Museum of Contemporary Art

Juntei as sobrancelhas ao ouvir o que o Aaron disse, principalmente a parte do comentário da mãe dele sobre "pessoas especiais". Estava prestes a dizer que não era exatamente isso que a mãe dele queria dizer quando ele disse que eu encaixava nessas pessoas especiais mas decidi que isso não importava e limitei-me a sorrir - Fico feliz por achares isso. - disse sinceramente e tomei nota mental que a mãe do Aaron devia ser uma maravilha. Saí do carro e tranquei o mesmo. Começámos a caminhar até à entrada do museu que hoje tinha entrada gratuita.

Segui-a até à entrada, fazendo uma careta ao ver a quantidade de carros que estavam no parque de estacionamento, o que queria dizer que não havia tão poucas pessoas quanto pensara. - Aceitaste algum trabalho? - Perguntei, lembrando-me que ela tinha dito que ia tentar arranjar alguns trabalhos como modelo para conseguir dinheiro. Olhei em volta à medida que entrámos, sorrindo ao ver todas as cores e todos os objetos que existiam à minha volta, tentando olhar atentamente para cada um deles.

Mal entrámos o meu olhar parou nas várias obras ali expostas. Para ser sincera não era grande apreciadora de museus mas também não me importava de visitar um, especialmente um daquele género. Desviei o olhar de uma das pinturas para o Aaron quando o voltei a ouvir e assenti com a cabeça - Tenho aceitado alguns dos trabalhos que me tinham proposto. - respondi com um sorriso - Nada de especial mas sempre dá para juntar algum dinheiro e ficar com mais experiência.

-O meu irmão também não pára, mas acho que ele não tenta muito. - Admiti, com os olhos fixos no quadro à minha frente. Eu gostava de quadros, mas o que me fascinava de verdade eram as estátuas, algo que não sabia fazer, mas que queria tentar. - Vocês podiam tentar fazer alguma sessão juntos. Sugeri, apesar de não ter ideia de como é que as coisas funcionavam no sistema dos modelos. Parei, quando bati de frente com uma estátua de uma mulher nua. - Um dia, queres fazer de modelo para uma das minhas pinturas? Eu estou a tentar fazer vários estilos e um deles-- - voltei a calar-me, sentindo-me aquecer ao pensar duas vezes do que estava a pedir-lhe. Eu não podia pedir-lhe para pousar nua.

Assenti com a cabeça; apesar de nunca ter trabalhado com o Axel já tinha ouvido vários comentários sobre ele na sala da maquilhagem e dos cabelos - Quem sabe. - encolhi os ombros quando ele sugeriu que eu e o Axel fizessemos uma sessão juntos, acho que já tínhamos estado mais longe de isso poder vir a acontecer. Estaquei quando o Aaron foi contra uma das estátuas, preocuopada que ele se tivesse magoado mas ele começou logo a falar por isso percebi que estava bem e juntei as sobrancelhas ao ouvi-lo - Estás a tentar convidar-me para pousar nua para ti? - perguntei e recebi o olhar chocado de uma velhota que acabava de passar por nós - É arte. - respondi-lhe com um revirar de olhos.

Mordi o lábio inferior, enfiando uma mão no bolso, para parar de a esfregar nas calças - o meu tique nervoso - e assenti, com o olhar preso na sua cara, mas sem a fitar de verdade. - Sim, mas eu não quero ofender-te. - Apressei-me a dizer, vendo uma senhora passar, para quem Olivia tinha reclamado a dizer que era arte. Sorri ligeiramente, percebendo que não tinha ficado chateada. - Eu sei que mostrar o corpo é estranho e constrangedor para as pessoas.

A mulher continuou o seu caminho sem dizer nada e revirei os olhos uma vez mais antes de olhar novamente para o Aaron - Não me ofendes. - disse-lhe com um encolher de ombros - És um artista e bem eu sou modelo por isso até somos o par ideal. - brinquei mostrando-lhe um sorriso - E eu estou habituada a mostrar o corpo e também não me importo de o fazer. - não podia estar mais à vontade com o meu corpo por isso para mim aquilo não era problema nenhum - Depois combinamos isso. - sorri-lhe novamente antes de continuar a caminhar pelo longo corredor.

Sorri, cruzando os braços ao peito, antes de me virar para o lado do museu onde não tínhamos estado e continuar a andar. - Sim, pois somos. Tu és bonita e eu sei desenhar bem. - Não consegui evitar um sorriso rasgado, mesmo sabendo que os meus pais não iam gostar da brincadeira. - Combinamos. - Assenti, voltando a focar a minha atenção nas outras obras que ainda não tinha visto. - Não gostas disto, pois não? - Perguntei, anda a observar o papagaio de madeira preso ao chão; era tão triste que quase me metia triste.

