Casa

-Eu sei, mas foste rude. - Expliquei, desviando o olhar para a televisão. Toda a gente tinha desligado completamente do filme, eu incluído. Sentei-me, com medo de o estar a magoar, e encolhi-me num canto, com os pés dele em cima das minhas pernas. - Não tenho mais nenhuma. - Ri-me, mas acabei por encolher os ombros. - Estou a brincar, mas não és assim tão mau.

- Eu sou rude. - disse em resposta, acabei por tirar os meus pés de cima das pernas dele e sentei-me no sofá, como estava antes para não o estar a chatear. - Oh... não estás nada a brincar. - encolhi os ombros. - Mas ainda assim, podias preferir passar o tempo sozinho se eu fosse uma má companhia. - constatei.

Soltei uma gargalhada seca ao ouvi-lo - Nem por isso. - encolhi os ombros e dei uma nova baforada no cigarro - Passei este tempo todo a pensar em tomar comprimidos, nem sei como é que me consegui controlar durante todo este tempo. - pelo menos a nicotina estava a conseguir acalmar-me e fazer esquecer os comprimidos. Olhei por cima do meu ombro quando ouvi a sua pergunta sobre o Ben - O Ben gosta de toda a gente. Ele é adorável.

Cruzei as pernas à chinês quando ele tirou as dele de cima das minhas, e encostei as costas às almofadas, levantando as sobrancelhas quando ele disse que eu não estava a brincar. - Eu não estou a brincar, quer dizer... os amigos que eu tinha já não existem e a minha irmã é a única companhia que tenho ultimamente, mas eu gosto da tua companhia. - Encolhi os ombros.

-Mas não os tomaste. - Expliquei. - Acho que faz sentido estares a pensar neles e querer tomá-los, porque queres tomá-los. - Fiz uma careta para mim próprio. - Mas ainda não cedeste, acho que isso é bom... - O dia já ia tão longo que eu nem sabia mais o que é que era bom e o que era mau. Sorri ligeiramente ao ouvi-la a falar de Benjamin e assenti. - Às vezes, ele não parece gostar de mim. - Mordi o lábio. - Ralhou comigo por ter dito que nunca ia acontecer nada entre nós.

Voltei a encolher os ombros e mordisquei o lábio inferior - Mas isso não quer dizer que não vá para o quarto e os tome. - o que era bastante provável agora que pensava nisso, uma vez que só tinha evitado tomar alguma coisa todo este tempo por causa da distância a que o meu quarto ficava. Sentei-me mas continuei com o cigarro fora da janela de forma a evitar que aquele espaço ficasse a cheirar a tabaco - O Ben é muito protetor. - disse sorrindo.

-É por causa disso que eu disse que está tudo nas suas mãos. - Sorri ligeiramente, sabendo muito bem que ela podia não resistir. Juntei as sobrancelhas, querendo afastar os pensamentos da minha cabeça, mas não consegui. - Eu... só não queria que te magoasses a ti própria. - Murmurei, pressionando os lábios um no outro depois de acabar o cigarro.

- Eu sei. - apaguei a ponta do cigarro no cinzeiro e deixei-o ficar no mesmo. Recostei-me nas almofadas e olhei para o Aaron - Porque é que dizes isso? - perguntei de sobrancelhas juntas, afastando o olhar apenas para procurar pelas minhas pastilhas, que também escondia ali, e levar uma à boca - Queres?

Assenti levemente com a cabeça ao que ele disse. - Ainda bem então. - disse e sorri-lhe levemente. - Tira esse filme, já estou farto. - bufei para o ar, peguei no comando e mudei para um outro canal qualquer que não estivesse a dar desenhos animados. Olhei em seguida para a zona da varanda. - Será que eles já estão melhores? - perguntei.

-Porque tudo o que as pessoas sabem fazer é destruir-se a si mesmas. - Murmurei, desviando o olhar para os meus pés. Se houve alguma coisa que eu aprendi ao longo do tempo foi isso: que os seres humanos magoam-se a si próprios, e que se responsabilizam com outra coisa, que não tem culpa das ações que o próprio tem sobre si mesmo. Voltei a sorrir a Olivia, tirando uma das pastilhas que me estava a oferecer. - Eu gosto de estar aqui.

Revirei os olhos quando Axel me mandou mudar o filme, mas acabou por ser ele a fazê-lo, e voltei a esticar as pernas, deitando a cabeça confortavelmente na almofada. - Não sei, provavelmente o Aaron não tem com o que se preocupar, às vezes a Liv fica mal humorada, mas acaba por lhe passar. - Como era óbvio, não lhe ia dizer o porquê dela ficar mal humorada. Mordisquei o lábio inferior, fitando a televisão por alguns segundos, até me lembrar dos momentos antes de ter adormecido. - Tu contaste-me mesmo uma história. - Soltei uma gargalhada. - Tão querido, Axel. Ainda dizes que és rude. - Provoquei.

- Então parece que isso é algo que nenhum de nós pode mudar. - disse pensativa com um ligeiro encolher de ombros. Guardei as pastilhas depois de o Aaron tirar também uma e sorri ao ouvi-lo - Nunca estiveste aqui muitas vezes. - recordei-o - Mas fico feliz por achares isso.

