Apartamento

Voltei a revirar os olhos, sem conseguir controlar-me, e decidi ignorar aquela nossa troca de palavras, já que ambos eramos teimosos, mesmo que fosse apenas uma brincadeira.
Conduzi-o para a cozinha e sorri.
- Sou inglesa. - brinquei com ele. - Fazer chá está no meu sangue. - continuei.
Não que eu achasse que todos os ingleses faziam um bom chá, até porque todos tinham gostos diferentes. Eu simplesmente fora habituada a fazer diferentes chás, ganhando ainda mais experiência com os meus empregos.
Comecei, então, a fazer chá, enunciando todos os pequenos passos, só para o provocar.
- Isto é uma chávena. - aproximei-me dele, mostrando-lhe o objeto. - E isto é uma colher. - sorri inocentemente.

Sentei-me numa das cadeiras da cozinha enquanto a observava e atirei-lhe com um pano que estava ali à mão - Tens tanta graça. - disse ironicamente - Obrigado por esses objetos tão novos para mim. - agarrei nas chávenas e colheres para os colocar na mesa - E não há bolos? Scones e assim?

Balancei em cima dos pés e pus água numa chaleira, ligando a mesma à corrente elétrica, para ferver a água.
- De nada. - sorri inocentemente. - Que chá queres? - abri o armário onde eu tinha a minha coleção de diferentes chás.
Sorri uma vez mais.
- Já que pedes por bolos, arranjo-te umas bolachas. - brinquei com ele, aproximando-me agora do armário onde tinha bolachas e tirando algumas.

Endireitei-me quando ela abriu o armário para tentar espreitar lá para dentro mas acabei mesmo por encolher os ombros - Tanto faz. Não sou esquisito e estás numa de me ensinar como um verdadeiro inglês faz por isso. - abanei a cabeça quando ela tirou as bolachas - Estou desiludido. Estava à espera de algo acabado de fazer. - provoquei-a - E não há leite para o chá?

- Bem, eu posso fazer chá com qualquer um. Não deixa de ser bom. - ri-me e peguei em Earl Grey, preparando o chá.
Abanei a cabeça.
- Já é tarde para isso. Não estamos a ter o clássico chá das cinco. - brinquei com ele.
Virei-me para Wade e encolhi os ombros.
- Podes optar por pôr leite ou não. Tudo é uma questão de gosto. Eu gosto dele sem qualquer leite. - expliquei. - Mas, se quiseres, tenho algum. - ofereci.

Abanei a cabeça com uma expressão séria só mesmo para irritar a Daisy - E ainda te gabas de ser uma exemplar inglesa quando na realidade não passas de uma triste imitação. - voltei a abanar a cabeça - Nem a tua pronuncia é bem feita. - disse dando-lhe com um pano da loiça no rabo.

Revirei os olhos.
- Quem te dera a ti ter um sotaque como o meu. - provoquei. - E ficas a saber que, em norma, o meu sotaque é bastante elogiado pelo sexo masculino. - continuei no mesmo tom, tentando não me rir.
Senti o pano embater-me no rabo e virei-me rapidamente, agarrando na outra ponta do tecido.
- Olha aí as confianças. - fingi-me chocada e abanei a cabeça.

Abanei a cabeça - O meu sotaque é muito bonito não sei porque é que estás ai com coisas. - bufei e dei-lhe novamente com o pano no rabo - E o meu sotaque é muito elogiado pelo sexo feminino. - disse com um meio sorriso - Tu é que gostas de ser do contra e muito chata. - provoquei com um sorriso adorável.

Ri-me, abanando a cabeça. Voltei a agarrar no pano e puxei-o, fazendo uma careta.
- Para. - resmunguei, sem estar realmente chateada. - Podes achar que tens o melhor sotaque de sempre, mas está cientificamente comprovado que o sotaque britânico é melhor. - disse, convencida, e aproximei-me dele. - Cientificamente. - repeti lentamente, olhando-o nos olhos e sorrindo de forma inocente.

Suspirei dramaticamente quando ela me tirou o pano da mão - O meu sotaque é muito bonito e tu sabes disso. Ficas maluca com ele. - provoquei com um meio sorriso nos lábios - Sabemos perfeitamente que tens um enorme fetiche por mim. - relembrei-a da nossa conversa anterior - Cientificamente né? - levei as minhas mãos à sua cintura e virei-a novamente em direção à bancada - Vê lá se não estragas este nosso maravilhoso chá inglês.

Ri-me do quão convencido Wade era. O sotaque dele poderia ser bonito, mas eu não iria ceder tão facilmente, só para ele ter o ego ainda mais inflamado. 
- Eu? Maluca com o teu sotaque? - repeti as suas palavras e abanei a cabeça, ainda a rir-me. - Tu andas mesmo num mundo de realidades inversas, Wade Hill. - provoquei-o, divertida.
Revirei os olhos quando senti as suas mãos na minha cintura e ele me virou em direção à bancada.
- És muito apressado. - brinquei, desligando a chaleira da tomada e virando um pouco do líquido nas duas canecas que alinhara previamente.

- Por favor. Ambos sabemos e já discutimos o teu fetiche por mim. - brinquei enquanto me recostava na cadeira e espera por ela e pelo chá - Estou com fome. - queixei-me - E tu nunca mais despachas esse chá.

Semicerrei os olhos e virei-me para ele, estendendo-lhe uma das chávenas de chá.
- Para de ser tão impaciente e convencido. É por isso que estás solteiro. - brinquei com ele.
Peguei na minha chávena de chá e sentei-me numa das cadeiras, apontando para as bolachas que estava na mesa.
- E, se estás com fome, come. - encolhi os ombros descontraidamente e sorri.