Ele estava mesmo entusiasmado com a ideia e era engraçado - e adorável - vê-lo assim. E saber que eu o metia assim quando ele era tão... peculiar. Sorri e assenti com a cabeça - Depois combinamos. - repeti. Fui olhando para as várias pinturas e estátuas em exposição mas a realidade é que aquilo não me entusiasmava tanto como ao Aaron. Levantei o olhar para ele e encolhi os ombros - Isto é estranho. - constatei olhando para o que ele estava a olhar - E confesso, gosto mais de pinturas que deste tipo de coisas.

-É por isso que gosto de arte, pode ser estranha e significar outras tantas coisas. - Murmurei. - Arte é aquilo que nos fazer sentir quando olhamos para a obra. Mas requer prática e pensamento. - Fitei-a, sem realmente a observar. - Saber estas coisas ajudou-me muito, para perceber o resto do mundo. - Admiti, virando-me para o lado oposto, onde já estavam mais quadros. - Faz-nos pensar. - Terminei o meu devaneio, com um meio sorriso nos lábios. - Apetece-me um gelado. - Acabei por dizer enquanto observava uma grande gosma cor de rosa pintada numa tela.

Assenti com a cabeça enquanto o ouvia, deixando-me estar calada enquanto ele expressava o seu pensamento. Continuei a caminhar ao lado dele pelos corredores cobertos de arte e juntei as sobrancelhas quando ele disse que lhe apetecia um gelado mesmo à frente de um quadro estranho - Espero que nao tenha sido o quadro a dar-te a vontade. - brinquei - Hmm podemos ir à gelataria que não fica muito longe daqui ou então ali no jardim de certeza que há alguém a vender gelados com este calor. O que preferes?

Era estranho estar com outra pessoa que não fosse o meu irmão, era ainda mais estranho ser esta pessoa uma rapariga. Eu não era falador o suficiente, não gostava de contacto o suficiente e não compreendia o suficiente, era o que me diziam sempre. Mas com ela era mais fácil e eu gostava da sua companhia. Até porque ela não era daquelas raparigas que se agarram logo aos rapazes, como já vi muitas a fazer o mesmo ao meu irmão. Por isso, não me importei de andar na direção da saída do museu, avaliando as restantes obras, porque eu sabia que aquela não era a sua praia, e só tinha vindo porque sabia que gostava.
-Por acaso até foi. - Sorri. - Parque.

Caminhámos em direção à saída do museu e sinceramente já não prestei grande atenção ao resto das pinturas e esculturas mas sabia que o Aaron gostava daquilo por isso caminhei lentamente para lhe dar tempo de ver o que ainda faltava - Vamos ao parque então. - disse-lhe com um sorriso - Como é que tens estado estes dias? - perguntei-lhe e juntei as sobrancelhas quando percebi - Cheguei agora à conclusão que sei que tens alguma coisa mas ainda não sei o que é. - olhei-o e acrescentei - Afinal conhecemo-nos no hospital.

-Bem. - Apressei-me a responder. - Tenho andado a pintar, mas-- - Calei-me quando ela continuou a falar e juntei as sobrancelhas ao perceber o que ela me estava a perguntar. Engoli em seco, não gostei da sensação que apareceu no meu peito, mas soube que significava que tinha medo, receio que ela se afastasse assim que lhe explicasse. Fiquei calado até chegarmos ao parque do outro lado da estrada. - Tenho síndrome de asperger, transtorno de asperger, como quiseres chamar. O que faz com que seja inapto na interação com as pessoas. Os meus pais descobriram quando eu comecei a ter uma obsessão de arrumar tudo por cores, brincar sozinho e fazer birras mais severas que os outros miúdos. - Mordi o lábio inferior, tentando não me recordar dos comentários dos meus pais em relação a mim. - É por isso que sou estranho, mas não é por isso que estive internado.

Fiquei em silêncio enquanto o ouvia explicar-me a sua doença e juntei as sobrancelhas quando ele disse que era "inapto na interação com pessoas" o que explicava muito do seu comportamento mas ainda assim, ele não era tão inapto quanto isso já que ali estávamos nós, a ter conversas estranhas mas ligeiramente "normais" - Porque é que ficaste internado? - perguntei curiosa com aquele seu último comentário.