Oficina

Fui atrás dela e acabei por entrar na oficina, parando quando ela voltou a olhar para trás. — Preciso de saber se te sentes melhor. Bateste com a cabeça, lembras-te? Eu posso deixar-te o meu número, e se te sentires pior ligas-me e eu digo-te o que fazer, consoante os sintomas.

— És mais casmurra que certas velhotas de oitenta anos que vão ao hospital. — Resmunguei, respirando fundo depois. — Tens assim tanta vontade de estar em sofrimento? É que uma pessoa normal parava por uns minutos, comia algo e tomava medicação. Mas tu já me pareces ser um bocado masoquista.

Esbocei um sorriso maroto. — Olha que bom. — Apenas disse, voltando a aproximar-me dela. Esperei que acabasse o que estava a fazer e puxei-a ligeiramente, beijando-a de seguida. — Eu também não sou. — Murmurei, passando depois a mão pela sua testa, e olhei-a preocupado. — Cinder...

— E pronto, tudo o que eu faço ou digo é um pecado mortal. — Suspirei, falando para mim mesmo, olhando-a depois. Apesar de me ter empurrado, não me afastei assim tanto de si. Talvez tenha dado meio passo atrás. Achei por bem ignorar a parte do "puta", porque senão vamos estar sempre a espingardar um com o outro. — Estás a arder em febre. Precisas de tomar qualquer coisa rapidamente, antes que ainda desmaies.

— Bem, sou obrigado a concordar com isso, mas não é essa a razão por estar tão quente. — Acabei por rir baixinho e encolhi os ombros. — Joshua. Eu chamo-me Joshua. E se queres que te ajude, tudo bem. Mas pelos vistos não devo saber tanto disto como tu. De certeza.

Gargalhei. — E não sei com certeza. Sei algumas coisas que o meu pai me ensinou quando eu era mais novo, mas nada de especial. Só o básico, praticamenre. — Sorri e suspirei. — Então, o que queres que eu faça? E sim, eu percebi. Não sou tão burro assim. Fazia-te bem rires-te um pouco, ou sorrir pelo menos. Sem ser algo forçado ou sarcástico. — Encolhi os ombros. — Continuo a dizer que tens de tomar algo.

— Não sinto qualquer tipo de dor, mas obrigada pela preocupação. — Afirmei num tom sarcástico, quando me chamou de masoquista indiretamente. — Eu vou deixar isto aqui, caso precises de ajuda e não te queiras enfiar num hospital.— Avisei enquanto pousava um cartão com o contacto. — Mas lá está, tu é que sabes. Já que não sou aqui bem vindo, eu vou-me embora. — Afirmei, virando costas e saindo dali, indo até ao meu carro. Fiquei de frente para o mesmo durante algum tempo, após ter tirado algo do porta-luvas

Acabei por voltar atrás, com uma das mãos bem fechada, e aproximei-me dela quando voltou a aparecer por ali. — Podes só dar-me um copo de água, por favor? Vou embora já a seguir. — Falei calma e lentamente, olhando-a com uma expressão meio sonolenta.

Assustei.me quando ouvi uma voz atrás de mim, vendo que era Joshua - Mas que.. fodasse assustaste.me - resmunguei. respirei fundo e assenti, indo buscar um copo com água - aqui tens - entreguei.lhe o copo

Não disse nada e acabei por abrir ligeiramente a mão, colocando vários comprimidos à boca e depois então bebi a água que me tinha fornecido, devolvendo-lhe o copo de seguida. Tirei o meu telemóvel do bolso e cambaleei ligeiramente, passando discretamente o meu telemóvel pelo seu bolso onde se via demasiado bem que lá estava o seu telemóvel. — Então adeus, Cinder. Até à próxima, se ela existir. — Esbocei um sorriso sarcástico e voltei então para o meu carro.

Tirei a chave do bolso com uma certa dificuldade, e com mais dificuldade ainda lá a consegui engatar na ranhura. O que valia é que tinha a medicação por perto, e nas quantidades em que tomei os sintomas devia passar rápido. Pelo menos assim esperava.
Liguei o carro e comecei a acelerar, esquecendo-me do travão de mão, da mudança, de tudo. Estava pior que certas pessoas na primeira aula. Ri-me da minha figura e lá andei vinte centímetros, fazendo uma travagem brusca a seguir. Suspirei pesadamente e esfreguei os olhos enquanto dizia umas quantas asneiras. Peguei no meu telemóvel e ri-me. Tinha pena de não ver aquela careta dela ao ver que eu lhe tinha metido um desenho mal feito dela, com aquele ar impaciente e à espera do Isles. Eu sabia que aqueles comprimidos todos já não iam ajudar em nada e talvez piorar as coisas, mas pouco me importava.

Amachuquei o papel na mao, deitando.o para o lixo. Como é que uma pessoa tão imatura era enfermeiro ? Aquilo era ridiculo. Ouvi uma guinada na rua e sai o mais rapido possivel, vendo Joshua no meio da estrada dentro do carro a rir que nem um maluco. Dei a volta ao carro e abri.lhe a porta do carro - estás a tentar matar.te ? - perguntei - e que merda de desenho foi aquele ? és assim tão infantil ?

Ignorei-a por completo. Assim que vi que ela largou a porta, puxei-a, fechando-a com força. Tranquei o carro e acenei-lhe, voltando a conduzir. Estava a ir em frente com certeza, mas não via grande coisa da estrada. Foi ao ouvir buzinas que me apercebi que já ia contramão, e virei então, tentando ir para a outra faixa. Mas nem sei o que aconteceu, quando voltei a abrir os olhos já o carro estava parado, outros buzinavam, e quando dei por ela estava o meu automóvel a deitar fumo pelo capô

- Qual karma qual quê.. - Resmunguei, destrancando o carro e tentei abrir a porta depois. - Preciso de sair daqui antes que chegue uma ambulância ou coisa qualquer. - Continuei a falar, mas mais para mim do que para ela. - Eles não me podem ver. Não me podem levar. - Sussurrei, saindo finalmente do carro.