merda ser-se bem intencionado - Está bem. Vêmo-nos depois. - disse-lhe pagando a minha divida e agarrando no meu pedido para sair dali.

Recebi o seu dinheiro e coloquei na caixa, vendo-o a afastar-se com o seu pedido.
Suspirei, sem realmente saber o que achar de toda aquela situação. Eu não poderia ficar sempre à espera que Wade me desse qualquer sinal para mostrar que poderia estar minimamente interessado. Não podia.
Abanei ligeiramente a cabeça e continuei a trabalhar até ao fim do meu turno. Quando este chegou, disse a Dean que podíamos ir dar uma volta pelas redondezas - o que ele disse logo que ia considerar como um encontro, mesmo que eu tivesse recusado o seu pedido para um jantar e achasse que não era realmente um encontro.
Passeamos pelas ruas de Sydney e eu ouvi-o contar as suas histórias sobre Inglaterra e outros sítios que visitou. No entanto, se ele me fizesse perguntas sobre o tema, eu não saberia responder. Sentia-me desligada. Completamente desligada.
O que é que haveria de errado comigo? Primeiro estava numa relação tóxica e, quando finalmente conseguia escapar da mesma, já dera por mim completamente rendida à pessoa que, mesmo sem saber, estivera do meu lado quando precisava.
Eu deveria ter imensos problemas.
Passamos cerca de duas horas a andar pelos diferentes locais, até que eu lhe disse que estava cansada. Como ele não tinha carro ali, insistiu em chamar um táxi e acompanhar-me.
Se tinha ideias que eu o fosse convidar a entrar, de certeza que ficou desiludido, porque, assim que o táxi parou, despedi-me dele, agradeci pela companhia e saí do veículo, percorrendo o resto da rua até ao prédio, entrando logo no mesmo.
Como não sabia se era suposto informar Wade de que chegara a casa, acabei por não o fazer e entrei logo no meu apartamento.