Entrada

Olhei para Wade e abanei a cabeça lentamente.
- Não. Só volta amanhã. Pelo menos foi o que me disse de manhã, mas vai na volta e fica mais tempo. - encolhi os ombros descontraidamente e olhei para o sofá, arqueando o sobrolho ao ver um gato ali deitado. - Acho que descobri a origem. - murmurei, aproximando-me do sofá e pegando no gato com cuidado, temendo assustá-lo.

Tentei não me mostrar demasiado feliz com a resposta dela; não que preferisse que ela estivesse ali sozinha mas se estivesse sozinha ao menos não me tinha de preocupar que o outro lhe andasse a bater ou a fazer o que fosse. Olhei por cima do meu ombro para a porta aberta do apartamento dela e a minha que também tinha ficado aberta mas rapidamente me foquei novamente no interior, até ela dar pela origem de toda aquela confusão - Deve ter entrado pela janela. - constatei acendendo as luzes - Acho que nunca o vi por aqui.

Assenti quando Wade disse que o gato deve de ter entrado pela janela e observei o pequeno animal, constatando que ele ainda era muito pequeno. Tão fofo.
- É pequenino. - comentei num tom de voz baixo, fazendo miminhos no gato, sem desviar o olhar do pequeno animal.

Dei por mim a sorrir ao ver o entusiasmo com que a Daisy pegava no gato e estava prestes a oferecer-me para a ajudar com ele quando me lembrei que nós já não éramos assim. E que a Petra continuava em minha casa à minha espera - Bem... Como afinal não é preciso espancar nenhum intruso, tenho de ir. - aquilo era estranho - Se precisares de alguma coisa sabes onde me encontrar.

Levantei o olhar finalmente, engolindo em seco e assentindo, sem saber bem como agir com ele.
- Hm, sim, claro. Vai. Tens a tua amiga à tua espera. - murmurei, voltando a olhar para o gato, que ronronava, todo feliz. - As mesmas palavras servem para ti. - acabei por dizer pela sua última afirmação e suspirei, pousando o animal no sofá novamente. - Eu levo-te à porta. - ofereci-me, caminhando na sua direção, sem o olhar diretamente nos olhos.

Queria explicar-lhe que apesar de ter um passado com a Petra não a via há anos e nem esperava tê-la ali mas a verdade é que não lhe devia explicação nenhuma e por isso limitei-me a pressionar os lábios e assentir com a cabeça - Certo. - encolhi ligeiramente os ombros e segui-a até à porta - Vais ficar com ele? - perguntei fazendo festas atrás das orelhas do gato bebé.

Mordi o interior da bochecha nervosamente. Com tanto alarido por causa do vaso partido, a porta continuava completamente aberta.
- Com...? - perguntei, confusa, pensando, por momentos, que ele estava a falar de Joe. - Oh. - abanei a cabeça quando me apercebi que ele estava a falar do gato. - Não sei. Talvez. Não sei. - fiz uma careta. - Se não poder, eu tento arranjar alguém que possa. - tentei descansá-lo.

A pausa dela fez-me perceber o segundo sentido daquela minha pergunta. Com ele era mais do que evidente que ela ia ficar afinal ele tinha-lhe batido e ali continuava ela, estava mesmo a falar do gato. Assenti novamente com a cabeça e deixei cair a mão - Certo. Vou andando. - repeti sem grande vontade - Qualquer coisa já sabes. - acrescentei.

Olhei para Wade e assenti novamente. Parecíamos dois indecisos junto à porta, com ele a dizer que ia embora, sem se mexer para o fazer.
- Igualmente. - repeti, mordiscando o lábio inferior nervosamente.
Queria dizer-lhe tanta coisa. Dizer-lhe que tinha saudades de passar tempo com ele, principalmente, e que agora tudo estava bem. Dentro dos possíveis. Mas ele agora tinha uma amiga. Eu já não tinha muito espaço na vida dele, e ele não parecia muito interessado, ou teria falado comigo durante todo aquele tempo.

Semicerrei os olhos com a sua teimosia e saí do carro, caminhando calmamente pelo passeio.
- Wade, chega. - resmunguei baixinho, abanando a cabeça. - Eu tenho razão e, mesmo que agora digas o contrário, eu continuarei a ter razão. - avisei, apontando-lhe o dedo e fazendo um sorriso inocente.

Continuei a abanar a cabeça enquanto a ouvia - Estás tão enganada. E quando perceberes o quão enganada estás vais pedir o meu perdão. - dei-lhe um encontrão sem força com o ombro - Como é que te sentes?

Revirei os olhos e esfreguei o braço onde ele me tinha dado um leve encontrão, fingindo que doera.
- Chateada contigo e com dores. - brinquei com ele. - Quase que me fazias cair com toda a tua força. - continuei no mesmo tom.

- Estás assim tão fraquinha? - meti-me com ela com um meio sorriso nos lábios - E eu estou muito forte, está visto. - disse continuando a andar ao seu lado até à entrada do prédio - Mas a sério, como te sentes? - perguntei preocupado.

Revirei os olhos e dei-lhe um pequeno murro sem força alguma no braço, em jeito de brincadeira.
- Estou a sentir-me bem, oh senhor doutor. - gozei com ele. - Onde é que está o seu documento de identificação? - continuei no mesmo tom. - E a sua bata branca? - ri-me, parando em frente a ele e virando-me na sua direção. - É que não consigo ver.