- Ainda bem, eles estão a dar-se bem e isso é bom. - encolhi os ombros e ajeitei-me melhor no sofá, ficando por uns momentos com os meus olhos postos na televisão. - O quê?? - virei o meu rosto para ele e semicerrei os olhos. - Cala-te! Esquece isso e faz de conta que eu não fiz nada. - disse rapidamente e bati com a mão na testa. - Porque é que eu não fiquei calado? Até pensei que nem te ias lembrar disso...

Levei uma mão à boca para parar de soltar gargalhadas, mas foi impossível quando ele pareceu ficar com vergonha. - Não te preocupes, esquecer não vai ser problema, mas enquanto me lembro vou ter que falar do assunto. - Abanei a cabeça. - Ainda bem que não ficaste calado. - Acabei por dizer, num tom mais sério. - Se ainda estivesse acordado ia dar em louco e arrancar-te os olhos.

Só consegui encolher os ombros face à sua resposta. Eu estava longe de ser diferente, mas não nos percebia e isso irritava-me.
Sorri, levantando-me para ficar à janela e observar a vista à nossa volta. Já era de noite, eu devia ir para casa, mas a parte que não queria sair dali foi mais forte. - Estive duas vezes, mas eu aprendi que gosto de estar perto de vocês. - Sorri ligeiramente. -Só vocês, eu não gosto das outras pessoas.

- Vais falar do assunto? Espero que só a mim, dispenso que mais alguém saiba disso. Que vergonha, isso não é nada algo que eu faça. - abanei a cabeça enquanto falava aquilo e suspirei de forma pouco audível. - Vê bem o que eu fiz por ti, devo ser mesmo boa pessoa e não o sei. - acabei por me rir baixinho. - Não fazias nada isso, eu fugia antes de fazeres o que quer que fosse.

-Vou contar ao teu irmão para ele saber o que o mano faz pelas pessoas. - Ri-me baixinho. A minha cabeça começava a doer, tinha dormido duas horas mas não era nada comparado às que devia dormir por dia para conseguir descansar. - És tão otário por pensares que és má pessoa. - Revirei os olhos. - Não percebo porque é que pensas nisso, mas já deste provas que não és. - Encolhi os ombros, sem me alongar muito para não tornar a conversa estranha. - Fugias? Que macho, Axel.

- Não vais nada contar. - semicerrei os olhos e peguei numa almofada atirando a mesma contra ele. - Se contas nunca mais faço nada "querido". - encolhi os ombros e pousei a minha cabeça contra as costas do sofá. - Hm, ainda bem que achas isso, sendo assim. - murmurei apenas sem saber o que mais dizer em relação àquilo. Não me achava boa pessoa, mas também não sabia bem o porquê de não achar isso. - E sou, só não ia deixar que me matasses e ficar quieto.

Mantive o meu olhar fixo na vista que tínhamos dali. A noite tornava as coisas muito mais bonitas com todas as luzes acesas e o ar tranquilo do mar. Sorri e desviei o olhar na direção do Aaron - Fico contente por saber disso. - encostei a cabeça ao vidro e fechei os olhos ao sentir o ar frio a bater-me na cara - Acho que o teu irmão também gosta. - disse olhando por cima do ombro.

Fiz uma pireta a Axel quando ele começou a resmungar e a ameaçar não fazer mais nada "querido". - E és? Será? - Perguntei com um sorriso provocador. Deixei a cabeça a descansar na almofada e fitei os nossos irmãos da janela, que ainda estavam na varanda. - Estou só a brincar, não devias acreditar em metade das palavras que digo.

Sorri, procurando a direção do seu olhar até encontrar o meu irmão. - O meu irmão gosta da companhia. - Encostei-me à varanda, olhando nervosamente para o meu relógio, e mordisquei o lábio inferior. - Eu tenho que ir, tenho coisas para fazer e está a ficar tarde. - Não podia perder o ritmo do que andava a fazer ou ia ficar ainda mais louco do que já era. - Mas podemos ver-nos amanhã... se quiseres.

Olhei novamente por cima do ombro e assenti - O Ben também gosta. - concordei com um pequeno sorriso nos lábios. Voltei a olhar para o Aaron quando ele disse que estava a ficar tarde e levantei-me - Sim, é melhor irem. - encolhi ligeiramente os ombros - Sim, claro. Podemos combinar alguma coisa. Tens o meu número. E eu tenho o teu.

- Devo ser mais do que tu! - disse a brincar com ele e fiz-lhe uma pequena careta. Olhei também lá para fora apenas por uns momentos e depois voltei a olhar para o Ben assim que falou. - Sim, eu sei que estás a brincar. Mas sabes, como se costuma a dizer "a brincar se dizem as verdades". - sorri para mim por me ter lembrado daquilo que encaixava perfeitamente no que ele estava a dizer.

-Eu ligo-te. - Assenti, apertando inconscientemente o telemóvel que trazia no bolso, e voltei a entrar na sala de estar, observando os nossos irmãos, que estavam a falar de forma divertida. Estarmos todos juntos era estranho, mas eu gostava.
-Axel. - Interrompi Benjamin quando ele começar uma nova frase. - Podemos ir embora? Ainda tenho coisas que quero fazer. - Perguntei.

-Eu também sou muito! - Defendi-me, apesar de não me sentir muito ofendido. Eu era masculino, mas sabia que havia momentos em que me parecia mais com uma flor delicada do que com um... qualquer coisa de homem. Abri a boca para lhe responder, quando Aaron entrou na sala e me interrompeu, para pedir ao irmão para ir embora.