- Estou sozinho porque quero. - deitei-lhe a língua de fora - Há coisas mais importantes que namoradas. - lancei-lhe um olhar provocador - Mas estás a oferecer-te? - perguntei tentando não rir - Vê lá. Sempre tão simpática para os convidados.

Arqueei a sobrancelha enquanto o olhava e depois encolhi os ombros.
- É agora que me revelas que és gay? - brinquei com ele. - É que se assim for, nem vale a pena tentar. - ri-me.
Abanei a cabeça e sorri de forma inocente, fazendo-lhe uma careta infantil logo depois.
- Eu sou uma simpatia de pessoa. - concordei com ele, mesmo que Wade estivesse a ser irónico. - É por isso que tenho uma enorme fila de pretendentes à porta. - encolhi os ombros.

Abanei a cabeça - Não sou gay mas qual é o problema se fosse? - lancei-lhe um olhar mas acabei mesmo por sorrir - Ias ficar tão deprimida se fosse. - provoquei antes de roubar uma bolacha - Tens? Nem os vi, devem ter fugido todos. - provoquei novamente - E podes ter uma fila de pretendentes mas a verdade é que não me largas. - pisquei-lhe o olho.

Arqueei o sobrolho com a sua pergunta e abanei a cabeça. Não queria que ele pensasse que eu era homofóbica nem nada que se parecessse.
- Nenhum problema. Muito pelo contrário. - olhei-o seriamente, para ele ver que eu não estava a brincar ou a dizer aquilo para cair nas suas boas graças. - Na verdade, eu tenho dois pais. - confidenciei-lhe, encolhendo os ombros descontraidamente.
Semicerrei os olhos.
- Não os viste porque eles são ninjas. Escondem-se sempre para não chamarem ainda mais à atenção para a minha beleza. - ironizei.
Dei-lhe um leve murro no braço.
- Tu é que não me largas. - acusei.

- Já tinha percebido. - disse bebericando o meu chá - Ai sim? - perguntei irónico - Que grandes admiradores ninjas que tu arranjaste para ali. - gozei com ela antes de roubar uma nova bolacha - Eu?! Claro, agora a culpa é minha. - abanei a cabeça.

Abanei a cabeça, incrédula.
- Como? - arqueei o sobrolho. - Quer dizer, como é que já tinhas percebido? - reformulei, bebericando o meu chá.
Assenti calmamente.
- Sim. Eles são um bom partido. - sorri, fazendo uma careta logo depois. Se eles ao menos existissem... 
- A culpa é sempre tu. - pisquei-lhe o olho e comi uma bolacha.
Olhei rapidamente para o relógio na parede, constatando que já passava um pouco da uma da manhã. Era incrível como o tempo passava tão rápido.

Encolhi os ombros - Já tinhas falado sobre isso. - respondi-lhe - Nunca adiantaste muito mas já comentaste o assunto. - relembrei-a - Isto até que é um bom lanche. - elogiei com um meio sorriso - Estou admirado com os teus dotes.

Assenti levemente e encolhi os ombros.
- Não me lembrava disso. Desculpa. - fiz uma pequena careta. - Amanhã deves cruzar-te com eles por aí, quando cá chegarem. - encolhi os ombros descontraidamente.
Ri-me quando elogiou o meu lanche e bebi o resto do meu chá, comendo mais uma bolacha.
- Tendo em conta a hora, penso que é muito mais que um lanche. - comentei, divertida, apontando para o relógio.

Olhei para ela com um meio sorriso nos lábios - Devo cruzar-me com eles? - repeti - Isso quer dizer que me queres por aqui? - perguntei divertido. Olhei para as horas e encolhi os ombros - Vá, uma ceia. - corrigi com um revirar de olhos - És tão certinha.

Abanei a cabeça.
- Wade Hill, és meu vizinho. Assim como te cruzas comigo, irás cruzar-te com eles. Da maneira que eles são, recusam-se a deixar-me aqui sozinha e são bem capazes de ficar uns meses, se acharem que eu estou a precisar. - fiz uma careta que, apesar de tudo, era carinhosa. Eu adorava os meus pais e considerava-me uma sortuda. - Com sorte, obrigam os meus irmãos a vir também, e acabo com a família toda aqui. - ri-me.
Assenti quando ele falou em ceia e logo revirei os olhos.
- Qual é o problema de ser certinha? - semicerrei os olhos na sua direção.

Sorri ao imaginar aquela situação. Já gostava dos pais dela. Juntei as sobrancelhas - Tens irmãos? Isso não sabia. - não fazia a menor ideia daquilo - Nunca me falaste deles. - comentei realmente interessado - E não há problema nenhum. - comentei sorridente.

Sorri e assenti.
- Sim. Um dos meus pais veio de uma família enorme. Se visses a quantidade de tios que eu tenho, só da parte dele, compreenderias. - ri-me. - Tenho um irmão mais velho que eu dois anos. Chama-se Andrew. O meu irmão mais novo chama-se Nathaniel. - encolhi os ombros levemente. - Sou a única rapariga ali no meio, então até o Nate acha que tem que ser todo protetor. - fiz uma careta.
Assenti, satisfeita com a sua resposta.
- Acho bem que não haja problema. É que sabes lá se não acabarás com alguém pior que eu. Depois quero ver-te a fazer queixinhas. - brinquei com ele.