- Ainda bem. - disse caminhando com as mãos nos bolsos - Goza goza. Era melhor não querer saber e deixar-te ai a morrer né? - perguntei-lhe olhando-a de sobrancelhas juntas e rapidamente sorri - Mas espera. Estás a falar-me do fetiche que tens comigo? Como médico? - perguntei rindo.

- Obrigada por me salvares. - brinquei com ele.
Comecei a rir-me assim que ele começou a perguntar se aquele era o fetiche que eu tinha com ele, abanando a cabeça e tentando respirar em condições, enquanto as gargalhadas tomavam conta de mim.
- Tu não disseste isso! - disse alto, quando me consegui controlar um bocado, dando-lhe um pequeno murrinho no peito, sem força. - Oh meu Deus! - continuei a rir-me. - O que te faz querer que eu andei a pensar tanto em ti que até tenho algum fetiche? - gozei com ele.

- De nada. - disse com um meio sorriso - Eu?! Agora a culpa é minha? Por favor. - bufei para o ar enquanto a olhava - Tu é que não te calas comigo de bata branca a ser o teu médico e agora a culpa é minha? - perguntei de sobrancelhas juntas - Tu é que começaste.

Semicerrei os olhos na sua direção, controlando a minha vontade de continuar a rir, e apontei-lhe o dedo, tocando com o mesmo no seu peito.
- Tu é que falaste em fetiches. Eu só ironizei a tua preocupação. - revirei os olhos. - Não te aches tanto, Hill. Quanto mais sobes, maior é a queda. - brinquei, divertida.

Olhei para baixo ao senti-la a tocar no meu peito e voltei a olhá-la com um meio sorriso nos lábios - Muito bem... então tens um fetiche comigo vestido de médico e não consegues parar de me tocar. - disse divertido - E a culpa é minha! É preciso ter lada Stylinson.

Afastei a minha mão e revirei os olhos, abanando a cabeça logo depois.
- Quem te dera. - disse com um encolher de ombros e um sorriso inocente, virando-lhe costas. - Andas a sonhar com isso desde o dia em que me conheceste, aposto. - gozei com ele, sem o olhar, recomeçando a caminhar pelo passeio.

- Desculpa lá mas se há alguém a sonhar com alguém já se tornou evidente que és tu a sonhar comigo. - disse divertido enquanto a seguia para o interior do prédio e aproveitei para ver o correio já que ainda não o tinha feito naquele dia - E já não vale a pena tentares esconder porque já se tornou evidente.

Abri a porta do prédio para que entrássemos, abanando a cabeça enquanto o ouvia a dizer coisas só para me contradizer.
- E quais são os teus argumentos para defenderes tal ideia? - perguntei-lhe, curiosa, aproveitando também para ver a caixa de correio, tirando todos os envelopes de lá, sem realmente lhes dar muita atenção ainda. - Preciso de justificações factuais, já agora. - avisei, fechando a caixa e olhando para Wade.

Não tinha correio portanto voltei a fechar a caixa e virei-me novamente para a Daisy - Tu já me deste todas as razões. Tens um fetiche por mim vestido de médico e não paras de me tocar. Ah e o teu gato tem nome em homenagem à minha pessoa. - acrescentei com um meio sorriso - Por isso nem vale a pena tentares fugir.

Abri a boca, incrédula, e voltei a abanar a cabeça, enquanto me ria.
- Portanto, tudo conspirações tuas. Coisas que nunca ouviste saírem da minha boca. - constatei com um sorriso. - Não sabia que eras assim tão convencido, Wade. - fiz uma careta. - Nem todas as raparigas gostam de rapazes com o seu ego superior à sua altura. - provoquei-o, divertida.
Olhei para as cartas que tinha em mãos, encostando-me na parede enquanto as ia passando e vendo se eram para mim ou para Joe. Todas as cartas eram destinadas a mim, como habitual. Pelo menos, foi o que eu pensei até chegar à última carta, vendo o nome de Joe num envelope do que reconheci como sendo o nome de um hotel - The Langhan.
Arqueei o sobrolho e olhei para Wade.
- Segura nisto, por favor. - pedi-lhe, dando-lhe as outras duas ou três cartas.
Abri o envelope, sem conseguir conter o espanto e a curiosidade. Logo tirei os papéis do interior do mesmo, vendo que era um pedido de pagamento pela estadia. Confirmei as datas, estranhando ainda mais, e vi que coincidia com dias em que ele tinha estado ausente, com os amigos.
- Que... - murmurei, sem conseguir acreditar. Especificamente, naqueles papéis, dizia que o quarto tinha sido alugado por duas pessoas, enumerando todos os pedidos e tratamentos que os hóspedes tinham realizado, assim como o preço de cada coisa. A lista finalizava no preço total, uma quantia que me fez arregalar ainda mais os olhos, em choque.

- Não disseste mas demonstraste. - insisti com um meio sorriso nos lábios. Juntei as sobrancelhas e agarrei nas cartas que ela me estendia enquanto abria uma - Que se passa? - perguntei confuso ao ver a sua expressão depois de ler a carta.